Agressões, acusação de furto e trauma: Casal denuncia humilhação em Drogaria Araujo

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Homem levou socos e chutes e sofre com traumas psicológicos (Denise Santos/Instagram/Reprodução)

Um casal denuncia, por meio das redes sociais, ter sofrido humilhação e agressões em uma unidade da Drogaria Araujo, provocadas por funcionários da farmácia e por um morador dos arredores, no bairro Floresta, na região Leste de Belo Horizonte. O caso ocorreu na segunda (7). O homem levou socos e chutes no estacionamento do local após ser acusado de roubo, junto da esposa. Agora, o casal lida com os traumas físicos e psicológicos gerados pelo episódio. A drogaria afirma não tolerar atitudes como essa e garante que “providências estão sendo tomadas” (veja abaixo).

Denise Santos, mulher negra de 41 anos que trabalha como cuidadora de idosos, foi a responsável por compartilhar o relato nas redes. Segundo a publicação, o marido dela, Ivalteir José da Silva, de 49 anos, a estava levando ao trabalho, por volta das 18h45, quando os dois resolveram passar na farmácia, frequentada pelos dois há cerca de 5 anos.

Enquanto ela foi ao caixa pagar pelo que compraria, o marido resolveu esperar fora da farmácia com uma mochila, que acabou apitando quando ele passou pelo alarme. “A gerente então se aproximou do meu marido com olhar que sugeria tom acusatório. Eu, enquanto como esposa e mulher negra já conheço bem este olhar de acusação e achei necessário esperarmos na porta, receosa de qualquer acusação”, escreveu Denise.

“Na sequência, meu esposo me acompanhou até a esquina da mesma rua (até o prédio onde trabalho) e voltou para o ponto de ônibus (que é em frente a drogaria) e se sentou no passeio enquanto aguardava a condução.
De repente, a gerente da Araujo saiu da loja muito nervosa chamou um morador do outro lado da rua, que, em seguida, vieram em direção ao meu esposo e perguntaram se havia voltado para buscar uma tal bolsa. Sem entender, meu esposo questionou de qual bolsa se tratava”, completou ela na publicação.

Segunda-feira (07/09/2020) às 18:46:36, meu esposo homem íntegro, honesto, trabalhador, marido e pai dedicado foi me…

Posted by Denise Cristina on Wednesday, September 9, 2020

Acusações e agressão

Ainda segundo a publicação de Denise, a gerente da farmácia logo começou a acusar Ivalteir de furto, chamando-o de “vagabundo” e “ladrão”. O morador que havia sido chamado pela gerente começou a repetir as acusações e jogou o cliente no chão do estacionamento da drogaria, passando a socá-lo no ouvido, nas costas e no peito, além de rasgar todas as compras do casal e jogá-las no chão.

“Para finalizar a situação de agressão, vexame, dor e humilhação, a gerente e mais três funcionários da loja fizeram uma roda junto com este morador (que se apresentou como policial militar aposentado), xingando a mim e meu marido, dizendo que eu era cúmplice e comparsa, alegando que já havíamos roubado a drogaria antes, e afirmou que viu nas câmeras que nós roubamos e colocamos na bolsa”, relatou Denise.

“Meu esposo foi jogado para fora da loja aos chutes onde um deles pegou de raspão em seu joelho que tem parafusos, sentindo muita dor. Além das dores físicas, a maior de todas ficou: emocional, a dor na alma, de um homem honesto e trabalhador, que foi exposto a todo tipo de humilhação, por pessoas que se sentem no direito de caluniar, agredir e agir de forma preconceituosa”, completou.

Em nota, a Drogaria Araujo se posicionou sobre o assunto: “Estamos em contato direto com a cliente para solucionar o caso. Não toleramos atitudes de assédio, discriminação ou violência de qualquer tipo. Nosso processo de auditoria já está sendo feito e as providências estão sendo tomadas”.

Trauma

As vítimas chamaram a polícia e registraram um boletim de ocorrência, denunciando o ocorrido. Um dos advogados que representa o casal, que preferiu não se identificar, conta que os dois estão profundamente traumatizados com a violência sofrida. Além dos danos psicológicos, eles lidam com as consequências físicas causadas pelas agressões que Ivalteir sofreu.

Segundo o advogado, o homem está sofrendo com crises de pânico, além de estar com a perna e o ouvido machucados pelas agressões. O casal afirma nunca ter passado por nada parecido, apesar de Denise ressaltar que já recebeu olhares similares aos que percebeu no momento, por ser uma mulher negra, e “já sabia” que seria acusada de furto quando viu a reação da gerente.

Ivalteir foi socorrido e levado à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e ao IML (Instituto Médico Legal) e receberá atendimento médico pelo SUS (Sistema Único de Saúde). O casal, de acordo com o advogado, não tem dinheiro para pagar tratamentos psicológicos no momento.

Justiça

O advogado acompanha a investigação aberta pela Polícia Civil, e afirma que a equipe jurídica da drogaria já entrou em contato e não negou o ocorrido. O defensor cobra que, no mínimo, a empresa cubra os custos dos tratamentos físicos e psicológicos pelos quais o casal terá que passar e ressalta que a honra dos dois foi ferida.

Os advogados também se mobilizam para obter imagens de câmeras de segurança ao redor do local, que mostrem a sequência do ocorrido. A depender do que a Araújo propuser como reparação, os defensores decidirão se acionarão ou não a empresa na Justiça.

Edição: Roberth Costa
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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