Caminhadas, passeios de bike e afins estão proibidos em BH

Caminhada em BH
Pessoas flagradas caminhando ou andando de bike serão abordadas pela Guarda Municipal (Moisés Teodoro/BHAZ)

As caminhadas e os passeios de bicicleta ou qualquer outra atividade em praças ou parques públicos estão proibidos em Belo Horizonte. A restrição já passa a valer a partir deste sábado (13). A medida extrema faz parte de um pacote de ações anunciadas há pouco, no início da tarde desta sexta (12), pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) para conter o avanço da Covid-19 (veja mais aqui).

“Não temos mais o que fechar. Só falta fechar supermercado, e o povo não ter o que comer, e fechar farmácia”, declarou o mandatário ao anunciar as novas medidas. As restrições valem para praças públicas, locais de caminhada e passeios de bicicleta. A PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) explicou que, quem for flagrado desrespeitando a norma, será abordado pela Guarda Municipal – mas não receberá multa ou algo do tipo.

Futebol profissional continua

Os jogos de futebol profissional, no entanto, continuam permitidos em Belo Horizonte. O médico infectologista Carlos Starling, que integra o Comitê de Combate à Covid-19 da PBH, justificou a decisão, em pronunciamento nesta tarde. “A análise de 67 interações entre times adversários em que pelo menos três jogadores tinham sido afastados, mas tinham contactantes jogando, nenhum atleta foi infectado. O risco de infecção durante o jogo em campo foi praticamente nulo”, explicou Starling, que participou de um estudo a respeito da prática do futebol durante a pandemia.

O especialista garante que não houve relação entre a incidência de casos na cidade e nos times de futebol profissional. De acordo com o infectologista, se as normas forem seguidas, o tempo de contato entre um jogador e outro, durante uma partida de futebol, não ultrapassa um minuto e 20 segundos, o que “não é suficiente para permitir qualquer tipo de transmissão viral”.

“Queria reforçar que esse dado se refere a atletas que fizeram teste 72 horas antes do jogo, não vale para pessoas que não foram testadas. É válido para o futebol profissional, para jogadores que foram testados, e não se aplica à pelada na esquina onde as pessoas se encontram”, completou Starling. De acordo com ele, o estudo será publicado no jornal acadêmico British Journal of Sports Medicine.

Novas medidas

Em meio à situação preocupante de ocupação de leitos para Covid-19 em Belo Horizonte, o prefeito anunciou hoje que serão suspensos cultos religiosos, retiradas em restaurantes, caminhadas e parques, além do comércio varejista da construção civil. Ainda de acordo com Kalil, a prefeitura começará a autuar e fechar atividades dentro de prédios comerciais. “A fiscalização será implacável em Belo Horizonte com quem ignora a doença. Não podemos deixar comerciantes, bares e gente séria pagar por irresponsáveis. Não podemos deixar botequim matar jovem de 23 anos e matar crianças de 1, 2 anos, bebês”, afirmou.

“Estão suspensas as atividades de comércio varejista da construção civil, cursos de língua, dança, arte, praças públicas, parques, caminhadas… Restaurantes só podem com delivery e funcionar de forma fechada. Proibida entrega no local. Loja de conveniência ate 18h, de segunda a sexta, sábado e domingo fechada. As aglomerações sejam qual for, serão proibidas e serão abordadas pela Guarda e pela PM”, detalhou o prefeito.

Momento crítico

Segundo o prefeito, a nova determinação ocorre por conta dos números da Covid-19 em BH. A cidade já estava na estaca zero, permitindo apenas o funcionamento de atividades essenciais, desde o último sábado (6). Os indicadores do novo coronavírus em BH, no entanto, continuam subindo, e todos estão em nível vermelho de alerta nessa quinta-feira (11), com a ocupação de UTIs praticamente a 90%.

De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) ontem, a cidade tinha 89,9% dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) destinados ao tratamento da Covid-19 ocupados, e a ocupação dos leitos de enfermaria está em 75,6%. O número médio de transmissão por infectado também subiu e está em 1,22, deixando todos os indicadores no nível vermelho e máximo de alerta. Quando Kalil decretou a volta à estaca zero, na sexta-feira passada, as UTIs estavam 81% ocupadas e os leitos de enfermaria, 61,9%.

Colapso está por vir?

Em entrevista realizada ao BHAZ ontem, o médico infectologista Unaí Tupinambás, integrante do comitê de enfrentamento à Covid-19 da PBH, já adiantava a preocupação com o cenário do sistema de saúde. “A situação do Brasil todo está preocupante, estamos tendo recordes de mortes diárias. O sistema funerário de algumas regiões do país pode colapsar, tem lugar que já não tem leito mais. Mesmo em BH, pode ter um colapso do sistema de saúde”, afirmou o especialista.

“Está na hora das pessoas seguirem os protocolos. Temos visto estabelecimentos abertos de forma clandestina, vamos ter que olhar com cuidado para vermos se conseguimos intensificar a vigilância, porque a PBH não consegue fiscalizar a cidade inteira. Temos que contar com a colaboração de todo mundo”, completou.

Tupinambás disse, ainda, que o ideal seria um movimento nacional para brecar o avanço da Covid. “Se fizéssemos um lockdown de 21 dias, no Brasil, o prejuízo econômico seria muito menor do que o que vamos ter com o enfrentamento inadequado da pandemia. Também precisaríamos de um auxílio emergencial decente, porque R$ 200 são para morrer de fome”, afirmou. “Um prefeito não teria o poder que um presidente tem de decretar um lockdown, acho que só mesmo um presidente poderia decretar medidas mais duras assim. Na prefeitura, a gente chama, solicita que as pessoas entendam o momento e colaborem”, finalizou o médico infectologista.

Escalada

Há exatamente uma semana, o prefeito Alexandre Kalil anunciou que a cidade voltaria à estava zero, na qual apenas os serviços considerados essenciais são liberados para funcionar. Essa era a medida mais rigorosa em BH desde o início da pandemia, em março do ano passado. Apesar da determinação municipal, alguns comerciantes insistem em desrespeitar o decreto.

Do último sábado (6), quando o decreto passou a vigorar, até ontem, 17 estabelecimentos precisaram ser interditados por descumprimentos, segundo a PBH. Fiscais de Controle Urbanístico e Ambiental fazem as fiscalizações com o apoio dos agentes da Guarda Municipal. Além das interdições, seis multas foram aplicadas no valor de R$ 18.359,66.

Edição: Thiago Ricci
Jordânia Andrade[email protected]

Repórter do BHAZ desde outubro de 2020. Jornalista formada no UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) com passagens pelos veículos Sou BH, Alvorada FM e rádio Itatiaia. Atua em projetos com foco em política, diversidade e jornalismo comunitário.

Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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