Conmebol repudia racismo e promete punições mais severas; relembre casos recentes contra brasileiros

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Só no último mês, houve pelo menos cinco casos de racismo contra brasileiros em jogos da Libertadores (Reprodução/Twitter/@alaniotv + Reprodução/Twitter/@FotosMancha + Reprodução/Twitter/@Flamengo + Reprodução/Twitter/@sccpnet_)

Após os múltiplos casos de racismo contra torcedores brasileiros na Libertadores, a Conmebol emitiu hoje (29) um comunicado oficial de repúdio aos atos discriminatórios, projetando consequências maiores. “A Conmebol vai promover mudanças nos regulamentos para aumentar e endurecer as punições”, diz trecho da nota (íntegra ao fim da matéria). Só nesta semana, aconteceram quatro casos de racismo (detalhes abaixo).

A entidade afirmou que “se compromete também a desenhar e implementar novos programas e ações com o objetivo de encerrar definitivamente este problema do futebol sul-americano”. Nas redes sociais, os torcedores criticaram a entidade, pedindo mais ações imediatas e efetivas – e menos notas de repúdio.

‘Maior severidade’, diz Conmebol

No texto oficial, a entidade garantiu que os recursos atuais permitem punições mais efetivas. “A sensação de anonimato proporcionada pela arena esportiva incentiva os desajustados a terem comportamentos inaceitáveis. Entretanto, isto mudou muito nos últimos anos, pois agora é possível identificar com clareza os infratores e puni-los com maior severidade”, diz o comunicado.

“Estes flagelos não serão superados se não houver um entendimento de que devem ser atacados em todos os âmbitos: educação familiar, escolas e colégios, mídia, organizações civis, mundo empresarial, através de políticas públicas e, certamente, também no esporte”, frisa a entidade (íntegra ao fim da matéria).

Muitos casos em poucos dias

No último mês, foram noticiados comportamentos racistas vindos de argentinos, equatorianos e chilenos contra torcedores dos brasileiros Fortaleza, Palmeiras, Corinthians, Bragantino e Flamengo. O BHAZ relembrou os casos em ordem cronológica.

Durante o jogo da Libertadores entre River Plate e Fortaleza, no último dia 13 em Buenos Aires, um torcedor do River foi gravado mostrando uma banana para a torcida tricolor, com o apoio de outros argentinos ao redor. A Conmebol multou o time com a punição mínima estabelecida pelo Código de Disciplina da entidade, US$ 30 mil (cerca de R$ 150 mil). O torcedor foi suspenso pelo River.

Na partida entre Corinthians e Boca Juniors, em São Paulo, o argentino Leonardo Ponzo foi visto imitando um macaco em direção à torcida do Timão e foi detido ainda no intervalo do jogo da última terça-feira (26). Porém, sua fiança de R$ 3 mil foi paga e ele foi liberado na manhã seguinte (relembre aqui)

No mesmo dia do jogo do Corinthians, torcedores do Bragantino foram alvo de racismo em La Plata na partida contra o Estudiantes. Os argentinos exibiram gestos e expressões racistas. O momento foi filmado e divulgado pelos brasileiros, a fim de repudiar e chamar atenção para o problema. O clube de Bragança Paulista denunciou o caso formalmente.

Um dia depois, na quarta-feira (27), durante o duelo entre Emelec e Palmeiras em Guaiaquil, torcedores do time equatoriano chamaram os palmeirenses de “macacos”. O time paulista se solidarizou com as vítimas e repudiou o caso. O homem infrator e seu time ainda não sofreram punições.

Por fim (por enquanto), o Flamengo veio a público compartilhar imagens de atos racistas cometidos ontem (28) por torcedores da Universidad Católica em direção à torcida rubro-negra em Santiago. Além dos insultos, os chilenos atiraram pedras, garrafas e sinalizadores na arquibancada flamenguista. A Universidad prometeu identificar e punir os infratores com as “maiores sanções possíveis“.

‘Nada de punição’

Nas redes sociais, os fãs de futebol defenderam que a publicação de uma nota de repúdio e a promessa por punições maiores não ajudam a resolver o problema maior do racismo. “A Conmebol faz notinha e nada de punição, é uma várzea mesmo”, criticou uma usuária.

“Consideram e não fazem NADA! Papo furado e tem esquecimento dos atos como sempre. Patéticos”, apontou outro. “Tem que perder pontos e jogar de portões fechado”, sugeriu um torcedor.

Problema estrutural e recorrente

Nos últimos anos, observa-se um aumento no número de denúncias de racismo no Brasil. No estado de São Paulo, um estudo feito pelo Tribunal de Justiça local apontou que o número de casos relacionados a racismo aumentou 746% no estado entre os anos de 2020 e 2021.

No ano passado, Minas Gerais registrou pelo menos um caso de racismo por dia, com aumento percentual de 14,3% em relação a 2020. Os dados são da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MG).

No âmbito esportivo, entre 2016 e 2019, os casos de discriminação (incluindo a racial), aumentaram gradativamente no Brasil. Os dados foram obtidos por estudo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.

Nota da Conmebol

Leia na íntegra o comunicado divulgado pela entidade:

Em vista dos últimos casos de expressões racistas durante os torneios da CONMEBOL, a Confederação Sul-Americana de Futebol manifesta o seguinte:

A CONMEBOL considera ABSOLUTAMENTE INACEITÁVEL qualquer manifestação de racismo e outras formas de violência em seus torneios. Assume e sempre assumirá sua parte de responsabilidade na luta contra todas as formas de discriminação. A luta contra este flagelo ocupa um espaço central nas preocupações e no trabalho da CONMEBOL, o que é evidente nas múltiplas campanhas de conscientização e ações de alcance massivo, assim como na aplicação de penalidades àqueles que incorrem nestas práticas desprezíveis.

A CONMEBOL promoverá mudanças nos regulamentos para AUMENTAR e ENDURECER as penalidades em casos de racismo. Compromete-se também a elaborar e implementar novos programas e ações que visem banir definitivamente este problema do futebol sul-americano.

O futebol é um disseminador único de valores positivos e construtivos na sociedade. Nos campos, nos treinamentos e nas competições, os jogadores de futebol aprendem desde pequenos a respeitar seus adversários e a apreciar suas virtudes, a tolerar os erros de seus colegas de equipe e a ajudá-los a corrigi-los, a trabalhar em equipe e em unidade, a saber que o caminho para a vitória é através do trabalho duro e do sacrifício. A CONMEBOL intensificará o trabalho contra o racismo e outras formas de discriminação nas CATEGORIAS DE BASE.

É preciso ressaltar que o racismo não é um fenômeno que começa e termina com o futebol, que, como espetáculo massivo, torna-se outra área altamente visível onde este e outros vícios sociais podem vir à tona. A sensação de anonimato proporcionada pela arena esportiva incentiva os desajustados a terem comportamentos inaceitáveis. Entretanto, isto mudou muito nos últimos anos, pois agora é possível IDENTIFICAR COM CLAREZA OS INFRATORES E PUNI-LOS COM MAIOR SEVERIDADE.

Estes flagelos não serão superados se não houver um entendimento de que devem ser atacados em todos os âmbitos: na educação familiar, nas escolas e colégios, na mídia, nas organizações civis, no mundo empresarial, através de políticas públicas e, certamente, também no esporte.

A CONMEBOL exorta todos os atores do futebol sul-americano – clubes, federações, mídia e torcidas – a REDOBRAREM OS ESFORÇOS PARA ERRADICAR O RACISMO e outras formas de violência e discriminação e preservar o que é mais valioso em nosso esporte: sua mensagem de companheirismo, esportividade e saudável competição.

Edição: Roberth Costa
Beatriz Kalil Othero[email protected]

Jornalista formada pela UFMG, escreve para o BHAZ desde 2020, e atualmente, é redatora e fotógrafa do Portal. Participou de reportagens premiadas pela CDL/BH em 2021 e 2022, e pela Rede de Rádios Universitárias do Brasil em 2020.

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