Um garoto de 14 anos conseguiu realizar seu último sonho graças a um gesto simples – e grandioso – de um tatuador. O menino, cuja vida foi abreviada por um câncer, teve o braço todo tatuado, conforme era seu desejo há anos. O mais comovente: a técnica usada pelo profissional para não machucar a criança.
A história aconteceu no bairro Eldorado, em Contagem, na Grande BH. Antes de adoecer, Victor era uma criança superativa e carinhosa. Adorava brincar. Vivia uma vida plena com um grande gasto de energia e, como toda criança, também fazia bagunça. Seguiu assim até seus 12 anos.
Foi quando sentiu uma fraqueza repentina e, sem forças para sustentar o próprio corpo, caiu no chão. Após muitos exames, Victor e sua família descobriram que o garoto tinha um tumor que estava comprimindo sua medula cervical, o que o impossibilitou de continuar a andar.
O jovem passou a usar uma cadeira de rodas para se locomover. Entretanto, isso não o fez perder o sorriso. “Ninguém nunca o via abatido. Ele tratou a doença a todo todo tempo com a maior alegria do mundo. Nunca se sentiu derrotado”, contou Castilho Amaral, seu tio. No entanto, após dois meses do início de seu tratamento, os médicos descobriram que o câncer de Victor havia desenvolvido metástases que se espalharam pelo seu corpo. As estimativas clínicas eram de que o garoto só teria mais três meses de vida.
No entanto, Victor queria ficar com a família e demonstrou grande força para isso. Um ano após a sentença médica, o menino permanecia firme na sua luta contra o câncer. Durante esse tempo, o tratamento de Victor se tornou agressivo e as medicações que recebia o fizeram perder os cabelos e ganhar vários quilos.
Sua limitação para locomover-se contribuía para a formação de úlceras de pressão, o que deixou sua pele sensível e propensa à feridas. Contudo, em meio ao tempo que se dedicava ao tratamento, Victor também procurava se divertir. Dentre as atividades que podia realizar, o garoto gostava de jogar videogame e principalmente de desenhar.
Um de seus sonhos era ter uma tatuagem. Ao saber disso, Alcides Correa, conhecido como Cidin, amigo de Castilho, se disponibilizou para realizar o desejo do garoto. O tatuador comprou algumas canetinhas cuja tinta fixasse na pele e fez um desenho bem elaborado no braço de Victor. O menino, que curtia rock’n roll, ficou muito satisfeito com a sua “tatuagem”. “A minha sensação foi de um momento muito divertido, a cada risco que eu fazia ele falava: ‘Nossa, que legal!'”.
O tatuador também se surpreendeu com a coragem do garoto. “A todo momento eu me perguntava se ele estava sentindo dor porque a pele estava bem sensível, mas ele nunca reclamava. Se fosse eu com um machucado como os dele eu estava chamando a minha mãe”, brincou Cidin.
Como Victor também gostava de desenhar, o tatuador resolveu dar as canetas para ele de presente. O jovem passou uma semana empolgada desenhando. Quanto à tatuagem, Victor se negava a lavar o braço.
Menos de duas semanas depois, Victor sentiu-se mal. Aos 14 anos, o garoto cheio de vida acabou perdendo-a para o câncer. “Para o tio dele, não tinha lugar na terra! Mesmo no caso de um idoso, quando uma pessoa fica doente, o ser humano não está acostumado a lidar com a morte”, contou o tatuador. O pai de Victor, que havia largado o emprego para dedicar-se a cuidar do garoto, também sentiu-se desolado. Ele tinha esperanças de que o filho se recuperasse.
Na última semana de vida do jovem, ele produziu um desenho que se tornou uma tatuagem real no corpo do pai e do tio. Segundo a família, ele fez o desenho com muita dificuldade por causa das feridas em seu corpo mas concluiu com êxito o trabalho. “Na minha cabeça só tinha assim: quem aprendeu ali fui eu. Na vida a gente reclama de tudo e quando vemos uma pessoa numa situação muito pior que a nossa… Na verdade eu que ganhei com isso”.
Victor faleceu em janeiro de 2015. O conhecimento de sua história permaneceu limitada a amigos e familiares por algum tempo. O blog de tatuagens FRRK foi o responsável por compartilhá-la na web.
