Pandemia, golpe militar, vacina e mais: Bolsonaro repete mentiras no Flow, mostram agências de checagem

Bolsonaro no Flow
Presidente participou de mais de cinco horas de conversa com o apresentador Igor 3K (Reprodução/Flow/Youtube)

A participação do presidente Jair Bolsonaro (PL) no podcast Flow, que ultrapassou 550 mil acessos simultâneos, foi repleta de mentiras repetidas pelo mandatário sobre a pandemia de Covid-19, as vacinas e o golpe militar de 1964, entre outros assuntos.

A agência Aos Fatos e a editoria “Confere”, do UOL, fizeram a checagem das declarações do presidente durante as mais de cinco horas de conversa com o apresentador Igor 3K. A transmissão ao vivo começou às 19h e acabou depois da meia-noite.

Covid-19

“Por que vacinar quem contraiu o vírus? Quem se contaminou está melhor imunizado do que quem tomou a vacina”, disse Bolsonaro. Conforme reforçado pelo UOL, não há respaldo científico para que alguém não se vacine por já ter contraído o vírus.

Ele voltou a defender a hidroxicloroquina como tratamento contra a Covid-19, remédio sem eficácia comprovada para a doença. A OMS (Organização Mundial da Saúde), inclusive, desaconselha fortemente o uso do remédio.

Sobre a crise do oxigênio em Manaus, no Amazonas, o presidente declarou: “pediram [oxigênio] de forma atrasada. Em 24 h começaram a chegar os aviões com cilindro de oxigênio lá. Agora a procura foi enorme. Não vou culpar o governo do estado porque foi algo que explodiu”.

Como apontou o UOL, o Ministério da Saúde teve conhecimento da escassez no estoque de oxigênio no estado no dia 8 de janeiro, uma semana antes da crise, e ficou sabendo do aumento da demanda por respiradores um mês antes.

Golpe militar

No Flow, Bolsonaro também comentou sobre a sessão legislativa de 1964 que declarou a vacância da Presidência da República, então ocupada por João Goulart.

“Em 2013, a sessão foi anulada pelo Congresso, sob a justificativa de que a premissa era ilegal: Goulart havia enviado um documento ao Legislativo dizendo que se encontrava no país e no exercício do cargo”, detalha a Aos Fatos.

O presidente mentiu ao dizer que a cópia que ele tem do Diário do Congresso daquele dia é a única disponível hoje, já que “o resto foi incinerado ou pintado de negrito”. Conforme mostrou a agência de checagem, tanto no site da Câmara como no do Senado Federal está disponível o fac-símile do diário daquela sessão.

A Câmara dos Deputados também confirmou à Aos Fatos que uma cópia física do jornal também está disponível no arquivo do Senado.

Bolsonaro também citou um movimento usado como forma de “conferir legalidade” ao golpe militar. “Quem tornou vaga a cadeira do João Goulart foi o Congresso Nacional”, disse.

Como explica o texto da Aos Fatos, quem declarou a vacância da presidência da República em 1964 foi o presidente do Senado e do Congresso Nacional, Auro de Moura Andrade. Ele não colocou a medida em votação pelos parlamentares.

“A vacância da presidência da República, dispositivo presente na Constituição Federal de 1946, foi declarada apesar de João Goulart ainda estar em solo brasileiro, em um movimento considerado pelos historiadores como uma forma de ‘conferir legalidade’ ao golpe militar”, detalha a agência.

Fundo partidário

Bolsonaro também disse no Flow que não teve recursos de fundo partidário para a campanha de 2018, quando foi eleito. “Um partido pequeno, sete segundos de televisão, sem fundo partidário”, disse.

O PSL, partido pelo qual ele concorreu, recebeu R$ 9.203.060,51 de Fundo Especial de Financiamento de Campanha, de acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Ainda segundo a Aos Fatos, “cerca de R$ 480 mil desse montante foram utilizados para executar a estratégia de atuação do PSL nas redes sociais, o que beneficiou Bolsonaro indiretamente”.

Além disso, indiretamente, cerca de R$ 1 milhão do fundo partidário concedido ao PSL em 2018 foi empregado na campanha presidencial dele.

Toda a checagem das declarações de Jair Bolsonaro ao Flow podem ser conferidas nas páginas da Aos Fatos e no Confere, do UOL.

Edição: Roberth Costa
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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