Sobre empatia, sororidade, Carnaval e Marielle

Leonardo Sakamoto/Twitter/Reprodução + Agência Brasil/Fabio Rodrigues Pozzebom

A empatia pode ser considerada a capacidade de um indivíduo colocar-se no lugar do outro, independente da diferença entre eles. É semelhante à ideia de misericórdia, mas é um conceito ainda mais amplo e despido da acepção religiosa. O texto de hoje poderia ser o antigo clichê para parabenizar as mulheres pelo dia 8 de março, mas vai muito além disso. Hoje é dia de conversar sobre empatia e sororidade.

Na sexta-feira da semana passada, em um roda de discussão de um cursinho que leciono, tive o prazer de receber uma historiadora, feminista, jornalista (e amiga), a Izadora Fernando para tratar sobre a questão do feminismo no Brasil, tendo como referência o dia das mulheres. Como já era de se esperar a turma tinha muito mais meninas que meninos. É comum que as alunas se interessem mais sobre esse tipo de discussão. A maior parte dos comentários e das participações sobre o tema vinham também das meninas. É também o esperado. No fim das contas, as mulheres presentes na roda foram embora para casa felizes e reflexivas, os homens aparentemente desapontados e pensativos. É o normal.

Mas e se fosse diferente? Quando discutimos sobre a questão da empatia podemos colocar o debate em um patamar completamente diferente. Penso que os homens precisam entender a importância da luta das mulheres, do feminismo e da relevância da tentativa da luta por direitos iguais. O que encontramos é uma tentativa de tirar o crédito do movimento e alguns conceitos recorrentes que buscam “ofender” as mulheres feministas tentando colocá-las como pouco femininas ou tentando colocar o movimento como algo que defende a libertinagem, o fim da depilação ou a exibição excessiva dos corpos. Mas se nós, homens, pensássemos diferente muitas questões da nossa realidade poderiam ser diferentes.

Durante os dias de Carnaval vimos uma evolução interessante, o crescimento do “não é não”, uma maior luta contra o assédio. Ao mesmo tempo uma jovem de 19 anos foi estuprada na Praça da Estação, ato inclusive presenciado por outras pessoas que nada fizeram. Temos a convivência de duas realidades muito distantes, que aparecem juntas em uma mesma festa de rua. A imagem da mulher que luta contra o assédio e a imagem do homem que ainda acredita que a mulher pode ser abusada e estuprada. É claro que não estou fazendo nenhum tipo de generalização, mas levantando o quão preocupante é que esse tipo de situação ocorra. Será que se os homens estivesse mais engajados na luta das mulheres essas situações de abuso continuariam existindo?

Não sei se vocês acompanharam a notícia desse estupro aqui no BHAZ (relembre aqui), mas a situação foi tão absurda que a vítima relatou que pediu socorro para uma mulher e que ela riu da situação e não fez nada. Mais necessário que a empatia é a sororidade. É fundamental que as mulheres consigam se unir de uma maneira mais efetiva, que levantem as mesmas bandeiras, que busquem as mesmas mudanças. Quando uma mulher ignora o sofrimento da outra a situação fica ainda mais grave e preocupante. É preciso lutar para combater o assédio, a diferença salarial, a violência simbólica e todas as outras formas de opressão. Quando escrevo o texto de hoje não estou me inocentando e nem me colocando como um homem que não tem nem uma gota de machismo. Coloco-me, no caso, como alguém que reflete e busca, dia após dia, reduzir os pensamentos e atitudes machistas. Busco minha evolução aos poucos.

Por outro lado, a sociedade se organiza para manter os preconceitos. Quando entendemos que o 8 de março é uma data para levar flores ou bombons para a parceira ou quando entendemos que elogiar a mulher é exclusivamente levantar elogios relativos à beleza somos condizentes com as mesmas ideias sobre as mulheres que fortalecem o preconceito. O dia hoje precisa ser para exaltar a luta e a necessidade de mudança. É importante que no dia 8 de março possamos lembrar de Marielle Franco e de toda sua luta que foi silenciada de forma cruel e ainda anônima. Precisamos lembrar de todas as mulheres que sofrem preconceito e injustiça e que lutam diariamente para sobreviver em uma dupla ou tripla jornada. Hoje é dia de admirar, respeitar a ajudar na luta das mulheres. É dia de empoderamento. E como homens precisamos fazer parte disso ou pelo menos concordar que a mudança ocorra da forma mais rápida possível.

É perfeitamente possível defender uma causa sem ser o mais diretamente afetado pelo problema. O Brasil só vai conseguir mudar de patamar em relação às minorias quando o homem ficar indignado com o machismo, quando o heterossexual ficar indignado com a homofobia, quando o cisgênero se incomodar com a transfobia, quando o branco se incomodar com o racismo. Caso contrário ficaremos no mesmo limbo ideológico e esqueceremos de lutas muito importantes, como a do dia 8 de março.

Marcelo Batista[email protected]

Marcelo Batista é professor de redação no Bernoulli, no Qi, na plataforma Kuadro, na Qualoo e na Transvest. Graduado em letras pela UFMG, é o fundador da Aprendi com o Papai, plataforma que conta com um canal no Youtube e salinha de redação em Belo Horizonte. Com quase 15 anos de experiência em sala de aula, já trabalhou no ensino fundamental, médio, pré-vestibulares e preparatórios para concursos públicos, o que faz com que tenha uma grande proximidade não só com a educação, mas também com as temáticas mais relevantes para a juventude.

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