A cantora Coral foi agredida, esfaqueada e roubada no Viaduto Santa Tereza, região Leste de BH, na madrugada do último sábado (18) de Carnaval. Pelas redes sociais, a artista trans não-binária fez um desabafo e se queixou da omissão da Polícia Militar e das pessoas em volta que assistiam a cena.
“Tinha muita gente no local em que fui agredida, e ninguém fez nada para me ajudar. A polícia foi acionada e também não fez nada. Consegui ajuda logo depois. Tentei falar com a polícia, mas eles não me prestaram socorro, nem me levaram para o hospital ou registraram boletim de ocorrência”, relata Coral. Ela afirma que os militares somente pediram para ela chamar um táxi.
Quando chegou ao hospital, a equipe médica relatou que ela era a quinta travesti agredida somente naquela noite. “O trauma é imenso, ainda estou tentando me recuperar aos poucos. Estou bem, como vocês podem ver”.
‘Assistiram como se fosse entretenimento’
A artista compartilha algumas reflexões no desabafo. “A primeira coisa é que é muito curioso, e muito doloroso, como meu corpo, às vezes, é celebrado, abusado e outras vezes é completamente ignorado”.
“Quando estou em cima dos palcos, cantando minhas músicas, sou venerada. Quando estou andando nas ruas, eu sou assediada. E quando estou no chão, levando porrada e pedindo ajuda, eu sou completamente ignorada”, continua.
Ela ainda afirma que as pessoas ficaram “assistindo como se fosse entretenimento”. “Como se eu não existisse de fato. Isso é um sintoma de vocês, quando falo vocês falo da cisgeneridade. Nós precisamos que vocês conversem sobre isso, para que corpos como o meu, parem de sangrar. Quem me bateu e quem assistiu a cena, essas pessoas estão adoecidas”.
“Para as minhas manas, meus manos, travestis e pessoas trans: a gente tem que ter muita vontade de viver, muita coragem. Estamos vivendo uma guerra. A rua é uma guerra. Nós vivemos num mundo que é institucionalizado com a violência contra os nossos corpos, com requintes de crueldade”.
Coral relata que as estatísticas são reais. “Nunca pensei que isso fosse acontecer comigo, ainda que soubesse das estatísticas. Doeu muito, e ainda dói muito. Estou me cobrindo de afeto para me curar do trauma e das feridas. Sigo viva, não vão conseguir me matar”, completa.
O BHAZ entrou em contato com a Polícia Militar para entender o motivo não ter sido registrado nenhum boletim de ocorrência. O portal ainda questionou sobre o tratamento da situação pelos militares e sobre as outras quatro travestis agredidas, segundo a cantora. Até o momento, não obtivemos respostas. Assim que a corporação responder, a matéria será atualizada.
Para tentar recuperar os bens perdidos durante o crime, ela está fazendo uma vaquinha. “Além de ter sido agredida, eu fui roubada”. Quem puder ajudar, doe qualquer valor para o PIX: [email protected] (em nome de: Paulo F N P Sampaio). “A gente achou melhor não usar os sites de vaquinha para evitar taxas, mas o total arrecadado será informado por Stories diariamente”.