Enfermeira desaparecida foi torturada e teve sequestro planejado

Priscila Cardoso da Silva enfermeira
Corpo de Priscila Cardoso tem sinais de tortura e crime sexual, diz polícia (Reprodução)

O corpo da enfermeira Priscila Cardoso da Silva, que estava desaparecida desde a última segunda-feira (15), foi encontrado nesse sábado (20), em uma plantação de eucalipto próxima ao município de Ipaba, na região do Rio Doce. Ela foi sequestrada enquanto saía do trabalho em um posto de saúde de Santana do Paraíso. O autor do crime, de 49 anos, passou por municípios de três estados até ser preso em Guarapari, no Espírito Santo. Ele disse que mantinha um relacionamento com a mulher e decidiu raptá-la para “tentar reatar”, mas a suspeita da polícia é de que essa versão seja uma tentativa de escapar de uma condenação mais dura.

O corpo da enfermeira foi encontrado com sinais de tortura, ossos da perna, braços e mãos quebrados e com outros ferimentos que sugerem que ela tenha sido agredida. “Segundo o próprio, ele a levou a esse local e ela foi de bom grado, voluntariamente. Eu até perguntei: ‘Como voluntariamente se você estava com um revólver apontado para ela?’. Ele disse ‘não, mas a gente é namorado’. Que romantismo é esse de você tentar reatar o relacionamento em um local ermo e com um revólver apontado para ela?”, disse o delegado Alexandro Silveira Caetano, que lidera a investigação, em entrevista coletiva nesta segunda (22).

Ao todo, a operação mobilizou, além das autoridades mineiras, as Polícias Civil e Militar dos estados do Espírito Santo e da Bahia e a Polícia Rodoviária Federal. Isso porque, logo após o sequestro, o homem foi para o município de Teixeira de Freitas (BA), onde deixou o carro da mulher, e, preocupado com a repercussão que o caso ganhou, fugiu para Guarapari (ES). “Neste primeiro momento, a esperança era encontrar a vítima. Tivemos uma frustração de não encontrarmos nem a vítima nem o suspeito, mas encontramos um receptador. O veículo foi localizado com a placa traseira desparafusada e um par de placas pertencente a outro veículo de mesmo modelo e mesma cor”, detalha o delegado.

Sinais de tortura e crime sexual

Quando o homem foi preso, na sexta-feira (19), as autoridades ainda tinham esperança de encontrar a mulher com vida. As expectativas, no entanto, se frustraram logo nas conversas iniciais com o autor, que confirmou o assassinato e indicou o local onde estaria o corpo. “A gente pensou que realmente ele poderia ter mantido ela em cativeiro, apesar de saber que a possibilidade era muito pequena. Mas aí, na madrugada, chegou a confirmação de que ela estaria morta. Ele disse o local onde o corpo estaria e fomos tentar localizar”, conta o delegado.

Ainda segundo Caetano, o corpo foi encontrado com sinais de tortura e agressão. “Tem indícios de tortura, ela teve a perna fraturada, o braço, as mãos e também um dente frontal da arcada superior, sugerindo que ele tenha agredido ela em algum momento. Foram constatadas lesões do fêmur, fratura de dedos de ambas as mãos. Há também uma fratura da parte superior do crânio, que ainda não se sabe se foi da pressão intracraniana de quando houve o disparo ou de uma coronhada”, afirma. Priscila foi morta com um tiro na cabeça.

A polícia investiga ainda a hipótese de crime sexual, já que o corpo da enfermeira foi encontrado com a calça aberta. “Essa possibilidade surgiu agora, só que o fato de a calça estar aberta pode não ser necessariamente devido a violência sexual”, conta Caetano. Segundo o delegado, existe a possibilidade de a calça ter se aberto em um dos processos de decomposição, quando corpo se incha em função da produção de gases. “A gente não pode afirmar e nem negar que tenha ocorrido ou não o crime de natureza sexual ou pelo menos a tentativa”, complementa.

Rota de fuga

Quando o carro da enfermeira foi localizado em Teixeira de Freitas, os policiais ainda não sabiam a identidade do autor. Essa lacuna foi preenchida logo depois, quando uma empresa de ônibus interestadual forneceu uma lista de todos os clientes que compraram passagens partindo do município para Ipatinga. “Pesquisamos essas pessoas e descobrimos que o suspeito era um indivíduo que já possuía passagem por tentativa de latrocínio, por homicídio, de extensa ficha criminal sobretudo referente a delitos violentos”, conta Caetano.

A suspeita da polícia é de que o crime estaria planejado nos mínimos detalhes, mas o homem acabou se preocupando com a repercussão e decidiu não voltar no ônibus. “O plano inicial dele parece que era levar o veículo roubado o mais rápido possível e voltar o mais rápido possível. Então, ele a raptou por volta das 16h, voltaria às 17h, chegaria por volta das 3h e, quando a polícia começasse a suspeitar, ele já estaria em casa, o que seria um álibi muito interessante”, explica o delegado.

‘Não conhecia a vítima’

Para as equipes de investigação, a hipótese mais plausível até agora gira justamente em torno do carro. O homem tentou argumentar que teria um relacionamento com Priscila e que, sem conseguir aceitar o término, resolveu cometer o crime. A polícia, no entanto, não acredita na história. Segundo o delegado Caetano, apesar da versão apresentada, o homem não sabia responder questões simples sobre a mulher, o que é um indício de que eles não tinham o tipo de contato que ele relatou.

“Me parece estapafúrdio, me parece sem nexo com os demais elementos da investigação essa ligação de que ele mantinha um relacionamento com a vítima. Até porque ele sequer soube informar o nome completo, idade e sinais particulares da vítima, como cicatrizes, tatuagens… Não soube informar amigos em comum, contatos em comum, quem sabia, quem não sabia desse suposto relacionamento, não tinha o telefone da vítima e nem de qual operadora era”, detalha o delegado, que também complementa: “Eu suspeito, nesse primeiro momento, que ele não conhecia a vítima, pelo menos não intimamente como ele alega”.

Por isso, os investigadores acreditam que o contato que o homem tinha com a enfermeira era diferente, baseado na vigilância. “É um crime que foi planejado anteriormente. Ele sabia os hábitos da vítima, a hora que ela saía do serviço”, conta Caetano. “Mas quem se relaciona com uma pessoa da forma como ele falou que se relacionou tem algumas informações sobre a pessoa. Ela tinha uma tatuagem na perna que qualquer um que visse ela de bermuda saberia que ela tinha. Agora imagine alguém que se relacionou intimamente não conseguir explicar isso aí?”, questiona.

Estratégia para fugir da condenação

A versão sobre o suposto relacionamento, segundo as autoridades, parece ser uma estratégia para tentar garantir uma condenação mais branda. É que, caso fique provado que a morte da enfermeira tenha sido motivada pelo roubo do carro, o homem será condenado por latrocínio – crime cuja pena mínima é de 20 anos, 8 a mais do que o período mínimo de prisão para quem comete feminicídio.

“Ele fugiu da prisão de Ipaba em 1999 ou 2000, se não me engano, com 32 outros indivíduos. Então, é um camarada versado no crime. Ele já conhece as penas, então ele pode estar tentando sair do latrocínio e colocar como feminicídio e ainda tenta colocar como homicídio culposo”, explica o delegado Caetano.

Além do autor, a polícia também prendeu o dono da oficina que recebeu o carro em Teixeira de Freitas por suspeita de receptação. Os trabalhos de investigação ainda vão continuar para definir se ele deve responder também pelo sequestro da enfermeira.

Edição: Thiago Ricci
Giovanna Fávero[email protected]

Editora no BHAZ desde março de 2023, cargo ocupado também em 2021. Antes, foi repórter também no portal. Foi subeditora no jornal Estado de Minas e participou de reportagens premiadas pela CDL/BH e pelo Sebrae. É formada em Jornalismo pela PUC Minas e pós-graduanda em Comunicação Digital e Redes Sociais pela Una.

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