Kalil descarta toque de recolher em BH: ‘Temos é que fechar de dia’

Ruas de BH
Prefeito afirma que ‘não adianta’ abrir a cidade durante o dia e fechá-la à noite (Amanda Dias/BHAZ)

O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), descartou a implementação de um toque de recolher na cidade, em coletiva de imprensa concedida no início da tarde desta sexta-feira (12). Para ele, “não adianta abrir a cidade toda” durante o dia e impedir que as pessoas circulem à noite. Apesar de não recorrer ao toque de recolher, o mandatário endureceu outras medidas de restrição para combater o avanço da Covid-19 na cidade (veja mais aqui).

“Não adianta abrir a cidade toda e fazer toque de recolher à noite. O que temos que fazer é fechar de dia pra não ter motivo para andar de noite. Isso atrapalha os profissionais que precisam fazer plantão à noite ou durante a madrugada. Estudamos essa possibilidade [do toque de recolher], mas isso não adianta se não tiver uma decisão durante o dia”, justificou Kalil ao afirmar que não pensa na possibilidade de aplicar a medida no momento.

O prefeito da capital mineira também comentou sobre a lotação do transporte público em BH, mesmo com a suspensão do funcionamento das atividades não essenciais. “O transporte coletivo não pode estar como está. O que nos causa estranheza não é o transporte estar lotado, é o que esse povo está fazendo na rua. Por que está lotado? Não tiramos ônibus, fechamos a cidade, e vai continuar lotado? O transporte publico é um problema no Brasil inteiro. Não temos mais o que fechar. Só falta fechar supermercado, e o povo não ter o que comer, e fechar farmácia”, afirmou Kalil nesta tarde.

Novas medidas

Em meio à situação preocupante de ocupação de leitos para Covid-19 em Belo Horizonte, o prefeito anunciou hoje que serão suspensos cultos religiosos, retiradas em restaurantes, caminhadas e parques. Ainda de acordo com Kalil, a prefeitura começará a fechar autuar e fechar atividades dentro de prédios comerciais. “A fiscalização será implacável em Belo Horizonte com quem ignora a doença. Não podemos deixar comerciantes, bares e gente séria pagar por irresponsáveis. Não podemos deixar botequim matar jovem de 23 anos e matar crianças de 1, 2 anos, bebês”, afirmou.

“Estão suspensas as atividades de comércio, construção civil, cursos de língua, dança, arte, praças públicas, parques, caminhadas… Restaurantes só podem com delivery e funcionar de forma fechada. Proibida entrega no local. Loja de conveniência ate 18h, de segunda a sexta, sábado de domingo fechada. As aglomerações sejam qual for, serão proibidas e serão abordadas pela Guarda e pela PM”, detalhou o prefeito.

Momento crítico

Segundo o prefeito, a nova determinação ocorre por conta dos números da Covid-19 em BH. A cidade já estava na estaca zero, permitindo apenas o funcionamento de atividades essenciais, desde o último sábado (6). Os indicadores do novo coronavírus em BH, no entanto, continuam subindo, e todos estão em nível vermelho de alerta nessa quinta-feira (11), com a ocupação de UTIs praticamente a 90%.

De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) ontem, a cidade tinha 89,9% dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) destinados ao tratamento da Covid-19 ocupados, e a ocupação dos leitos de enfermaria está em 75,6%. O número médio de transmissão por infectado também subiu e está em 1,22, deixando todos os indicadores no nível vermelho e máximo de alerta. Quando Kalil decretou a volta à estaca zero, na sexta-feira passada, as UTIs estavam 81% ocupadas e os leitos de enfermaria, 61,9%.

Colapso está por vir?

Em entrevista realizada ao BHAZ ontem, o médico infectologista Unaí Tupinambás, integrante do comitê de enfrentamento à Covid-19 da PBH, já adiantava a preocupação com o cenário do sistema de saúde. “A situação do Brasil todo está preocupante, estamos tendo recordes de mortes diárias. O sistema funerário de algumas regiões do país pode colapsar, tem lugar que já não tem leito mais. Mesmo em BH, pode ter um colapso do sistema de saúde”, afirmou o especialista.

“Está na hora das pessoas seguirem os protocolos. Temos visto estabelecimentos abertos de forma clandestina, vamos ter que olhar com cuidado para vermos se conseguimos intensificar a vigilância, porque a PBH não consegue fiscalizar a cidade inteira. Temos que contar com a colaboração de todo mundo”, completou.

Tupinambás disse, ainda, que o ideal seria um movimento nacional para brecar o avanço da Covid. “Se fizéssemos um lockdown de 21 dias, no Brasil, o prejuízo econômico seria muito menor do que o que vamos ter com o enfrentamento inadequado da pandemia. Também precisaríamos de um auxílio emergencial decente, porque R$ 200 são para morrer de fome”, afirmou. “Um prefeito não teria o poder que um presidente tem de decretar um lockdown, acho que só mesmo um presidente poderia decretar medidas mais duras assim. Na prefeitura, a gente chama, solicita que as pessoas entendam o momento e colaborem”, finalizou o médico infectologista.

Escalada

Há exatamente uma semana, o prefeito Alexandre Kalil anunciou que a cidade voltaria à estava zero, na qual apenas os serviços considerados essenciais são liberados para funcionar. Essa era a medida mais rigorosa em BH desde o início da pandemia, em março do ano passado. Apesar da determinação municipal, alguns comerciantes insistem em desrespeitar o decreto.

Do último sábado (6), quando o decreto passou a vigorar, até ontem, 17 estabelecimentos precisaram ser interditados por descumprimentos, segundo a PBH. Fiscais de Controle Urbanístico e Ambiental fazem as fiscalizações com o apoio dos agentes da Guarda Municipal. Além das interdições, seis multas foram aplicadas no valor de R$ 18.359,66.

Para garantir o efetivo cumprimento das determinações da decisão do Executivo municipal, “a PBH salienta que intensificou a fiscalização e as ações estão sendo realizadas em todas as nove regiões da cidade”. Perante o decreto em vigor antes do anúncio de hoje, apenas as seguintes atividades estavam autorizadas a funcionar na cidade:

  • Padaria – todos os dias, de 5h a 22h
  • Comércio varejista de laticínios e frios – 7h a 21h
  • Açougue e Peixaria – 7h a 21h
  • Hortifrutigranjeiros – 7h a 21h
  • Minimercados, mercearias e armazéns – 7h a 21h
  • Supermercados e hipermercados – 7h a 22h
  • Artigos farmacêuticos – sem restrição de horário
  • Artigos farmacêuticos, com manipulação de fórmula – sem restrição de horário
  • Comércio varejista de artigos de óptica – sem restrição de horário
  • Artigos médicos e ortopédicos – sem restrição de horário
  • Tintas, solventes e materiais para pintura – 7h a 21h
  • Material elétrico e hidráulico, vidros e ferragem – 7h a 21h
  • Madeireira – 7h a 21h
  • Material de construção em geral – 7h a 21h
  • Combustíveis para veículos automotores – sem restrição de horário
  • Peças e acessórios para veículos automotores – 8h a 17h
  • Comércio varejista de gás liquefeito de petróleo – GLP – sem restrição de horário
  • Comércio atacadista da cadeia de atividades do comércio varejista listado nesta relação – 5h a 17h
  • Agências bancárias: instituições de crédito, seguro, capitalização, comércio e administração de valores imobiliários – sem restrição de horário
  • Casas lotéricas – sem restrição de horário
  • Agência de correio e telégrafo – sem restrição de horário
  • Comércio de medicamentos para animais – sem restrição de horário
  • Atividades de serviços e serviços de uso coletivo, exceto os especificados no art. 2º do Decreto nº 17.328, de 8 de abril de 2020 – sem restrição de horário
  • Atividades industriais – sem restrição de horário
  • Restaurantes e outros serviços de alimentação, desde que em sistema de delivery ou retirada na porta – sem restrição de horário
  • Banca de jornais e revistas – sem restrição de horário
  • Restaurantes, lanchonetes, bares e estabelecimentos congêneres no interior de hotéis, pousadas e similares, para atendimento exclusivo aos hóspedes – sem restrição de horário
  • Atividades acima, em funcionamento no interior de shopping centers, galerias de loja e centros de comércio – deverão ser observados os horários de cada atividade
Edição: Thiago Ricci
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

Jordânia Andrade[email protected]

Repórter do BHAZ desde outubro de 2020. Jornalista formada no UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) com passagens pelos veículos Sou BH, Alvorada FM e rádio Itatiaia. Atua em projetos com foco em política, diversidade e jornalismo comunitário.

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