De seringas a remédios, João XXIII amarga falta de recursos e vira alvo de denúncia: ‘Chocante’

situação precária joão XXIII
Sindicato denunciou situação precária do João XXIII e outros hospitais (Amanda Dias/BHAZ + Reprodução/Whatsapp)

O Hospital João XXIII, um dos principais de Minas Gerais, está em situação de colapso, com falta de materiais básicos para atendimento, medicamentos, leitos desativados e equipamentos danificados. A denúncia foi feita pela Asthemg (Associação Sindical dos Trabalhadores em Hospitais de Minas Gerais), nesta quarta (4). Funcionários da unidade de saúde estão há 50 dias em greve.

A associação também denuncia problemas em outras unidades de saúde como os hospitais Cristiano Machado, o Júlia Kubitschek e também o Eduardo de Menezes. Em nota (veja na íntegra abaixo), a Fhemig (Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais) negou os problemas.

“A direção intervém diretamente nas unidades quando acontecem faltas pontuais, orientando e buscando soluções imediatas para evitar prejuízos à assistência ao paciente”, disse a Fhemig.

A situação dos hospitais foi exposta pelo diretor da Asthemg, Carlos Augusto Martins. Um dos casos mais graves é o João XXIII. “Está faltando cerca de 30 medicamentos. Estamos a cinco dias sem esparadrapo, usando fita crepe improvisado, o que não é o indicado. Está faltando faixas de curativo, agulhas e seringas”, conta.

Sem esparadrapo, funcionários estão utilizando fita crepe improvisada (Reprodução/Whatsapp)

Ainda de acordo com o dirigente, a faixa em falta é usada em machucados e queimaduras. Sem isso, os pacientes correm risco de contrair infecções graves e até mesmo de morrer. “Existem pessoas que estão com o mesmo curativo há mais de dois dias, por falta de material para fazer um novo. É uma situação chocante”, afirma. “Há também a falta de hidrogel, um líquido usado na limpeza de ferimentos infectados, para evitar o aumento da gravidade das lesões”, acrescenta.

Leito fechados

De acordo com o diretor da Asthemg, o João XXIII está com leitos interditados por falta de manutenção no teto do hospital, que cedeu por conta de infiltrações. “Houve infiltração e cerca de quatro leitos do CTI (Centro de Terapia Intensiva) estão parados, sem previsão de volta. Além disso, no setor de poli trauma, três leitos estão parados pelo mesmo motivo”, conta.

“Os pacientes não têm a noção da real situação do hospital. É uma situação que se arrasta há muito tempo, por isso entramos em greve. O governo não responde as demandas e lida como se não tivesse nada com isso. O hospital só não foi fechado até hoje para não dar visibilidade a realidade”, afirma Martins.

Leitos estão desativados por conta de infiltrações no teto do hospital(Reprodução/Whatsapp)

Elevadores em uso indevido

Um vídeo registrado por funcionários do João XXIII mostra que um dos elevadores da unidade está sendo utilizado para o transporte de material infectado – roupas sujas, seringas e faixas, entre outros – e, também, para o transporte de alimentação, o que seria inadequado, diante do risco de intoxicação. “Dois elevadores estão estragados”, diz o diretor.

Outros hospitais

Segundo a associação, outros hospitais estão com problemas. Alguns já estão impactando o atendimento aos usuários, como a unidade de saúde Cristiano Machado, em Sabará, na Grande BH. “O cidadão começa a sentir os efeitos da crise na saúde. O governo cancelou mais de 80 cirurgias eletivas que seriam realizadas no local”, conta.

No hospital Eduardo de Menezes, onde estão pacientes com suspeita do novo coronavírus, funcionários também denunciam condições precárias. Segundo os trabalhadores da unidade, localizada na região do Barreiro, em Belo Horizonte, falta manutenção no local e, até mesmo, o isolamento para as possíveis vítimas da doença é inapropriado. Em janeiro, o BHAZ mostrou a situação do local.

+ Funcionários denunciam precariedade em hospital que recebe casos suspeitos de coronavírus

O hospital Júlia Kubitschek, no Barreiro, também é alvo de críticas por conta da falta de manutenção, problemas na estrutura e até falta de água aquecida e bebedouros que não funcionam. A Fhiemg esclareceu a situação de cada unidade e disse que trabalha para resolver os problemas (veja abaixo).

A Asthemg recorreu à ALMG (Assembleia Legislativa de Minas Gerais) para tentar uma solução para os problemas dos hospitais. Nesta quinta (5), deputados estaduais farão visitas técnicas para checar a situação das unidades de saúde.

Nota da Fhemig

“Em resposta às denúncias alegadas pelo sindicato, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) afirma que não há falta de insumos e itens básicos na rede hospitalar. A direção intervém diretamente nas unidades quando acontecem faltas pontuais, orientando e buscando soluções imediatas para evitar prejuízos à assistência ao paciente.

O Hospital João XXIII está com três elevadores funcionando e não há utilização indevida deles. Os dois elevadores sociais somente transportam pacientes e alimentação, em horários alternados, e, o elevador de carga, materiais que podem contaminar e outros itens. Ao todo, são cinco elevadores. Os outros dois estão em processo de modernização: um está pronto, aguardando peça (20 dias) e o outro iniciou a reforma e ficará pronto em 45 dias.

Não há leitos fechados ou equipamentos defeituosos no Hospital João XXIII. O que ocorre é que, com o movimento grevista, o hospital está sofrendo um impacto assistencial significativo. Por orientação do sindicato, os servidores estão cumprindo a escala, mas não estão exercendo suas funções diárias. Desta forma, não estão viabilizando a transferência de pacientes e estão causando lentidão na realização de exames de procedimentos.

Serviços essenciais, como a Farmácia e a Central de Material Esterilizado (CME) não estão atendendo adequadamente, apesar de possuírem toda a infraestrutura para tal. O bloco cirúrgico do João XXIII tem capacidade de operar em 8 salas, mas alguns servidores de negam a prestar assistência em cirurgias concomitantes. Diante disso, a Fhemig está buscando as medidas administrativas para que haja cumprimento da assistência, afim de minimizar o impacto dessas atitudes.

Hospital Cristiano Machado

O Hospital Cristiano Machado, em Sabará, após parecer do CRM, transferiu as cirurgias eletivas para outro hospital da Rede Fhemig até que a contratação dos anestesistas se conclua. O processo seletivo está aberto na página da Fhemig

Hospital Eduardo de Menezes

O Hospital Eduardo de Menezes está apto a receber pacientes com surtos de doenças infectocontagiosas e, não diferente, casos de pacientes com suspeita de COVID-19 (coronavírus), assim como já atuou em outras ocasiões de surtos no passado.  A unidade está passando por adaptações e possui capacitação e equipe treinada para prestar a assistência necessária.  Os servidores que atuam no hospital recebem treinamentos periodicamente e estão preparados para atender às demandas, visando à segurança, tanto dos pacientes quanto da equipe técnica atuante. A equipe é treinada para atendimento de doenças infectocontagiosas e já existe um protocolo estabelecido pelo Ministério da Saúde e Secretaria de Estado de Saúde para o coronavírus.

Hospital Júlia Kubitschek

O hospital trabalha em um projeto de reestruturação da rede elétrica da unidade, com o objetivo de instalar chuveiros elétricos em todas as enfermarias e solucionar de forma definitiva os problemas relacionados ao aquecimento de água. Porém, como o HJK é uma unidade antiga e extensa, este trabalho demanda um maior prazo.

Quanto aos bebedouros, já está aberta a licitação para a substituição dos filtros e bebedouros antigos da unidade”.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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