Com as medidas de isolamento necessárias para combater o novo coronavírus, os esportes de contato físico estão entre os últimos na fila de atividades a serem liberadas. Mas o brasileiro já criou um jeito de matar a saudade de uma das maiores paixões nacionais: o futebol. Trata-se do “New Fut” – uma nova modalidade que permite que os jogadores não tenham nenhum contato físico durante a partida.
A modalidade foi criada por uma empresa de Curitiba, no Paraná e funciona quase como um totó humano: a quadra é divida em quadrados e cada jogador só pode se movimentar dentro do seu espaço, sem ultrapassar as linhas demarcadas. Com uma média de 30 gols por partida, a releitura do esporte pode parecer um pesadelo para os mais ortodoxos, mas tem ajudado a matar a saudade e os clientes do local já estão pensando em marcar um campeonato de New Fut.
Para fazer a nova “estrutura” funcionar, a quadra que iniciou a modalidade estipulou algumas regras. No aspecto mais técnico, todos os jogadores precisam limpar as chuteiras antes de entrar, usar álcool gel e jogar de máscara. A bola também é higienizada sempre que toca no goleiro, mesmo que ele esteja de luvas. E para acrescentar mais dinamismo às partidas, o New Fut pegou emprestadas algumas regras de outros esportes, como – toda vez que um time marca um gol, por exemplo, os jogadores trocam de posição.
Atenção aos detalhes
Mas ainda há algumas preocupações antes da adesão maior à prática. “A modalidade só estará liberada mesmo a partir do momento que todas as adequações e as demarcações estiverem prontas”, explicou Carla Bernardi, uma das sócias da quadra que criou o New Fut, ao Balanço Geral no fim do mês passado. Para ela, a prática só pode ser liberada quando as quadras “estiverem com todas as regras estabelecidas”.
Entre essas adequações, estão vários pontos que, se não forem bem observados, podem expor os jogadores a vários riscos. O médico infectologista Leandro Curi não conhecia esta modalidade, mas avalia que é importante considerar vários fatores. “Acho que tem vantagens e desvantagens. Primeiro, a gente tem que colocar que é um esporte coletivo e, como todo esporte coletivo, ele incorre em risco de contaminação. Aquela galera depois vai para o vestiário, vai se reunir na cantina, vai se cumprimentar e a gente tem que considerar o deslocamento daquelas pessoas também”, explicou ao BHAZ.
Risco-benefício
Além disso, ele também explica que é preciso considerar o tempo de exposição à atividade e a conservação dos materiais, entre outros: “Mesmo garantindo que aquela bola não vai ser contaminada, que a chuteira está limpa… Tem uma série de microfatores que a gente tem que observar. Parece ser mais seguro do que uma pelada? Parece, mas isso não quer dizer que é”. Ele pontua que é compreensível que se busquem novas formas de reconfiguração da vida diante deste cenário, mas reforça que é preciso considerar o risco-benefício.
“Quando a pessoa faz atividade física, ela está respirando mais forte e eliminando mais partículas e se a máscara não for apropriada, a secreção passa. A máscara molhada também não funciona”, avalia o médico. A atmosfera de entretenimento, segundo ele, também é mais um fator a ser considerado: “A pessoa que está indo para esse tipo de atividade está indo para diversão, lazer. Então ela vai estar mais descontraída, não vai estar naquela observância de postura que se deveria ter. O ideal é ficar em casa e fazer atividades individuais”.