O fotógrafo documental e fotojornalista mineiro Sebastião Salgado anunciou sua aposentadoria da fotografia de campo. A informação foi divulgada por ele mesmo em entrevista concedida ao jornal britânico The Guardian no último dia 8, data em que completou 80 anos. Salgado é tido como o maior nome da fotografia brasileira, reconhecido pela cobertura de guerras, revoluções, golpes de Estado e crises humanitárias.
“Eu sei que não viverei muito mais tempo. Mas não quero viver muito mais. Já vivi tanto e vi tantas coisas”, disse o fotógrafo ao The Guardian. Após oito décadas em atividade, Salgado revela sentir os impactos do tempo sobre o corpo. Desde 1974, quando cobriu a guerra de independência do Moçambique, ele convive com problemas na coluna causados pela explosão de uma mina terrestre que atingiu seu veículo. Também sofre de uma doença sanguínea devido a malária que contraiu em trabalho na Indonésia.
Apesar dos contratempos e da aposentadoria anunciada, Salgado não pretende abandonar a fotografia. Ele é agora editor de seu próprio acervo de fotos, que reúne trabalhos realizados ao longo da carreira. O arquivo contém pelo menos 500 mil imagens, mas uma recontagem deve ser feita em breve. Além disso, prepara diversas exposições para os próximos meses.
“Vamos abrir uma exposição com 255 fotos gigantes do meu projeto ‘Amazônia’ e uma apresentação com composições de (Heitor) Villa-Lobos”, revelou ao jornal britânico. Em relação ao Brasil, o fotógrafo está preparando uma iniciativa especial para a COP 30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), que será realizada no próximo ano em Belém, no Pará.
Quem é Sebastião Salgado
Sebastião Salgado nasceu em Minas Gerais, mesmo estado onde conheceu Lélia Wanick Salgado, quando ela tinha 17 e ele, 19. Os dois estão juntos há 60 anos. Ela se formou em Arquitetura e ele, em Economia. Os dois integravam um grupo revolucionário de esquerda e, conforme aumentava a perseguição política durante a ditadura militar brasileira, decidiram deixar o país para se exilarem em Paris.
Em terras francesas, Salgado descobriu o talento para a fotografia quando pegou emprestada uma câmera de Lélia. Sua ascensão foi meteórica em Paris, onde passou por diferentes agências e conseguiu deixar sua marca.
Mais tarde, Lélia se tornou diretora da galeria Magnum, antes de abrir um estúdio independente, que pouco a pouco passou a ser dedicado à produção de Salgado. O trabalho de Lélia é, aliás, reconhecido como chave para o sucesso do marido. “Não sei dizer onde termino e onde começa Lélia”, afirmou o fotojornalista na entrevista.
Trajetória
O início da carreira do fotógrafo foi marcado por críticas de colegas, que o acusavam de explorar e estetizar a miséria, mas Salgado rebate. “Eu não nasci aqui (na Europa). Eu vim do terceiro mundo. Quando nasci, o Brasil era um país em desenvolvimento. As fotos que tirei, tirei a partir do meu lado, do meu mundo, de onde venho”, explicou.
Na época, as críticas o abalaram e ele chegou a se distanciar do mundo da fotografia. Foi quando nasceu o Instituto Terra, criado pelo casal como uma organização não governamental que atua como centro de recuperação ambiental em Minas Gerais. A conexão com a natureza fez Salgado relembrar a paixão pelas lentes.
Pelo Instituto, Lélia e Sebastião começaram a coletar sementes, treinar técnicos rurais e então passaram a plantar milhões de árvores no estado. “Nós começamos com um viveiro de 25 mil árvores, depois expandimos para 125 mil. Hoje, nosso viveiro tem espaço para 550 mil árvores por ano, e no próximo ano, vamos expandi-lo para 2 milhões. É fantástico”, disse ao The Guardian.
A conexão com a natureza fez o fotógrafo redescobrir a paixão pela fotografia, conduzindo-o a dois dos seus mais significantes projetos: “Genesis” (2013) e “Amazônia” (2021).