Quem é Ailton Krenak, mineiro e primeiro indígena na Academia Brasileira de Letras

Ailton Krenak
Em março deste ano Krenak tomou posse na cadeira 24 da Academia Mineira de Letras (Wikimedia/Coletivo Garapa)

Com 23 votos, o escritor indígena e ativista ambiental Ailton Krenak foi eleito nessa quinta-feira (5) para a Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele é o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na ABL, assumindo a de número 5, que pertenceu a José Murilo de Carvalho, morto em agosto deste ano.

Disputaram com Krenak a historiadora Mary del Priore e o escritor também indígena Daniel Munduruku, que obtiveram, respectivamente, 12 e quatro votos.

Para o presidente da ABL, Merval Pereira, Krenak é um poeta com “visão de mundo muito própria e apropriada para este momento, em que o mundo está preocupado com o meio ambiente, em que os povos originários lutam por seus direitos. Tudo isso está embutido na vitória de Krenak na Academia. É um indígena que trabalha com a cultura indígena, com a valorização da oralidade”.

Merval Pereira citou o livro Futuro Ancestral, de Krenak, que trata da preservação dos rios como forma de conservar o futuro. “Os rios já estavam aqui antes de a gente chegar. Esta visão da natureza, do homem junto com a natureza, é que a gente está reforçando com esse grande escritor e intelectual indígena”.

A acadêmica Rosiska Darcy classificou a eleição de Krenak como histórica. “Não só para Academia, como para o Brasil, não há melhor substituto para um grande historiador do que a história encarnada, que é o Krenak. Krenak encarna hoje uma parte importante da história do Brasil. Estou muito feliz com a eleição dele”, manifestou a escritora.

A data de posse ainda não foi definida pelo novo imortal da ABL. A escolha é um acerto dele com a ABL.

Academia Mineira de Letras

Em março deste ano Krenak tomou posse na cadeira 24 da Academia Mineira de Letras. O posto já foi ocupado por grandes nomes como Cláudio Brandão, Henrique de Resende, Sylvio Miraglia e Eduardo Almeida Reis.

Na ocasião. o presidente da Academia Mineira de Letras, Rogério Faria Tavares, destacou que a posse de Krenak “é um momento privilegiado para celebrar a potência de sua literatura”.

“Seus livros são traduzidos para vários países, alcançando uma legião imensa de leitores em várias partes do mundo. A trajetória de Ailton Krenak em defesa dos povos originários, de sua cultura e de sua arte é admirável. A sua eleição foi, ainda, um gesto de reverência da Academia Mineira de Letras à inestimável contribuição que os indígenas do Brasil deram e continuam dando ao desenvolvimento da cultura nacional”, disse Tavares.

Quem é Ailton Krenak

Ailton Krenak nasceu em 1953, em Itabirinha, região do vale do rio Doce (MG), território do povo Krenak, um local afetado pela atividade de extração de minério.

Krenak é ativista do movimento socioambiental e de defesa dos direitos indígenas. É comendador da Ordem de Mérito Cultural da Presidência da República e doutor honoris causa pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela Universidade Federal de Juiz de Fora.

Organizou a Aliança dos Povos da Floresta, que reúne comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia e contribuiu para a criação da União das Nações Indígenas (UNI). É coautor da proposta da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) que criou a Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, em 2005, e é membro de seu comitê gestor.

Nas décadas de 1970 e 1980, foi determinante para a conquista do “Capítulo dos índios”, o capítulo 8º na Constituição de 1988, que passou a garantir, no papel, os direitos indígenas à cultura e à terra. Entre os livros mais recentes, estão Ideias para adiar o fim do mundo (2019), A vida não é útil (2020), Futuro ancestral (2022) e Lugares de Origem (2021), escrito junto com Yussef Campos.

Em A vida não é útil, ele aborda a pandemia da Covid-19 e diz: “Se durante um tempo éramos nós, os povos indígenas, que estávamos ameaçados da ruptura ou da extinção do sentido da nossa vida, hoje estamos todos diante da iminência de a Terra não suportar a nossa demanda”.

Krenak valoriza a cultura indígena e mostra que a forma de lidar com a natureza e o mundo tem muito a ensinar a sociedades capitalistas.

“Já vi pessoas ridicularizando: ele conversa com árvore, abraça árvore, conversa com o rio, contempla a montanha, como se isso fosse uma espécie de alienação. Essa é a minha experiência de vida. Se é alienação, sou alienado. Há muito tempo não programo atividades para depois. Temos de parar de ser convencidos. Não sabemos se estaremos vivos amanhã. Temos de parar de vender o amanhã”, diz em outro trecho do mesmo livro.

Com Agência Brasil

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