Colapso da Saúde reacende dúvidas: O hospital de campanha resolveria?

Hospital de Campanha no Expominas
Estrutura chegou a ser instalada no Expominas (Gil Leonardi/Imprensa MG)

Desde que Romeu Zema anunciou o colapso do sistema de saúde do estado, muitas perguntas têm passado pela cabeça dos mineiros e, sem sombra de dúvidas, uma das principais é: mas e o hospital de campanha? Logo no início da crise em 2020, uma megaestrutura foi montada no Expominas, na região Oeste de BH, para atender as vítimas do vírus. Cinco meses depois, o hospital, que custou R$ 5,3 milhões – dos quais R$ 800 mil partiram de recursos públicos -, foi desmontado sem ter atendido um paciente sequer. Será que essa estrutura conseguiria tirar o estado do caos que se instalou agora?

Para o Governo de Minas, a resposta é não. Nesta terça-feira (16), o governador descartou a criação de um hospital de campanha para atender pacientes infectados pelo novo coronavírus. Segundo Zema, não há profissionais de saúde suficientes para preencher as vagas de um possível hospital e, por isso, a solução não passa por este caminho. Uma especialista ouvida pelo BHAZ afirma que, além da falta de profissionais, garante que há outros motivos pelos quais o hospital de campanha não é uma alternativa viável.

‘Necessário naquele momento’

“É bom recapitularmos que ele tinha 700 leitos de enfermaria e nós ampliamos em todo o estado mais de 10 mil leitos de enfermaria. Hoje temos condições de ampliar estes leitos se encontrássemos recursos humanos”, disse Zema. De acordo com o governador, ainda que a estrutura estivesse disponível para ocupação atualmente, faltariam funcionários.

“Se aquele hospital estivesse montado teríamos falta de profissionais para fazer atendimentos. Além disso, os pacientes ficam mais bem atendidos num hospital com UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e recursos. O hospital de campanha foi necessário naquele momento, pois não tínhamos previsão de como a pandemia iria se comportar”, disse.

Segundo o governador, a administração estadual estruturou o sistema de saúde no decorrer da pandemia. O gestor do estado descartou ainda utilizar médicos recém-formados e até mesmo aqueles que estão próximos da formatura para atuar na linha de frente. “Pessoas para trabalhar em UTI é equivalente a alguém para pilotar um avião. Não adianta fazer um curso de 30 dias e achar que a pessoa vai estar apta. Ela vai estar, inclusive, colocando em risco a vida de outras pessoas”, destacou.

Falta estrutura, falta gente

Ao BHAZ, a médica Samya Ladeira, infectologista pediátrica, explicou que o hospital não estaria apto para receber pessoas com os sintomas mais graves da Covid-19. A especialista afirma que, além da falta de profissionais para trabalhar, ainda falta uma estrutura adequada de UTI para receber os pacientes. “Se não tem leitos de UTI, não faz sentido ter leitos de enfermaria”, comenta. O ideal para o hospital funcionar de forma efetiva é que existissem leitos tanto para as Unidades de Tratamento Intensivo quanto para enfermaria.

“Se a gente não abrir um leito de UTI, não adianta abrir 100 enfermarias. Se as 100 pessoas ficassem em estado grave, para onde elas iriam?”, questiona a infectologista. Samya também ressaltou o mesmo problema levantado por Zema: a falta de profissionais na área. Graças ao fator global da crise de saúde, que faz todos os países se esforçarem para lidar com o avanço da Covid-19 em seus territórios, acabam se esgotando as possibilidades de trazer outros médicos de fora para o Brasil. “Estão até tentando abrir novos leitos, mas não tem o número de profissionais”, explicou a médica.

Com poucos recursos, o estado está saturado. Já não é tão simples encontrar profissionais que tenham a experiência mínima de dois anos em serviço de pronto atendimento de urgência e emergência. “O grande ‘boom’ é que mistura tudo. Não deixamos de ter surto de dengue, de H1N1 e ainda tem o coronavírus. A situação da Saúde no Brasil, de uma forma geral, ela já vem muito ruim. O coronavírus foi a gota d’água, porque já vivemos situações aqui em BH onde as pessoas não conseguiam ser internadas”, explica Samya ao citar os casos de surto de dengue de 2016 e 2019.

Pior momento

Minas Gerais enfrenta o pior momento da pandemia. O estado contabilizou, até esta terça, 980.687 diagnósticos positivos e 20.715 mortes, segundo o Boletim Epidemiológico da SES-MG (Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais). Tanto Zema, como o secretário de Saúde, Fábio Baccheretti pediram a cooperação da população para que o isolamento social seja respeitado por todos.

“Qualquer pessoa pode ir em um hospital, eu não recomendo, para ver uma pessoa implorando por atendimento médico. Se não tivermos espírito humanitário, daqui a pouco as filas saem do hospital e vão para as ruas”, disse Bacheretti.

O secretário também confirmou a queda na taxa do isolamento e reforçou o pedido de que as pessoas permaneçam em casa. “A onda roxa não pode ser uma cor no mapa. Regiões com esta onda não estão conseguindo isolamento suficiente, pois a população não vem respeitando. É difícil, está todo mundo cansado, mas é para os hospitais respirarem”, disse o secretário.

Edição: Giovanna Fávero
Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

Jordânia Andrade[email protected]

Repórter do BHAZ desde outubro de 2020. Jornalista formada no UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) com passagens pelos veículos Sou BH, Alvorada FM e rádio Itatiaia. Atua em projetos com foco em política, diversidade e jornalismo comunitário.

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