Muitxs, tod@s e afins: Por que usar x, @ e E é um desserviço na educação?

ARTE: Beatriz Macedo

Por Beatriz Macedo*

A discussão na internet sobre a “linguagem do x” tem várias facetas e mobiliza uma enormidade de áreas. Educacionais, identitárias e outras. Mas como realmente funciona o uso dessa linguagem no espectro educacional e mais especificamente na educação inclusiva?

A língua pode reforçar sexismo?

É preciso entender que o gênero gramatical nada tem relação com gênero biológico ou identidade de gênero. Um exemplo é que, no português, objetos têm marcação de gênero (“a mesa”, “o celular”), o que não acontece no inglês, por exemplo, e isso não significa que eles tenham “gênero” num sentido biológico. “Criança” é uma palavra feminina, mas todas as crianças são do gênero feminino?

Há, porém, algumas decisões pessoais e dotadas do bom senso que podem substituir alguns pronomes ou palavras como por exemplo o uso de termos como “pessoal”, “galera”, “amigos e amigas”, expressões que deem abrangência em uma quantidade de indivíduos. Ainda assim, a própria funcionalidade da língua fica comprometida se nos preocuparmos em falar as palavras sempre com os dois gêneros. Usar o masculino para as formas gerais (“todos”) é fundamental para o funcionamento da língua.

Se a cada palavra masculina tivéssemos que escrever a forma feminina correspondente, deixaríamos de falar o português e passaríamos a nos comunicar por repetições e ecos. Frases prolixas são frases pobres de comunicação.

Quando a dita “linguagem inclusiva” pode excluir?

Pessoas com deficiência visual e usuários de dispositivos de acessibilidade para deficiência visual.

Quando usam a internet, essas pessoas recorrem a programas que transformam as palavras na tela em áudio. É uma leitura crua do que está na tela. É assim que pessoas com deficiência visual usam dispositivos eletrônicos. Quando um software desses se depara com uma palavra como “outrxs”, impossível de pronunciar, isso dificulta a acessibilidade do conteúdo por deficientes visuais.

Pessoas com dislexia:

A Dislexia é um transtorno específico de aprendizagem, de origem neurobiológica, sua característica principal é a dificuldade no reconhecimento da palavra, de decodificação e em soletração. Todas essas dificuldades ocasionam um déficit fonológico. Quando você escreve trocando letras, você quadruplica a dificuldade de decodificação de uma pessoa disléxica. Você desmotiva sua interação e interesse no assunto escrito e você embaraça essa pessoa na hora da soletração.

Pessoa semianalfabetas ou em processo de alfabetização:

Uma pessoa que tenha estudado até a 4ª série primária é uma pessoa semianalfabeta. Ela lê com dificuldade, mas consegue decodificar a linguagem básica e a soletra de forma crua. Quando você escreve trocando letras isso é impossível de ser lido. Até por mim, por você e por qualquer pessoa. Além da fonética, tira completamente o sentido para o interlocutor. Você dificulta ainda mais o entendimento e desmotiva o hábito para essas pessoas.

Mulheres idosas e fora do viés acadêmico:

Muitas mulheres batem na tecla dessa linguagem inclusiva militando pelas mulheres. Entendo o ponto, mas deixo aqui uma pergunta: sua linguagem inclusiva chega na mulher que limpa o banheiro da sua faculdade? A senhora que vende bala no trem, a moça que te vende o sanduíche na porta da universidade… todas essas mulheres pobres, sem oportunidade de estudo e já tão calejada pela vida com isso. Elas vão entender sua mensagem, caso vejam um cartaz escrito “TODXS CONVIDADXS”?

Temos coisas tão mais importantes para o movimento a serem discutidas.

Veja bem, não é minha intenção dizer que a linguagem não deve ser mutável e muito menos que ela não carrega uma carga histórica de sexismo, mas enquanto não tivermos essas mudanças de forma oficial, fazendo com que essas crianças que necessitam de educação inclusiva, saiam da alfabetização cientes, a “linguagem do x, @ e” mais exclui do que inclui.

Façam a diferença do jeito certo.


* Beatriz Macedo é pedagoga licenciada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mestranda em Educação e Sujeitos Sociais pela mesma Universidade, psicopedagoga pela Universidade Cândido Mendes. Possui 7 anos de experiência com educação e educação inclusiva em empresas educacionais importantes como o Senac Rio. Você a encontra em seu perfil do twitter @pseudoruiva_.

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