Mesmo com isolamento moradores saem às ruas em Venda Nova: ‘Estão achando que é brincadeira’

Distanciamento não foi respeitado (Amanda Dias/BHAZ + Reprodução/What’sapp)

Moradores da região de Venda Nova, em Belo Horizonte, insistem em sair às ruas em meio à pandemia do novo coronavírus, contrariando as medidas de isolamento social. Lá, é fácil se deparar com grandes filas de bancos, supermercados cheios, lojas abertas.

Nesta segunda-feira, a equipe do BHAZ flagrou, a enorme fila que se formava no entorno da Caixa Econômica Federal, localizada na rua R. Padre Pedro Pinto. O cenário se repete em outras unidades bancárias, conforme conta, ao BHAZ, Ricardo Andrade, membro do Conselho Comunitário de Venda Nova. “As filas estão grandes em todo lugar. Depois do auxílio emergencial aumentou ainda mais o fluxo de pessoas. Arrisco dizer que tinha umas 500 pessoas na fila. A gerente, junto com dois policiais, até tentou organizar, mas as pessoas não deram importância”, explica.

Distanciamento não foi respeitado (Amanda Dias/BHAZ)

O estudante de engenharia química Arthur de Oliveira ficou três horas aguardando para entrar na agência do Banco do Brasil e ficou assustado com a aglomeração de pessoas e preocupado com a saúde de todos.

“A maioria das pessoas não estavam usando máscaras. As filas mal organizadas, muita aglomeração. Bateu uma sensação de insegurança, pois eu estava de máscara, tentando fazer a minha parte. Pensei que ia me deparar com as pessoas mais preparadas para se preservarem. Elas não estão conscientes do que está acontecendo”, disse.

Procurada pelo BHAZ, a Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção informou que os bancos são orientados a manter as filas organizadas com “distanciamento adequado entre os clientes, tanto dentro quanto fora das das agências”.

Para evitar a exposição, o infectologista Carlos Starling sugere que as pessoas façam uso da tecnologia. “A primeira dica que dou é tentar resolver, ao máximo, as questões bancárias pelos aplicativos. Desta forma, você estará evitando a exposição. Quanto não tiver jeito, a minha outra dica, é que a pessoa mantenha um distanciamento de dois metros e use máscaras”.

Thiago registrou a proximidade das pessoas na fila do banco (Arquivo pessoal/Arthur de Oliveira)

Comércios funcionando e pessoas nas ruas

Apesar do prefeito Alexandre Kalil (PSD) ter autorizado o funcionamento somente dos comércios essenciais, Ricardo tem percebido situação oposta na região. “No bairro Santa Mônica, na Érico Veríssimo, o comércio está funcionando. Tem loja de calçados aberta, mesmo estando ao lado de uma base comunitária da PM”.

Ricardo acredita que as pessoas não estão levando o isolamento a sério. “As pessoas estão desafiando mesmo. Não tem isolamento nenhum. Estão achando que é brincadeira”, disse.

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A comerciante Sheila Mara concorda com Ricardo. “Eu trabalho em um frigorífico e como aqui é um ramo que não precisa fechar, nós estamos seguindo as recomendações. Tem semana que o movimento é maior, mas na minha opinião tem muita gente na rua”, conta.

Para Sheila essas pessoas só vão cumprir o isolamento quando o pior acontecer com elas. “O povo não está preocupado com o coronavírus. Somente se preocuparão quando um parente ou amigo pegar a doença”, conta.

Manter o isolamento é essencial no combate da Covid-19, como afirma o infectologista Carlos Starling. “É fundamental levar o isolamento a sério, mas a ficha de algumas pessoas ainda não caiu. Elas acham que não vão acontecer com elas. É um risco danado [descumprir o isolamento]. Não dá para brincar com a sorte”, alerta.

Fiscalização

Desde o começo do isolamento na capital mineira a Guarda Civil Municipal realizou 6.534 visitas de orientação a estabelecimentos comercias em BH, conforme informou a SMSP. “O número inclui as 950 abordagens ocorridas entre os dias 8 e 12 de abril já sob as regras do decreto 17.328, que substituiu o primeiro e determinou o fechamento de todos os estabelecimentos que não exercem serviços essenciais. Um total de 15 alvarás foram recolhidos neste período” esclarece a pasta.

Mesmo com a fiscalização acontecendo Ricardo Andrade diz sentir falta da presença frequente dos agentes. “Nas primeiras semanas eles reprimiram quem abria os comércios, agora não. Tem muitos bares abertos, aqueles que vendem churrasquinho ficam lotados”, denuncia.

A Secretaria de Segurança disse que “as abordagens acontecem durante patrulhas preventivas rotineiras feitas espontaneamente”, ou “com base em denúncias recebidas pelos canais disponibilizados pela PBH à população, que são o telefone 156 ou o Fale com a Ouvidoria”.

A pasta esclarece ainda que a interdição das praças da Liberdade, JK, Lagoa Seca, do Papa e da Assembleia, assim como a orla da Lagoa da Pampulha demandam presença fixa dos agentes. Mesmo assim, a secretaria ressaltou que 2.064 agentes estão nas ruas diariamente para “conscientizar a população e evitar a propagação da Covid-19”.

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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