Mandetta prevê pico até julho e reclama de Bolsonaro: ‘Brasileiro não sabe se escuta o ministro ou o presidente’

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Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em nova rota de colisão com Bolsonaro (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, cobrou um discurso unificado entre o ministério e o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), no combate ao novo coronavírus. Em entrevista ao Fantástico nesse domingo (12), Mandetta disse que as atitudes do chefe de Estado têm confundido a população, que não sabe a quem ouvir no momento.

Sem citar o presidente, o ministro ainda criticou atitudes tomadas por Bolsonaro nos últimos dias e disse que a relação entre os dois “preocupa”, já que o Brasil pode viver, nos próximos meses, o período mais crítico da doença.

“A gente imagina que os meses de maio e junho serão os 60 dias mais duros para as cidades. A gente tem diferentes realidades. O Brasil a gente não pode comparar com um país pequeno, como é a Espanha, como é a Itália, a Grécia, Macedônia e até a Inglaterra. Nós somos o próprio continente. Sabemos que serão dias duros. Seja conosco ou qualquer outra pessoa. Maio, junho, em algumas regiões julho… nós teremos dias muito duros”, disse.

Jair Bolsonaro, governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e Mandetta, durante visita ao Hospital de Campanha de Águas Lindas de Goiás (Marcos Corrêa/PR)

Ainda ontem, antes da entrevista do ministro, o presidente disse em live com líderes religiosos, sem apresentar dados ou respaldo científico, que a “questão do vírus” está passando no Brasil, mesmo com o número de mortes subindo, já alcançando a marca de 1,2 mil.

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E esta não é a primeira vez que os dois se desentendem publicamente. Enquanto o presidente minimiza a Covid-19 e pede a volta do comércio e das atividades normais em todo o país, o Ministério da Saúde recomenda o distanciamento social. Esse desentendimento já fez com que a demissão de Mandetta fosse cogitada pelo presidente.

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Questionado sobre a relação com Bolsonaro, Mandetta disse que o momento é de ter um inimigo em comum: o novo coronavírus. “Ela preocupa [relação com o presidente], porque a população olha e fala: ‘mas será que o ministro é contra o presidente?’ Não há ninguém contra nem a favor de nada. O nosso inimigo, o nosso adversário, o nosso problema é o coronavírus. Esse é o nosso adversário, inimigo”, afirmou.

Na sequência, Mandetta cobrou um alinhamento do discurso. “Se eu estou ministro da Saúde, eu estou ministro da Saúde por obra de nomeação do presidente. O presidente olha muito também pelo lado da economia. E chama muito a atenção o lado da economia. O Ministério da Saúde entende a economia, entende a cultura e educação, mas chama pelo lado de equilíbrio de proteção à vida”, afirmou.

“Eu espero que essa validação dos diferentes modelos de enfrentamento dessa situação possa ser comum e que a gente possa ter uma fala única, unificada. Por que isso leva para o brasileiro uma dubiedade: ele não sabe se escuta o ministro da Saúde, se ele escuta o presidente, quem é que ele escuta”, ressaltou.

Indiretas para Bolsonaro

Perguntado sobre as cenas, cada vez mais comuns, de descumprimento das determinações de isolamento em todo o país, com aglomeração de pessoas e aumento da circulação, o ministro classificou as atitudes como equivocadas e alfinetou o presidente Bolsonaro.

“Acho que é um conjunto, somatória, acho que tem muita gente que gosta da internet, que vê na internet alguma fake news dizendo que isso é uma invenção de países para ganharem vantagem econômica. Outras pessoas porque (acham que) existe um complô mundial contra elas. Como se tivesse alguma solução, com passe de mágica e que não precisasse que ninguém fizesse sacrifício”, disse.

“Quando você vê as pessoas entrando em padaria, entrando em supermercado, fazendo filas uma atrás da outra, encostadas, grudadas e pessoas fazendo piquenique em parque, isso é claramente uma coisa equivocada”, destacou.

Na semana passada, Bolsonaro visitou uma padaria no Distrito Federal, na qual tomou um café acompanhado do filho Eduardo Bolsonaro e apoiadores. Na saída, o presidente tirou foto abraçado com algumas pessoas.

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Na mesma semana, o presidente também foi à farmácia, provocando uma aglomeração de apoiadores. Na ocasião, Bolsonaro foi flagrado limpando o nariz e cumprimentando uma idosa.

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No sábado, Bolsonaro e Mandetta foram a Águas Lindas de Goiás, na região de Brasília, acompanhar a construção de um hospital de campanha. Na frente do ministro, Bolsonaro voltou a descumprir as recomendações de saúde, tirando fotos com apoiadores, se aproximando e inclusive teve a mão beijada por uma mulher.

Mesmo na presença do ministro da Saúde, Bolsonaro descumpriu orientações do ministério (Marcos Corrêa/PR)

Ministro fala em lockdown

Quanto ao número de casos da doença no Brasil, o ministro disse que o dimensionamento da pandemia depende do comportamento da população, que precisa respeitar as medidas de isolamento e distanciamento. Durante a fala, Mandetta chegou a citar o lockdown, que é o fechamento total das cidades, como foi adotado em vários países do mundo que vivem surtos da Covid-19.

“Nós não experimentamos no Brasil até agora o lockdown, o fechamento total. Nós estamos com diminuição social, importante, chegamos a ter uma diminuição expressiva, relaxamos, estamos em torno de 50%, 55%. Chegamos a ter 70%. Se cada empresário, se cada setor achar que o dele é essencial e que ele tem que trabalhar, e começar um efeito cascata, tudo é essencial e tem que funcionar, o Ministério da Saúde vai mostrar: ‘olha, essa atividade fez isso aqui com cada uma das cidades’”, afirmou o ministro.

Número de mortes no Brasil

O Ministério da Saúde divulgou, na tarde desse domingo (12), os números atualizados do novo coronavírus. De acordo com a pasta, o número de infectados é de 22.169. Isso representa um aumento de 1.442 casos em relação ao balanço divulgado no sábado (11). A quantidade de mortes chegou a 1.223. A taxa de letalidade do vírus vem crescendo no Brasil e chegou a 5,5%.

A evolução no número de casos notificados, bem como de mortes, oscila. Da última sexta-feira (10) para sábado (11), 68 novas mortes foram confirmadas. Já de ontem para hoje, foram 99 novas mortes. 

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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