Desenhista da Marvel, que apoiou agressão de Augusto Nunes, apaga post e se desculpa

Reprodução/YouTube

Arrependimento em caixa alta. Entre tantas reações à agressão do colunista da Jovem Pan, da revista Veja e da RecordTV, Augusto Nunes, contra o jornalista vencedor do prêmio Pulitzer Glenn Greenwald, nessa quinta-feira (7), durante o programa Pânico, da Jovem Pan, algumas se destacaram.

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É o caso do desenhista da Marvel Joe Bennett, que produz, atualmente, a
HQ do Hulk. O brasileiro não só apoiou, publicamente, a agressão de Augusto Nunes, como sugeriu uma violência maior contra Gleen. “Augusto Nunes, seu caboclo foda! Esse tapa foi meu também! Devia era ter dado um soco!”.

A convicção de Bennett não durou muito tempo. Instantes após a empolgação inicial, depois de ser duramente questionado por seguidores, ele publicou um texto em caixa alta (veja abaixo na íntegra) remetido diretamente a Gleen, David Miranda – deputado federal pelo PSOL/RJ e casado com Greenwald -, e aos filhos do casal.

“Infelizmente, algumas vezes, no calor do momento, o ser humano diz coisas das quais se arrepende e com as quais, fundamentalmente, não concorda”, diz, o desenhista, no início do pedido de desculpas.

https://www.facebook.com/joe.bennett.98/posts/10216502660823693?_rdc=1&_rdr

E prossegue, inclusive com elogios a Gleen: ” Comemorar a agressão de (sic) qualquer pessoa, ainda mais um excelente pai e bom marido, não é motivo de qualquer orgulho e vibração”, diz na postagem.

O artista também busca ponderar sobre divergências políticas e violência. “Nenhuma visão política deve justificar ações violentas ou desumanas. Nenhum posicionamento político justifica desumanidade. nenhum exercício de pleno, justo e regular trabalho deveria gerar perseguição, inimizade ou violência” afirmou.

E finalizou: “Prometo refletir ainda mais sobre meu ato e as consequências dele”, concluiu.

Bennett foi indicado ao Prêmio Eisner neste ano, a maior honraria do mercado de quadrinhos dos Estados Unidos.

Apesar do pedido de desculpas, alguns internautas seguiram sugerindo que a Marvel Comics demita o artista. A editora norte-americana não se manifestou sobre o assunto.

O caso Nunes X Gleen

O colunista agrediu o jornalista Glenn Greenwald no início da tarde dessa quinta-feira (7) durante o programa Pânico, da Jovem Pan. A agressão foi flagrada pela transmissão ao vivo da atração realizada pelo YouTube – o programa é veiculado pela rádio.

Fundador do site The Intercept, vencedor do prêmio Pulitzer e principal responsável pela Vaza Jato (vazamentos de diálogos entre promotores e o então juiz Sérgio Moro), Glenn foi surpreendido com a presença de Augusto Nunes na chegada do programa da Jovem Pan.

Nunes sugeriu em setembro que Glenn e seu marido, David Miranda, fossem investigados por suposta negligência com os dois filhos. A acusação, sem base em nenhum indício, gerou intensa crítica contra o colunista da Veja.

Agressão

Dado o histórico, o clima já começou tenso entre os desafetos. O programa conhecido justamente por procurar confusões chegou a definir o encontro entre os dois como “Dia de Treta”.

Em um determinado momento, Glenn interpelou Nunes sobre o tema. “O que ele fez, o que ele disse na Jovem Pan, foi a coisa mais feia e mais suja que eu vi na minha carreira como jornalista, inclusive fazendo uma guerra com CIA [Agência Central de Inteligência do governo estadunidense], com governo Obama [Barack, ex-presidente dos EUA], com o governo do reino unido”, iniciou a fala.

“Ele disse que um juiz de menores deveria investigar nossos filhos e decidir se devemos perder nossos filhos, se eles deveriam voltar para o abrigo [os dois filhos do casal foram adotados]. Acusando que estamos abandonando, sendo negligentes com nossos filhos. Quero saber se você acredita ainda que um juiz deveria investigar nossa família”.

Augusto Nunes, então, retrucou. “Neste país, quem tem que se explicar é quem comete crimes e fica cobrando quem age honestamente. Eu convido ele a provar em que momento eu pedi que algum juizado fizesse isso, eu disse apenas que o companheiro dele passa o tempo todo em Brasília lidando com material roubado, e eu me pergunto quem é que vai cuidar dos filhos”.

“Você é um covarde”, respondeu Glenn. A partir desse momento, as agressões começaram:

A Jovem Pan e a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) publicaram nota sobre a agressão.

Nota da Jovem Pan

“A Jovem Pan lamenta o episódio ocorrido ao vivo no programa Pânico desta quinta-feira (7) entre os jornalistas Augusto Nunes e Glenn Greenwald.

Defensora vigilante dos princípios democráticos, do pluralismo de ideias e da liberdade de expressão, a Jovem Pan sempre abriu suas portas para convidados de diferentes campos ideológicos e com opiniões dissonantes, para que cada brasileiro forme seu juízo tendo acesso a visões variadas sobre os temas mais relevantes do momento.

Uma das principais marcas do Pânico é receber personalidades para o debate aberto e franco, bem-humorado e eventualmente ácido. Glenn Greenwald já participou da bancada em diversas outras oportunidades.

A liberdade de expressão e crítica concedida pela Jovem Pan a seus comentaristas e convidados, contudo, não se estende a nenhum tipo de ofensas e agressões. A empresa repudia com veemência esses comportamentos.”

Nota da Abraji

“A agressão física de Augusto Nunes contra Glenn Greenwald, após uma discussão acalorada deu início a uma onda de ataques à imprensa, na internet, como poucas vezes vimos nos últimos anos no Brasil.

A cena de violência, difundida exponencialmente nas redes sociais nesta quinta-feira, 7/11/2019, passou a ser usada a seguir como exemplo de comportamento a ser adotado pelos descontentes com a imprensa em geral – a despeito do episódio em si envolver desavenças e comentários de cunho pessoal entre Nunes e Greenwald.

Como em outras ocasiões, membros do governo e pessoas influentes no poder difundiram mensagens de incitação direta à violência, como no caso de Olavo de Carvalho, ou de aprovação velada, como no caso de um dos filhos do presidente, Carlos Bolsonaro.

A Abraji emite notas sobre ameaças a jornalistas no exercício da profissão. O debate ocorrido na emissora não corresponde a esse parâmetro. Entretanto, a onda de reações que se seguiu ao episódio dispara um alerta que não pode ser ignorado a respeito do estágio que a hostilidade aos jornalistas e aos veículos de imprensa atingiu no Brasil. Quem atiça esse clima de hostilidade tem intenção de calar vozes críticas e sufocar a liberdade de expressão – sem ela, as outras liberdades também morrerão.

Diretoria da Abraji, 7 de novembro de 2019.”

Pedido de desculpas do desenhista

AO GLENN, DAVID E FILHOS,

INFELIZMENTE, ALGUMAS VEZES, NO CALOR DO MOMENTO, O SER HUMANO DIZ COISAS DAS QUAIS SE ARREPENDE E COM AS QUAIS, FUNDAMENTALMENTE, NÃO CONCORDA.

COMEMORAR A AGRESSÃO DE QUALQUER PESSOA, AINDA MAIS UM EXCELENTE PAI E UM BOM MARIDO, NÃO É MOTIVO DE QUALQUER ORGULHO OU VIBRAÇÃO.

COMO ARTISTA, VIVENDO ESSENCIALMENTE DA CULTURA E DA ARTE, JAMAIS CONCORDEI OU INCENTIVEI QUALQUER FORMA DE VIOLÊNCIA CONTRA QUALQUER PESSOA.

LEVADO PELO CALOR DO MOMENTO, POR CONTA DE QUESTÕES PARTIDÁRIAS, FIZ COMENTÁRIOS DOS QUAIS ME ARREPENDO E NÃO REPRESENTAM, DE FORMA ALGUMA, MINHA PESSOA E MINHAS ATITUDES.

NENHUMA VISÃO POLÍTICA DEVE JUSTIFICAR AÇÕES VIOLENTAS OU DESUMANAS. NENHUM POSICIONAMENTO POLÍTICO JUSTIFICA DESUMANIDADE. NENHUM EXERCÍCIO DE PLENO, JUSTO E REGULAR TRABALHO DEVERIA GERAR PERSEGUIÇÃO, INIMIZADE OU VIOLÊNCIA.

A DEMOCRACIA SÓ CAMINHA SE HOUVER TOLERÂNCIA E RESPEITO. MINHA MANIFESTAÇÃO FUGIU DESSAS REGRAS E, POR ISSO, PEÇO SINCERAS DESCULPAS.

PROMETO REFLETIR AINDA MAIS SOBRE MEU ATO E SOBRE AS CONSEQUÊNCIAS DELE, ASSIM COMO, FICO ABERTO AO DIÁLOGO, COMO FORMA DE APRENDIZADO MÚTUO E TOLERÂNCIA.

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