Constantemente premiado, principalmente por causa da pontualidade com voos, o Aeroporto Internacional de BH, em Confins, vem apresentando irregularidades no tratamento dado aos funcionários que mantém a operação ativa. A Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Minas Gerais apresentou denúncias dos trabalhadores contra o terminal nesta sexta-feira (12). Entre as principais queixas estão assédio moral e falta de acesso à água e aos banheiros.
A operação denominada “Voo Seguro” contou com a participação de 33 auditores-fiscais do trabalho. Após cerca de quatro meses de investigação, os agentes emitiram 241 multas para 19 empresas, incluindo companhias aéreas e a administradora do aeroporto, a BH Airport.
A equipe de fiscalização afirma ter identificado uma série de irregularidades para o público interno, que são os trabalhadores que ali estão com certa frequência, quase que todos os dias.
“São questões graves de saúde e segurança. Existe água, existe banheiro e existem assentos para descanso entre uma aeronave e outra, porque é um trabalho muito pesado de carregamento de malas e pneus de até 180 kg. Só que eles [os funcionários] são impedidos muitas vezes de acessar e se deslocar para tomar água, ir ao banheiro. Temos recorrentemente os trabalhadores com estes tipos de reclamações”, afirma a auditora-fiscal do trabalho Julie Teixeira.
‘Ambiente de trabalho adoecido’
No aeroporto existem cerca de 7 mil funcionários entre próprios e terceirizados. Os problemas relatados pelos trabalhadores se equivalem à complexidade da operação, segundo as fiscalizações.
“Estamos falando de um ambiente de trabalho adoecido. Estamos falando de um assédio moral organizacional. Ele acontece quando a organização do trabalho, porque é desorganizada, causa um estresse, um sofrimento psíquico aos trabalhadores, explica o auditor Lucas Oliveira.
Ainda segundo o agente, as companhias aéreas e a administradora do aeroporto contratam as empresas terceirizadas, mas não deixam as subcontratadas trabalharem da forma como deveriam. Então elas acabam dando ordens diretas aos funcionários.
“Isso atrapalha a operação para os trabalhadores, porque ficam sem saber qual é o regramento, como executar as tarefas, quem é o chefe imediato. Isso complica a vida do trabalhador, leva ele a um estresse impressionante. E somado às outras irregularidades como jornada, falta de descanso, trabalho fisicamente estressante, tudo isso leva a um estresse psicológico muito grande”.
Automedicação e busca por melhorias
Mediante a esses problemas, a automedicação se torna um hábito comum entre os funcionários, segundo o médico do trabalho Luiz Antônio Rabelo Rocha.
“Eles usam, principalmente, anti-inflamatório de vários tipos, analgésicos e relaxantes musculares. Existem também os ansiolíticos e antidepressivos que eles obtêm as receitas nas comunidades próximas às suas casas”.
De acordo com Julie, essas questões são muito relevantes e precisam ser melhoradas para evitar que os problemas continuem entre os funcionários.
Neste momento, há a fase de elaboração dos relatórios fiscais. As empresas recebem os atos de notificação e podem recorrer em até 10 dias. Já em agosto, a equipe da Superintendência vai montar um planejamento para que as condições de trabalho sejam melhoradas.
“Nosso objetivo maior é a melhoria das condições e reduzir esses acidentes para que a gente não tenha esse tipo de situação e o Aeroporto de Confins seja sim premiado para o público externo e para o público interno”, finaliza a auditora.
O que diz o BH Airport?
“A concessionária informa que ainda não foi notificada sobre o resultado da auditoria conduzida pelo Ministério do Trabalho e Emprego, de forma que não é possível diferenciar o que cabe a ela e o que é de responsabilidade das outras 18 empresas citadas. Com esse entendimento, prestará os devidos esclarecimentos em total cooperação com o Ministério do Trabalho e Emprego, confiante de que eventuais pontos serão devidamente equacionados.
A concessionária reafirma seu compromisso com a segurança, o bem-estar e o respeito a todos os colaboradores da comunidade aeroportuária, em total observância à legislação aplicável”.