MG: Florestas deixam de retirar carbono da atmosfera e viram fonte do gás, diz estudo

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‘As pessoas nunca pensam que as alterações climáticas estão acontecendo do lado delas’, diz professor (FOTO ILUSTRATIVA/Marcello Camargo/EBC)

Nas últimas décadas, florestas de diferentes regiões de Minas Gerais têm tido dificuldades cada vez maiores para cumprir um de seus mais importantes papéis ecológicos: retirar CO2 (gás carbônico ou dióxido de carbono) da atmosfera e, assim, mitigar o aquecimento do planeta.

Em diversos casos, em vez de atuarem como “ralos” de CO2, como seria o normal, tais matas passaram a funcionar como fonte do gás, alimentando um ciclo de emissões de dióxido de carbono que provavelmente já afetava esses ambientes de forma negativa. É algo que está se intensificando principalmente nas áreas florestais mais secas, nas zonas de transição entre a mata atlântica e outros ambientes, como o cerrado e a caatinga.

“As pessoas nunca pensam que as alterações climáticas estão acontecendo do lado delas, no seu entorno, na sua cidade”, diz Rubens Manoel dos Santos, professor da Universidade Federal de Lavras (MG) e um dos autores do estudo. “Parece que é algo que só afeta lugares distantes, como a Amazônia ou a África. Mas o nosso trabalho mostra como isso já é parte do cotidiano.”

Os resultados preocupantes acabam de sair em artigo na revista especializada Science Advances. Santos e seus colegas investigaram 32 áreas diferentes de mata espalhadas pelo território mineiro, num esforço de análise temporal que já acontece desde 1987, dependendo da região- em média, cada local foi analisado durante 15 anos.

Conforme explica Vinícius Andrade Maia, também autor da pesquisa, os vários trechos de floresta pertencem, em sua maioria, à mata atlântica, mas abrangem uma grande diversidade de características físicas (tipos de solo, incidência de chuvas etc.) e vegetais. Há desde matas mais fechadas e úmidas, ditas perenifólias (que não perdem suas folhas na estação seca), até as chamadas semideciduais e deciduais, que perdem parte ou a maioria de sua folhagem nos meses com pouca chuva.

Em situações normais, as florestas costumam sequestrar (retirar) dióxido de carbono do ar conforme as árvores crescem. Isso acontece porque o CO2 é usado como matéria-prima para a construção do organismo das plantas por meio do processo de fotossíntese.

Nos últimos séculos, a proporção desse gás na atmosfera tem aumentado muito por culpa do ser humano, graças à queima de combustíveis fósseis (gasolina e carvão). Grupos conspiracionistas anticientíficos costumam minimizar o problema dizendo que o gás carbônico que está “sobrando” na atmosfera simplesmente ajudaria as florestas a crescer mais rápido, além de favorecer também a agricultura.

O cenário das florestas mineiras deixa claro como essa ideia é simplista e enganosa. Durante as décadas em que as matas foram estudadas, o teor de CO2 na atmosfera não parou de crescer. Ao mesmo tempo, houve flutuações de temperatura e precipitação (chuva) -mais calor e menos chuva ao longo do período, em resumo. Até 2013, houve aumento dos chamados estoques de carbono, ou seja, o dióxido de carbono que era “recolhido” pelas florestas. Dali em diante, a conta foi ficando cada vez menos positiva: as matas passaram a perder mais carbono do que aquele que estavam recolhendo. No fim das contas, o valor líquido (a soma de sequestro e perda de carbono) se tornou negativo para as florestas semideciduais e deciduais: elas viraram fontes de CO2 para a atmosfera.

“O aumento de CO2 no ar não necessariamente vai ser convertido em crescimento. As plantas podem se aclimatar aos novos níveis do gás e não crescer além dos níveis normais”, explica Maia. Além disso, a mudança também pode aumentar a competição por espaço entre as árvores, o que também leva a mais mortalidade entre elas.

Não se pode esquecer, por fim, que as mudanças climáticas também aumentam a probabilidade de eventos extremos, como períodos estendidos de seca ou chuvas muito fortes, os quais acabam provocando mortalidade acentuada e diminuindo o crescimento das árvores. “Ainda é cedo para afirmar quais as causas mais importantes. Precisamos continuar os trabalhos para tentar estabelecer isso”, afirma o pesquisador.

De qualquer modo, os dados reforçam a necessidade de medidas contra a emissão descontrolada de gases do aquecimento global e de proteger ambientes como a mata atlântica, já muito devastada pela expansão agrícola e atividade madeireira.

Folhapress

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