O post de uma pesquisadora da área de psicologia movimentou as redes sociais nessa quinta-feira (3). Em uma carta publicada no Instagram, a doutora em saúde mental e gênero Valeska Zanello diz ter tido um dos seus estudos plagiados por um estudante, que atua como digital influencer e se autointitula como “escritor, palestrante e pesquisador”. Mesmo sem citar nomes, o post viralizou e vários seguidores apontaram se tratar de um jovem conhecido nas redes – que, mais tarde, admitiu o erro (veja abaixo).
“Ele literalmente copiou meu trabalho de pesquisa sobre grupos masculinos de whatsapp no Brasil com falas idênticas, literais, e assinando o que postou como se fosse dele”, desabafa a pesquisadora, em publicação que já soma quase 140 mil curtidas.
Na sequência, ela conta que o estudante chegou a bloquear seguidores que notaram o plágio. E o que poderia ter sido um episódio isolado voltou a acontecer.
“Ontem recebi o print de uma seguidora com uma nova postagem do rapaz, feita há duas semanas. Novamente, ele se apropria do meu trabalho e de frases literais do meu livro, e recebe créditos por isso. O post tem quase 50 mil curtidas! E comentários do tipo ‘nossa, que cirúrgico!'”, acrescenta Valeska.
‘Desconstruidão’
A pesquisadora ainda critica o fato de o estudante sequer mencionar a fonte das informações. “Posa de ‘desconstruidão’ e reproduz, da forma mais crua e evidente, violência de gênero”, pontua ela, que ainda frisa: “Por que é tão difícil para um homem referendar o trabalho de uma mulher? Isso tem nome: misoginia”.
Nos comentários da publicação de Valeska Zanello, centenas de pessoas se assustaram ao descobrir a verdadeira fonte das informações publicadas pelo perfil do estudante. É que, mesmo que ele ainda esteja cursando psicologia, o perfil em que compartilha conteúdos sobre o tema já ultrapassa os 250 mil seguidores – mais que o dobro de pessoas que acompanhavam Valeska até a denúncia viralizar.
“Acabo de saber das denúncias e fico surpresa, embora não chocada. Desejo força a você, querida! Que pena te conhecer nessas circunstâncias, mas que bom que agora conheço a fonte certa!”, escreveu uma pessoa.
“Apesar de surpresa é algo que também não me choca e isso é o pior sentimento possível: ‘o não choque’. estamos quase acostumadas a viver esse tipo de violência, de um homem que usa a inteligência e a potencialidade de uma mulher ao seu favor”, complementa outra internauta.
Estudante se desculpa
Após sofrer duras críticas por copiar o trabalho de Valeska Zanello, na tarde de hoje (4), o estudante João Marques resolveu se pronunciar. Em um comunicado publicado no Instagram, o influenciador assume ter reproduzido o material da pesquisadora, bem como ter bloqueado as pessoas que o alertaram sobre o plágio.
“Já que eu faço questão de dizer aos homens que se responsabilizem pelos seus atos, neste momento, não vou me eximir da responsabilização”, começa. Na sequência, ele explica que um dos posts apontados por Valeska foi “altamente baseado” em uma palestra dada pela pesquisadora, a qual ele acompanhou.
“Na época fui chamado a atenção por seguidoras dela e eu coloquei não só a referência, como um aviso dizendo que tanto a pesquisa, quanto as citações diretas eram dela”, explica. Ainda no post, ele assume ter bloqueado a estudiosa na rede social por “medo, vergonha e culpa”.
“Não é culpa dela, ela tem todo o direito de reivindicar a autoria do seu trabalho, o erro foi meu e isso só amplificou o problema”, diz em outro trecho.
‘Reconheço o erro de não ter sido claro’
No pronunciamento, João Marques ainda aproveita para se desculpar com seus seguidores, por “não ter deixado claro” que era um estudante de psicologia, e não um acadêmico na área. “Em todos os lugares nos quais trabalhei, avisei que era estudante e reconheço o erro de não ter sido claro com vocês”.
Ao fim, ele se compromete a revisar todos os textos publicados nas redes sociais, já que não quer compactuar com o “apagamento de nenhum pensador”. Ele ainda disse ter entrado em contato com a estudiosa para se desculpar.
“Já entrei em contato com a Valeska para falar sobre os casos e corrigir ou excluir conteúdos que forem necessários, assim como pedir desculpas pela invisibilização e silenciamento e vou aguardar o momento que ela sentir que deve falar comigo”, escreve ele.
