Jovem é assassinado em confronto com a PM na Serra e família se revolta

Charles Diordan e manifestação no Aglomerado da Serra
Assassinato aconteceu no dia em que Aglomerado da Serra completava 200 dias sem homicídios (Reprodução/@aglomeradodaserra/Instagram)

Um jovem de 23 anos foi assassinado por policiais militares durante uma operação no Aglomerado da Serra. Segundo os agentes, Charles Diordan sacou uma arma e iria disparar contra um dos militares, quando foi baleado duas vezes. O caso aconteceu nessa quinta-feira (29), na Vila Marçola, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, no dia em que o aglomerado completava 200 dias sem homicídios.

Após a morte de Charles, iniciou-se uma manifestação no local, liderada por membros da comunidade e familiares da vítima. Segundo moradores do aglomerado, a PM reprimiu o protesto com violência. Do outro lado, a corporação, por meio do tenente-coronel Fábio Almeida, garantiu que somente dispersou a manifestação, sem uso de força.

O militar, que é comandante do 22º Batalhão da PM, responsável pelo policialmente da Zona Sul da capital, afirmou ao BHAZ que o jovem assassinado era um “indivíduo de alta periculosidade”. Segundo Fábio Almeida, Charles só foi baleado pelos policiais porque tentou matar um deles. O jovem estaria envolvido com o tráfico na região desde os 17 anos de idade e exibia armas de grande porte nas redes sociais.

Revolta

A manifestação no local foi iniciada por familiares da vítima e moradores da Serra logo após a morte do jovem. A população construiu barricadas e incendiou objetos nas ruas. Vídeos mostram o momento dos protestos em que algumas pessoas chamam os policiais de “assassinos”.

A presidente da Associação do Cafezal, Cristiane Pereira, relatou que o protesto popular não foi bem recebida pelos militares. “O pessoal se revoltou e fizeram essa manifestação e aí começaram os confrontos da população com a polícia”, ressaltou.

Segundo relatos de moradores, foram ouvidos tiros e sons de helicópteros na região. Quem estava no local disse que a PM reprimiu o protesto com balas de borracha e bombas de efeito moral. Ninguém teria se ferido durante o confronto.

O tenente-coronel Fábio Almeida nega essa versão dos fatos. Segundo o militar, houve uma ordem de dispersão, que foi acatada pelos populares, sem uso de bombas ou balas de borracha. Em seguida, os bombeiros foram acionados para controlar o fogo colocado pelos manifestantes. “É direito também das pessoas [manifestar]. O que ocorreu foi a ordem de dispersão. Eram cerca de 30 pessoas, incluindo mulheres e crianças”, afirma.

‘Parem de nos matar’

O caso aconteceu logo no dia em que o Aglomerado da Serra completava 200 dias sem registrar homicídios. Para a presidente da Associação do Cafezal, Cristiane Pereira, esse é um triste retrocesso. “A gente estava comemorando isso, para a polícia chegar e matar um. Por mais que o jovem seja envolvido [com a criminalidade], a família não, a família sofre duas vezes. É mais um jovem negro morto dentro da comunidade, sem expectativa nenhuma”, declara.

“Ninguém quer defender bandido, a gente quer defender uma vida, um jovem. Sempre que chega a polícia, a ideia é que ela prenda. Porque tirar a vida de um jovem desses, tira a vida de várias pessoas, da mãe, do pai, da avó que está ali chorando”, acrescenta.

No momento da operação policial, o organizador do Lá Da Favelinha e morador do aglomerado, Kdu dos Anjos, estava em uma transmissão ao vivo nas redes sociais. Ao saber da notícia, o artista aproveitou o momento para falar das demandas da comunidade. “A gente não está aqui fazendo juízo, estamos falando antes de qualquer coisa de uma vida, que é uma potência”, disse.

O cantor conta ao BHAZ que ouviu os barulhos do tumulto durante a live que realizava com a cantora Karol Conka e o estilista Ronaldo Fraga. De forma espontânea, Kdu desabafou sobre a violência na periferia. “Mais um jovem foi executado brutalmente por conta de uma violência que é vendida e às vezes ele nem sabe direito o que está acontecendo ali. Só é imposto, quase uma ditadura que é empurrada para o lado da periferia”, afirmou.

O posicionamento da polícia

Segundo o tenente-coronel Fábio Almeida, o assassinato de Charles não foi uma arbitrariedade e sim uma reação às ações da própria vítima. “Tudo que aconteceu foi em consequência da atitude da pessoa. O indivíduo que morreu é de alta periculosidade com envolvimento [no tráfico]”, declara.

O militar afirma que o policial que baleou o jovem não tinha opção no momento do confronto. “Ou ele atira, ou ele morre”, alega. De acordo com Fábio, a própria viatura que disparou contra Charles ainda tentou socorrer o jovem, para que ele sobrevivesse.

“A gente também não deseja que aconteça isso. Nós estamos lá para ajudar na comunidade, exatamente para tentar melhorar a vida das pessoas em relação a segurança. A atuação no Aglomerado da Serra é bastante profissional, tanto que bateu o recorde histórico de 200 dias sem homicídios”, conclui o militar.

Edição: Thiago Ricci
Guilherme Gurgel[email protected]

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Escreve com foco nas editorias de Cidades e Variedades no BHAZ.

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