O cenário era parecido com o de um estádio de futebol, os ânimos estavam à flor da pele e as pessoas bradavam palavras de ordens. Jair Messias Bolsonaro era o motivo do alvoroço. Ele participava de uma palestra realizada na manhã desta sexta-feira (15) no auditório da Fumec, no bairro Cruzeiro, região Centro-Sul da capital.
A ida do deputado federal à instituição fazia parte da agenda dele em terras mineiras e tinha como objetivo debater com os universitários o cenário político do país. Bolsonaro aproveitou a oportunidade para apresentar suas opiniões sobre determinados assuntos polêmicos. Sincero como sempre, o político não mediu palavras e dividiu o público: delírio e ódio.
A palestra reuniu diversas pessoas na universidade, mas a superlotação do auditório deixou algumas do lado de fora. Sem conseguir acesso ao local, um grupo protestou ao som da drag queen Palblo Vittar e de Anitta. Eles dançaram e fizeram um “beijaço” para reforçar a resistência do público LGBT com a intolerância existente no país.
Quando discursou, Bolsonaro destacou que o Brasil tem tudo para ter uma das melhores economias do mundo. Porém, segundo ele, as más gestões dos governos Lula e Dilma, ambos do PT, atolaram o país em uma crise que parece não ter fim. Todos escutaram sem falar nada até que o tema armamento entrou em discussão.
Ao expor seu posicionamento sobre a liberação do armamento no Brasil, o deputado foi categórico: “armar a população é necessário”. Para o carioca, o armamento defenderá a liberdade do povo que atualmente é vítima da violência que toma conta das ruas das cidades. Nesse momento, o mais aflorado da palestra, houve bate-boca entre aos que apoiam e os que são contrários a Bolsonaro. Um jovem insistia em rebater as falas do deputado e ele o indagou: “você não tem vergonha na cara? Vem aqui na frente e fale durante um minuto”, disse. O rapaz até tentou, mas foi barrado pelos seguranças da universidade.
Na sequência da palestra, Bolsonaro alegou que se candidatará à Presidência para sair “zona de conforto”. “Mais difícil que vencer a eleição é governar o país. Por isso conto com o apoio de vocês durante e principalmente após a campanha”, afirmou.
Como era esperado, o deputado foi questionado sobre os Direitos Humanos e sobre o que fará caso vença a corrida ao Palácio do Planalto. “Ninguém é a favor de torturar as pessoas, mas sabemos que está na boca do povo que esses direitos são para defender aqueles que estão à margem da lei. Essa política que não podemos admitir. O cidadão honesto deve ser tratado diferente”, opinou.
Bolsonaro ainda afirmou que se depender dele a maioridade penal será reduzida para 14 anos e diversos tratados internacionais de Direitos Humanos serão cancelados. O ensino da ideologia de gênero nas escolas foi criticado e considerado por ele como um “crime” contra as crianças. “No meu governo não haverá dinheiro para exposição que apoia pedofilia e nem concurso para esse povo de humanas”, bradou.
Ao fim da palestra, Bolsonaro ainda afirmou que o país precisa de alguém que seja “patriota e que tenha Deus no coração”. “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, finalizou.
Protestos e confusões
Enquanto a palestra não começava, uma nota de indignação produzida pelo Sindicato dos Professores de Minas Gerais (Sinpro Minas) repudiando a palestra era distribuída no local. Aerton Silva, diretor do Sindicato dos Professores da Rede Particular, afirmou que muitos alunos foram deixados do lado de fora para que não vaiassem o deputado.
O diretor ainda questionou a escolha de Bolsonaro para palestrar em uma universidade. “Ele exaltou um dos maiores torturadores do mundo que é o Ustra. É lamentável, mas temos que respeitar, pois vivemos em uma democracia”, afirmou o diretor.
Para o estudante de Direito Murilo Dolabella, o resultado foi positivo pois os temas levantados foram de assuntos atuais. “Tanto o público de ‘direita’ quanto os demais saíram satisfeitos com o que ouviram. Aquelas pessoas que são cristãs, conservadoras e honestas estão com Bolsonaro”, afirmou.
Na saída do deputado do campus, uma jovem foi encaminhada à delegacia após atirar um objeto em direção ao carro que provavelmente estava Bolsonaro. Nesse momento, houve conflito entre adeptos e manifestantes contrários ao deputado federal. A van usada pelo deputado também foi alvo de manifestantes. O veículo foi rabiscado com a palavra ‘fascista’.