O prefeito Alexandre Kalil (PSD) acusou a administração da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) de incompetência ao lidar com o rodízio de abastecimento de água na Grande BH. De acordo com o mandatário, a companhia “foi saqueada”.
“Que não teve planejamento, todo mundo sabe. Que não sabem fazer, todo mundo sabe”, disparou o prefeito quando questionado sobre os problemas denunciados por moradores no racionamento de água.
As declarações foram feitas após inauguração da nova sede do Centro de Saúde Ventosa, nesta terça-feira (15). “Estão cobrando taxa de esgoto para quem não tem esgoto. Saquearam a Copasa, bateram a carteira da Copasa. Se me explicar como distribuíram R$ 1 bilhão pra empresários, eu estou satisfeito”, continuou Kalil.
“Assaltaram a Copasa. Se fosse da prefeitura isso não tinha acontecido. O que vem de incompetência, de inoperância, o poder privado botou a mão em R$ 500 milhões de bonificação em vez de investir na Copasa”, finalizou o prefeito.
Recursos repassados a acionistas
De acordo com o Sindágua-MG (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos do Estado de Minas Gerais), em 2020, a Copasa distribuiu em dividendos mais de R$ 1 bilhão aos acionistas da companhia, apesar de ter atingido um lucro líquido de R$ 816 milhões.
“Além de distribuir aos acionistas prêmios muito maiores que o lucro líquido, a empresa mostra-se completamente negligente nos contratos de programa com os municípios, realizando apenas R$ 382 milhões dos R$ 853.300 milhões previstos para os investimentos”, protestou o sindicato em 2021.
Os R$ 500 milhões citados por Kalil são, ainda conforme divulgado pelo Sindágua-MG no ano passado, equivalem ao montante repassado pela Copasa em sua 15ª emissão pública de debêntures simples.
O que diz a Copasa?
Procurada pelo BHAZ, a Copasa esclareceu informações a respeito das declarações do prefeito Alexandre Kalil. “De 2019 a 2021, os primeiros três anos da atual gestão, a Copasa investiu mais de R$ 1,9 bilhão em obras para fazer frente aos desafios impostos pela forma como a companhia foi gerida na gestão anterior, em função de compromissos assumidos e não cumpridos junto aos municípios”, começou.
A companhia apontou que entre 2015 e 2017, quando a gestão “era alinhada com a atual prefeitura,” foram investidos cerca de 25% a menos do que na gestão do governador Romeu Zema (Novo).
Sobre o repasse de dividendos, a Copasa argumenta que em 2015 houve prejuízo de R$ 11,6 milhões e mesmo assim R$ 8 milhões foram distribuídos para acionistas, sendo que, ainda segundo o órgão, “nunca houve questionamento sobre tal informação”.
A companhia também afirma que o rodízio de abastecimento, provocado pelo rompimento da adutora do sistema Serra Azul, não tem a ver com a distribuição de dividendos, e sim com um incêndio que a empresa não poderia prever.
“A atual administração da Copasa tem buscado dar solução de forma ágil e eficiente aos desafios operacionais existentes, que não são poucos, notadamente para regularizar obrigações assumidas e não cumpridas pela gestão anterior”, completa o órgão por meio de nota (leia na íntegra abaixo).
Rodízio de abastecimento
Desde a última terça-feira (8), a Copasa implantou um rodízio em oito cidades da Grande BH: Belo Horizonte, Betim, Contagem, Santa Luzia, Vespasiano, Lagoa Santa, São José da Lapa e Ribeirão das Neves.
A cada três dias, uma das quatro regiões do plano de rodízio fica sem água. O abastecimento é interrompido às 22h e o retorno ocorre no mesmo horário do dia seguinte. A área afetada fica desabastecida por 24 horas. Confira aqui as datas e regiões afetadas.
Ao longo do rodízio da Copasa, moradores se queixaram de diversas situações em que o serviço foi interrompido fora do horário previsto ou até mesmo em bairros que não estavam na lista.
As obras emergenciais realizadas pela Copasa após o rompimento da adutora do sistema Serra Azul estão dentro do cronograma previsto, de acordo com a companhia. Com isso, a construção de adutora provisória deve ser concluída na sexta-feira (18).
O rodízio de abastecimento foi provocado pelas obras emergenciais. Com a conclusão delas, a previsão do fim do plano de racionamento é no domingo (20), conforme já havia sido estipulado pela companhia.
Nota da Copasa
“Sobre a fala do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, na manhã desta terça-feira, 15 de março, a Copasa esclarece que:
1) De 2019 a 2021, os primeiros três anos da atual gestão, a Copasa investiu mais de R$ 1,9 bilhão em obras para fazer frente aos desafios impostos pela forma como a Companhia foi gerida na gestão anterior, em função de compromissos assumidos e não cumpridos junto aos municípios.
2) Entre 2015 e 2017, os três primeiros anos da gestão passada, que era alinhada com a atual prefeitura, foram investidos cerca de 25% a menos do que na gestão do governo Zema.
3) Em 2015, primeiro ano da gestão passada, a Copasa teve prejuízo de R$ 11,6 milhões e ainda assim distribuiu R$ 8 milhões em dividendos para acionistas. Nunca houve questionamento sobre tal informação.
4) Até dezembro de 2022, a Copasa terá investido mais de R$ 3,3 bilhões, valor 50% a mais do que no governo passado;
5) Em uma companhia de capital aberto como a Copasa, com ações negociadas na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, quando bem administrada, a distribuição de lucros é uma rotina. Empresas sólidas econômicas e financeiramente como a Copasa buscam a máxima eficiência, para gerar o maior resultado para fazer frente a seus compromissos contratuais e remunerar seus acionistas, que confiam na empresa.
6) Ao longo da gestão passada, entre 2015 e 2018, a Copasa distribui mais de R$ 950 milhões em lucros, dado também nunca questionado à época.
7) A queda da adutora que hoje traz reflexo no abastecimento de Belo Horizonte e região metropolitana não tem qualquer relação com distribuição de dividendos. O rompimento da adutora no Sistema Serra Azul, na travessia sobre o rio Paraopeba, foi causado por um incêndio, uma fatalidade cuja empresa não poderia prever, provocada por terceiros.
8) A atual administração da Copasa tem buscado dar solução de forma ágil e eficiente aos desafios operacionais existentes, que não são poucos, notadamente para regularizar obrigações assumidas e não cumpridas pela gestão anterior.
9) Por fim, a Copasa destaca ainda que os investimentos para os próximos quatro anos já estão garantidos e aprovados pelo Conselho de Administração. Serão R$ 7,415 bilhões de 2022 a 2026, o maior volume de investimentos em sua história. Esse volume de recursos visa cumprir os compromissos com os municípios e atender os cidadãos”.