Produtora da Zona Sul de BH é suspeita de dar calote e ‘some’ às vésperas de formatura

Reprodução

Uma reviravolta às vésperas da cerimônia de formatura de alunos do ensino médio do Colégio São Paulo da Cruz, na Zona Norte de Belo Horizonte, causou angústia e decepção em estudantes e familiares — e virou caso de polícia.

A dois dias para a cerimônia, que deveria ser realizada com o investimento de R$ 42 mil arrecadados ao longo do ano letivo, a comissão de formatura foi comunicada pela empresa Zoe Produções e Eventos — contratada para providenciar buffet, decoração e demais atrações para o baile — que o dinheiro havia sido roubado. 

A festa acertada estava prevista para acontecer no sábado (17), no centro de eventos Innovare, na região Noroeste da capital.

Segundo alega a proprietária da produtora de eventos, Gleisiele Alves da Silva, ela teria sofrido um assalto, mas garante o ressarcimento integral do investimento. Pais e alunos prejudicados, no entanto, têm a convicção de que foram vítimas de um golpe seguido de calote — eles não têm esperança de ser reembolsados.

Convite da festa de formatura contratada pelos pais dos alunos do ensino médio da Escola São Paulo da Cruz (Arquivo Pessoal)

O Bhaz teve acesso ao contrato celebrado entre empresa e comissão de formatura e conversou com as partes envolvidas.

Segundo relatou a turismóloga Therezina da Silva, de 52 anos, mãe de um dos formandos, após ter sido reportada sobre a situação, ela ligou para a proprietária da Zoe Produções e Eventos. A empresária afirmou estar hospitalizada devido ao choque sofrido com o assalto sofrido na saída de uma agência bancária enquanto sacava R$ 32 mil.

Após tentar forçar um encontro com a suposta vítima do roubo, Therezina conta que a empresária Gleisiene teria recusado a dizer em qual hospital estaria internada.

“Desde quinta-feira, quando ela me disse que estava machucada em um hospital, não consegui falar mais com ela. Eu dizia: ‘me fala em qual hospital em que você está que vou aí te encontrar’. Mas ela sempre ia saindo. A princípio ela chegou a pedir uma reunião com os pais, mas depois foi saindo fora”, conta.

Inconformada, Therezina foi até um dos escritórios da produtora, localizado na avenida do Contorno, 7205, no bairro Lourdes, Zona Sul de Belo Horizonte. Ao chegar no local se surpreendeu: não havia sequer um funcionário na sala escura e fechada onde deveria funcionar a sede da empresa (veja vídeo).

Ademais, segundo teria informado uma pessoa responsável pelo edifício, a sala onde deveria funcionar a Zoe Produções e Eventos era alugada, sendo que a inquilina estava inadimplente com aluguel e que já não aparecia no local há dias, sempre conforme relatos da contratante Therezina.

Outro lado

O Bhaz apurou junto à Receita Federal sobre as condições cadastrais da Zoe Produções e Eventos. Na última quinta-feira (15) — um dia após a proprietária ter sofrido o suposto assalto — a empresa foi extinta.

Por meio da pesquisa pelo CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas), a instituição apresenta a situação cadastral “baixada”. O motivo da baixa, ainda conforme o site da Receita Federal, teria sido uma solicitação de encerramento voluntário — “extinção para encerramento por liquidação voluntária”.

Empresa Zoe Produções e Eventos foi extinta na Receita Federal (Reprodução/RF)

Procurada pela reportagem, a proprietária Gleisiele Alves da Silva explica que o motivo da extinção teria é um excedente de arrecadação, o que teria alterado a natureza jurídica da instituição — antes configurada em “empresário individual”.

“Demos baixa pois excedemos o valor de arrecadação anual. Mas essa transição deveria ter ocorrido em janeiro, e não em dezembro. É uma dúvida minha”, afirmou em entrevista ao Bhaz pelo WhatsApp – a proprietária não atendeu as ligações da reportagem.

Sobre o descumprimento do contrato para a realização da festa de formatura dos alunos, ela avalia ser uma “muito complicada”. “Fomos rendidos no final da quarta-feira (14) desta semana. À noite avisamos o salão. E na quinta-feira (15) de manhã fomos até a comissão de formatura, informando que precisaríamos da conta bancária de cada responsável para retornar esse dinheiro em conta”.

Gleisiene confirma ainda ter registrado um Boletim de Ocorrência logo após ter sofrido o assalto. Questionada sobre o local e a dinâmica do crime sofrido, a suposta vítima evitou uma resposta.

O Bhaz apurou junto à Polícia Militar, mas não encontrou um registro da suposta ocorrência. Já os pais dos alunos lesados registraram uma queixa sobre o que chamam de calote.

Ainda segundo Gleisiene, a maioria dos pais já teria fornecido dados pessoais e estaria aguardando o reembolso do dinheiro que lhe teria sido roubado. “Estamos pedindo um prazo de 60 dias para a devolução”, declarou Gleisiele. “Em todo registro de empresa nunca tivemos problemas”.

Conforme apurado na Receita Federal, a Zoe Produções e Eventos foi instituída em julho de 2014.

Superação

Apesar da reviravolta, os formandos do ensino médio do Colégio São Paulo da Cruz tiveram um merecido baile de formatura.

Segundo uma das mães dos alunos, que preferiu não ser identificada na reportagem, mesmo com o “calote”, o pagamento do salão da Innovare já teria sido garantido, o que contribuiu para a realização da cerimônia.

As atrações do baile, buffet e decoração, contudo, teriam sido improvisadas com com recursos de doações e com investimentos extras desembolsados pelos pais.

“Como já sabíamos que o pagamento do salão já estava feito, decidimos fazer uma outra festa para diminuir a frustração e decepção dos meninos”, disse. “No dia anterior, teve uma festa no local e os participantes ficaram sensibilizados com a nossa situação e decidiram doar toda a decoração da festa. O resto estamos pagando tudo de novo. Alguns convidados também estão nos ajudando”, conta.

A festa foi um verdadeiro sucesso, garantem os participantes (Arquivo Pessoal)

Segundo atualizou uma das mães ao Bhaz na manhã deste domingo (18), apesar do clima de incerteza que precedia a cerimônia, o baile “foi maravilhoso. Foi Deus no comando”, resumiu.

Guilherme Scarpellini

Guilherme Scarpellini é redator de política e cidades no Portal BHAZ.

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