Metrô de BH: Mais um capítulo sem conclusão?

Moisés Santos/BHAZ

Nas últimas semanas voltou ao ar o assunto “metrô de Belo Horizonte”. Foi o prefeito Alexandre Kalil quem se encarregou de ressuscitar o tema, levantando a possibilidade de usar os recursos gerados por uma tal multa a empresa ferroviária, de mais de um bilhão, para a construção do nosso metrô.

Se fosse em outra época, eu ficaria interessado nos detalhes e até eufórico com essa possibilidade. Mas depois de ouvir tantas vezes falar disso e nada… me parece que será mais um capítulo de uma novela encruada. Como se prometia uma linha ligando o centro à Pampulha (ou mesmo a Savassi à Pampulha), passei mais de trinta anos esperando o dia em que poderia fazer parte de meu trajeto até o trabalho de um modo civilizado, mas acabei aposentado antes que houvesse meio metro de linha.

Diga-se o que se quiser a favor de ônibus, a única forma de transporte civilizada em grandes cidades é o metrô, até porque também civiliza as pessoas. Um colega me chamava atenção há alguns dias para como as estações e os metrôs de São Paulo são limpos e bem conservados, mesmo que transportem milhões de pessoas por dia. Isso acontece não porque haja milhares de funcionários de limpeza, mas porque os usuários se comportam com civilidade, já que também são tratados assim. Como ensinava pelas ruas do Rio de Janeiro o Profeta Gentileza (José Datrino): “gentileza gera gentileza”.

Minha descrença nessa volta ao assunto tem dupla razão. A primeira, porque isso acontece, como de outras vezes, quando se aproxima a eleição para prefeito. Nós todos ainda nos lembramos das tendas que Márcio Lacerda, quando candidato à reeleição, armou pela Avenida Afonso Pena afora, com letreiros que diziam aquilo ser prospecção de solo para a construção do metrô. Pura desfaçatez sem limites, nem mesmo o do ridículo. Eleição passada, não se falou mais nisso.

A segunda razão é que, em tempos de tanta truculência, duvido que haja político disposto a tratar a população com a gentileza que ela merece. Numa das ameaças anteriores de talvez termos metrô, o mesmo Márcio Lacerda, mais o então governador Aécio Neves foram à tevê para dizer que essa opção era muito cara, por isso preferiam fazer um BRT. E assim ficamos com dois corredores de ônibus, para gáudio das empresas que não dão conta do recado mas têm proteção dos políticos.

Platão dizia que cada regime visa a um bem em especial. Para os regimes oligárquicos, por exemplo, o bem maior é o dinheiro (para poucos), enquanto para as democracias não há nada mais importante que a liberdade. Ora, liberdade se exerce de dois modos básicos: poder dizer o que se quer e poder ir aonde se quer – o que se conhece pelos nomes de liberdade de expressão e liberdade de ir e vir. Que são essas as liberdades mais básicas se comprova por serem elas justamente que se tiram dos cidadãos que se julgam culpados e merecedores de castigo.

Conclusão: a falta de transporte público de qualidade representa, para o cidadão, privação do exercício de uma das formas de liberdade mais básicas, tanto quanto a censura representa para a liberdade de expressão. Em nossa cidade é disso que os cidadãos vêm sendo privados, pela visão tacanha de todos os seus prefeitos até agora, sem exceção.

Posso estar sendo pessimista, mas quando o assunto volta em época de eleição municipal cresce em mim a certeza de que vou morrer antes de que haja um metrô decente em Belo Horizonte.

Jacyntho Lins Brandão[email protected]

Jacyntho Lins Brandão é doutor em Letras Clássicas pela Universidade de São Paulo e professor de grego na Universidade Federal de Minas Gerais, onde foi diretor da Faculdade de Letras e Vice-Reitor. É autor de, entre outros, O fosso de Babel (romance) e A poética do hipocentauro (ensaio). Traduziu do original acádio o poema Ele que o abismo viu: epopeia de Gilgámesh, indicado para o Prêmio Jabuti de 2017. É membro da Academia Mineira de Letras.

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