Atrizes denunciam racismo e diretor de novela da Globo é afastado

Cinnara Leal
Atrizes denunciaram segregação até nos camarins (Reprodução/TV Globo)

Atualização às 17:45 do dia 17/02/2022 : Atualizado para incluir nota enviada pela equipe do diretor.

O diretor artístico de “Nos Tempos do Imperador”, novela das seis da TV Globo, foi afastado do trabalho na emissora, após acusações de racismo. Segundo a jornalista Carla Bittencourt, do site Notícias da TV, as atrizes Cinnara Leal, Dani Ornellas e Roberta Rodrigues procuraram a direção da Globo para denunciar a discriminação durante a gravação da novela.

A situação já teria sido denunciada pelo elenco, quando as gravações começaram em janeiro de 2020. Quando não houve mudança na postura da direção, as três atrizes formalizaram uma queixa ao setor de compliance da emissora.

De acordo com o apurado pela jornalista, as atrizes afirmam que o diretor Vinícius Coimbra e sua equipe tinham falas preconceituosas e promoviam segregação entre os atores. Na denúncia, foi incluída a alegação de que havia uma separação entre elenco branco e elenco negro. Até mesmo os camarins eram separados nos estúdios.

As atrizes relataram que receberam apoio dos colegas Letícia Sabatella, Gabriela Medevedovski e Maicon Rodrigues. Parte do elenco teria tentado resolver a situação, sem sucesso. Cinnara, Dani e Roberta estariam abaladas e passando por tratamento psicológico e psiquiátrico. Elas aguardam o resultado da investigação interna, para decidir se tomarão medidas judiciais.

‘Racismo reverso’

A atração, que foi finalizada em 4 de fevereiro, já tinha sofrido críticas por uma cena de “racismo reverso”. Na ocasião, em agosto do ano passado, a autora da novela, Thereza Falcão, chegou a se desculpar pelo que chamou de “erro grosseiro”. A situação também foi incluída na denúncia das atrizes.

Na cena, o personagem negro Samuel, interpretado por Michel Gomes, lamenta que Pilar (Gabriela Medvedovski), mulher branca, não possa morar com ele. “Só porque você é branca não pode morar na Pequena África? Como que queremos ter os mesmo direitos se fazemos com os brancos as mesmas coisas que eles fazem com a gente?”, questiona.

Pelo Instagram, o ativista AD Junior criticou duramente o texto da novela, que dá a entender que pessoas brancas sofriam preconceito durante o período escravocrata brasileiro. “São cenas como essa que viram verdades para pessoas desinformadas sobre o período da escravidão. […] Aplicar o conceito de racismo reverso numa fala é muito perigoso e essa cena vai morar na cabeça de milhares de pessoas. Um desserviço total!”, escreveu.

Segundo o site Notícias da TV, Vinícius Coimbra insistia para que Cinnara, Dani, Roberta e os outros atores negros defendessem a novela nas redes sociais, frente às acusações de racismo.

Sigilo da Globo

A Globo afirmou à coluna do Uol que não comenta questões relacionadas a compliance, em razão do “compromisso de sigilo previsto no Código de Ética”.

Já o diretor Vinícius Coimbra preferiu não comentar o assunto. Segundo o site, ele estaria a frente da próxima novela das seis, “Mar do Sertão”, mas foi substituído por Allan Fiterman, diretor de “Quanto Mais Vida, Melhor!”.

Na tarde desta quinta-feira (17), a equipe do diretor enviou uma nota de posicionamento ao BHAZ. “O elenco da novela tem todo o meu respeito e admiração. Sou a favor do diálogo e acredito que todas as discussões sobre o tema são necessárias”, diz Coimbra por meio do comunicado.

Edição: Roberth Costa
Guilherme Gurgel[email protected]

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Escreve com foco nas editorias de Cidades e Variedades no BHAZ.

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