Carnaval dos ambulantes? Trabalhadores se queixam de concorrência e falta de fiscalização em BH

Carnaval de BH teve mais de 20 mil ambulantes credenciados (Jonas Rocha/BHAZ)

Quem saiu pelas ruas de Belo Horizonte nos últimos dias notou a quantidade de ambulantes trabalhando no Carnaval de 2024. A impressão que ficou para alguns é a de “ambulantes demais para foliões de menos”. Mas como fica essa situação para quem tira o sustento das vendas? O BHAZ ouviu alguns comerciantes para entender melhor o cenário.

De acordo com a Belotur (Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte), 20.899 ambulantes se cadastraram para atuarem no Carnaval deste ano. O número representa um aumento de 30% em comparação com os registros da folia em 2023.

Esses dados se refletiram nas avenidas e também no bolso dos trabalhadores. Para Juliana Ventura, que vende bebidas no Carnaval de BH há 4 anos, o comércio foi menos vantajoso este ano.

“Esse ano teve muito ambulante. Você chega no bloco e tem mais ambulante do que folião. Fora que tem gente vendendo sem crachá, o que prejudica a gente que passou mais de 10 horas na fila [do credenciamento]. Eu não vi nenhuma fiscalização até agora”, afirma.

Outro problema apontado por Juliana é a alta no preço do gelo, necessário para manter a temperatura das bebidas: “Esse ano deixou o comércio abrir e eles conseguem deixar o preço abaixo do nosso, já que o gelo esse ano está muito caro. Com esse calor a gente está perdendo todo o lucro no gelo”.

A queixa é a mesma de Maria de Fátima Souza, que viu as vendas caírem comparadas ao Carnaval de 2023. “Várias promessas foram feitas para nós no cadastramento, dizendo que teriam pontos de distribuidoras mais perto dos blocos, mas chegando aqui não tem”, diz.

“A gente fica triste, porque a gente lutou tanto para conseguir a credencial para a gente poder trabalhar e na hora de tirar o dinheiro que lutamos tanto acontecem várias situações diferentes para atrapalhar”, lamenta.

Credenciamento em BH

Para o presidente da Associação dos Trabalhadores Ambulantes de Belo Horizonte, Adjailson Severo, os critérios de credenciamento precisam ser repensados para melhorar o cenário daqui para frente. “Muitas pessoas que se credenciaram não eram de Belo Horizonte, tinha gente até de outros estados”, comenta.

Em janeiro, a fila para credenciamento de ambulantes do Carnaval chegou a dobrar a esquina da rua Paracatu, na região Centro-Sul da cidade. Durante os dias de cadastro, trabalhadores perderam dias de trabalho e chegaram a protestar para conseguir os crachás.

“Venho recebendo ligações e muitas reclamações de trabalhadores e trabalhadoras ambulantes antigos de rua, que há anos vivem desses grandes eventos da nossa cidade e muitos desses que foram credenciados nunca foram ambulantes, são empresários donos de grandes distribuidoras de bebidas. É muito triste a gente ver um ambulante em cima do outro”, completa.

O que diz a Belotur?

Em nota enviada ao BHAZ, a Belotur informou que irá se reunir as associações de ambulantes para conversar sobre o tema e estudar soluções para a próxima edição da folia. A reunião, que ainda não tem data marcada, deve ocorrer após o fim do período oficial de Carnaval em BH, no próximo domingo (18).

A Prefeitura de BH também falou sobre a fiscalização nos blocos: “A Prefeitura de Belo Horizonte informa que atua na fiscalização dos desfiles com um efetivo de 600 profissionais que realizam uma média de 700 ações fiscais diária. Grande parte desse número refere-se a abordagens orientativas e também apreensões de mercadorias em desconformidade com as normas do cadastro a exemplo de comercialização de bebidas em vasilhames de vidros” . 

“A fiscalização prioriza ações de cumprimento de normas relacionadas  a segurança dos foliões, cumprimento  da programação dos blocos, dispersão de ambulantes no encerramento do desfile e licenciamento de eventos”, finaliza o texto.

Edição: Lucas Negrisoli
Isabella Guasti[email protected]

Jornalista graduada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022 e também de reportagem premiada pelo Sebrae Minas em 2023.

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