Após ter o carro de som impedido de sair pela PM (Polícia Militar), o bloco A Roda contou com uma vaquinha para conseguir dinheiro para bancar outro trio em menos de 24 horas para o cortejo. No entanto, apesar desse esforço, o bloco relata que enfrentou dificuldades impostas pela PM.
As intervenções começaram no início cortejo e seguiram até o encerramento. A bateria chegou a ficar “cercada de policiais armados”. A PM informou, em nota, que a atuação dos militares ocorreu para garantir a segurança do bloco para o desligamento do som (veja a nota abaixo).
+ ‘Carnaval também é protesto’: Zema é vaiado no bloco A Roda após proibição surpresa
Nessa quinta-feira (20), o A Roda (antes chamado “Roda de Timbau”) realizou o cortejo na rua Sapucaí. O início estava previsto para às 18h. No entanto, segundo o regente Pedro Thiago Silva, as dificuldades tiveram início antes da saída dos foliões. “O cortejo d’A Roda começou oficialmente 20h30, mas a gente estava pronto para começar às 18h”, relata Silva.
Bloco “A Roda” tem clima de tensão com PM e relata dificuldades para realizar cortejo. “Não sei se vai dar para continuar assim”, lamenta o regente. pic.twitter.com/Kl0tr5LVJS
— BHAZ (@portal_bhaz) February 21, 2020
Para que um bloco desfile, é necessário que haja uma vistoria do Corpo de Bombeiros. O atraso ocorreu porque a Polícia Militar, segundo a organização, exigiu que o procedimento fosse realizado no local de dispersão dos foliões e não na concentração. Por isso, o trio precisou ser deslocado, o que levou algum tempo.
+ Caos: Carros ficam ilhados na Sapucaí após bloco ser obrigado a mudar de trajeto de última hora
“Os bombeiros chegaram para vistoriar o trio e já estavam irritados. Por fim, mandaram retirar as hastes e a lona que cobre o trio. Depois mandaram colocar de novo. Depois disso, o trio tinha que voltar para o local de concentração. O único jeito de voltar é dando marcha à ré, com a rua já cheia de pessoas. Eles não ajudaram a limpar a via”, detalha o regente.
‘Toque de recolher’
A produtora do A Roda, Luiza Alana, conta que, após o atraso, ela negociou com a Belotur uma extensão do tempo de cortejo. “A gente conseguiu mais meia hora de desfile. Foi alinhado com os bombeiros e com as BHTrans, só que quando (a Belotur) foi falar com a PM, ela se recusou”, relata.
Bloco de carnaval com toque de recolher. 22hrs tem que acabar.
— cabrau (@cabraucca) February 21, 2020
Polícia de fuzil fazendo a “segurança” do bloco.
É… Não sei se é BH zicada ou se é o governo dando as caras
“No momento que a gente teve esse retorno, já era próximo de 22h. A bateria foi cercada por muitos policiais, ostensivamente armados, já com a mão no cassetete. Inclusive entre o trio e a bateria, que é um lugar que eles nem podem ficar”, acrescenta Luiza.
Vídeo mostra a aproximação dos policias armados da bateria do Bloco “A Roda” (Arquivo Pessoal) pic.twitter.com/ArTM9wZfx0
— BHAZ (@portal_bhaz) February 21, 2020
Ainda segundo Luiza, quando faltava um minuto para 22h, ela foi abordada por um dos policiais. “Ele falou: ‘chega. Acabou. Nem mais um pio’. Eu respondi: ‘senhor, eu tenho mais um minuto. Vou subir no trio, dar o recado para a gente fazer a dispersão com calma, como sempre faço'”, detalha.
A produtora acrescenta que a organização teria mais uma hora para fazer a dispersão do bloco, porém, em 30 minutos, a PM já havia liberado a circulação de carros. Em seguida, a corporação começou a agir para acelerar a dispersão. “A Polícia estava revistando as pessoas, de forma muito agressiva, de forma muito ostensiva”, acrescenta.
Policiais abordam folião durante cortejo do Bloco “A Roda” (Arquivo Pessoal) pic.twitter.com/AEmYlvTRyS
— BHAZ (@portal_bhaz) February 21, 2020
Decepção após um ano de trabalho
Para Luiza Alana, toda a ação policial durante o bloco causou uma grande decepção para os envolvidos. “A gente fica muito chateado, é o trabalho de um ano inteiro. Estamos ensaiando desde abril, preparamos um cortejo de quatro horas. A gente tem intervenções teatrais e de dança, a gente não fez nem um quinto do que a gente preparou. Não tínhamos condições”, lamenta.
“Muito triste para a banda que ensaiou, para a bateria que se dedicou. Não foi satisfatório para ninguém. Todo mundo estava muito apreensivo, muito inseguro naquele espaço, a gente não estava se sentindo muito à vontade”, finaliza Luiza.
Questão política
Para o regente, o problema está no posicionamento político bem definido do A Roda, assim como a de outros blocos. “A gente não está ferindo, não está agredindo ninguém, mas a gente percebe que está rolando uma perseguição desses blocos. Com esse clima de conservadorismo que está crescendo na sociedade, estão com muita tranquilidade para agir assim”, opina.
O que diz a Polícia Militar
Questionada sobre o atraso para o início do cortejo, a PM não se pronunciou a respeito da situação. Veja a nota completa da corporação:
“A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) esclarece que o posicionamento dos policiais militares próximo ao final do horário de término de desfile do bloco A Roda, ocorrido na noite dessa quinta-feira (20.02) na Rua Sapucaí, no bairro Floresta, não teve relação com manifestação política.
A atuação dos militares foi para garantir a segurança do bloco para o desligamento do som no horário previsto, às 22h. Conforme relatado em matéria jornalística por uma das integrantes do bloco, havia a intenção de ultrapassar o horário permitido para o cortejo em virtude do atraso para início das atividades. A Polícia Militar esclarece que os horários precisam ser respeitados já que todos os serviços públicos se planejam para cumpri-los.O atraso no encerramento pode ensejar deficiência na prestação de serviço dos vários órgãos envolvidos.
A PMMG esclarece ainda que as manifestações são legítimas e que só atuará em caso de desordem pública, de intolerância à multiplicidade, em casos de qualquer tipo de violência ou importunações”.