A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Minas Gerais acredita que a ação policial que resultou na morte do adolescente Pedro Henrique Costa, no bairro Nova Gameleira, em Belo Horizonte, precisa ser investigada com “transparência e honestidade”.
William dos Santos, diretor de Inclusão da entidade, afirma ao BHAZ que a vida do jovem foi “ceifada pela brutalidade”. Ele conta que, segundo a família do garoto, Pedro Henrique não tinha contato com drogas e nunca portou uma arma. O jovem estaria, na verdade, saindo da casa da namorada.
“Contatos que eu tenho dentro do IML, que fizeram a exumação, apontaram que todos os projéteis encontrados no corpo do garoto são compatíveis com aqueles de uso exclusivo da polícia”, adianta William. Ele afirma, porém, que isso ainda precisa ser apurado oficialmente na investigação.
Segundo a Polícia Militar, o jovem de 15 anos estava armado junto a um grupo de traficantes da região e teria apontado um revólver contra a equipe.
Na noite desse sábado (20), a corporação divulgou um áudio em que um morador da região se queixava de um grupo de traficantes armados entre as ruas Cândido de Souza e Estevão Musso (relembre aqui).
‘Excessos estão fazendo vítimas inocentes’
“A Academia da PM impressiona pela qualidade da formação dos seus quadros, então defendemos esse papel de reciclagem do policial que está na rua”, diz William.
Para o diretor de Inclusão da OAB/MG, o policial que veste a farda “representa o estado”, então a população espera uma polícia cidadã. Ele pontua, contudo, que essa não é a realidade atual em Minas Gerais.
“A polícia que faz o trabalho ofensivo, com atuação direta com a população, tem um padrão de trabalho que está sendo ultrapassado. Achamos que o uso excessivo das forças está evidente e isso leva ao endurecimento da violência por parte do estado”, defende William, que destaca um dado importante: os maiores alvos de operações que acabam em morte são pessoas das periferias, pretas e pobres.
Atualmente, o apelo que a OAB/MG faz é para o uso obrigatório de câmeras nos uniformes, além da requalificação dos policiais militares.
Sobre as declarações do diretor da OAB, o BHAZ solicitou posicionamento da Polícia Militar. Tão logo a corporação responda, esta matéria será atualizada.
PM alega legítima defesa
Após receberem a denúncia sobre a presença de traficantes no local, os policiais foram até a região e fizeram a aproximação a pé, já que se trata de um beco de difícil acesso.
O grupo então teria tentado fugir, dando de cara com outra equipe de militares posicionada em meio à rota de fuga, no final de um escadão.
Paulo teria se aproximado dos policiais com a arma e desobedecido às ordens para deixar o objeto no chão. Ainda segundo consta na ocorrência, dois militares atiraram nove vezes contra o adolescente em legítima defesa, como uma “estratégia de preservação da vida”.
Ele foi levado para o Hospital João XXIII, onde foi constada a morte. Na unidade de saúde, um enfermeiro encontrou seis munições no bolso da bermuda de Paulo. A arma supostamente utilizada por ele, um revólver calibre 32, foi apreendida e encaminhada à Polícia Civil.
Policiais serão investigados
Em nota enviada ao BHAZ, a corporação informou que esteve no local dos fatos “para coletar elementos que irão subsidiar a investigação”.
O corpo do adolescente foi encaminhado ao Instituto Médico-Legal dr André Roquette e foi submetido a exames.
Já os policiais militares envolvidos na ocorrência foram encaminhados para “providências militares”. Um inquérito policial foi instaurado para a apuração do ocorrido.