Grupo de mulheres transforma camisas usadas em roupas de recém-nascido

Arquivo Pessoal/Nívia Morais

Um grupo de doulas voluntárias do Hospital Público Regional de Betim, na região metropolitana de BH, se reuniu para contribuir com o bem-estar e a saúde de bebês recém-nascidos no hospital. Juntas, elas transformam camisas de malha que recebem de doações em touquinhas e luvinhas para os bebês.

Nívia Morais, uma das nove doulas que são voluntárias no hospital, contou ao BHAZ que o projeto não foi programado, mas surgiu como uma solução rápida para uma questão durante o trabalho. “Numa tarde, no meu plantão, eu estava com um bebê no colo e ele tremia tanto, mas tanto de frio que estava até meio roxinho. Aí eu lembrei que tinha feito essa touquinha que vi em um vídeo e coloquei nele”, conta.

A medida apressada não só funcionou nesse caso, como também inspirou Nívia a criar o Projeto Flor de Lótus, que recebe camisetas de malha usadas e, seguindo uma receita simples, as transforma em toucas e luvas para os recém-nascidos. A meta agora é melhorar e aumentar a produção, para atender o máximo de mães possível.

Além de ajudar as novas mães e seus filhos, o projeto ainda foi uma forma encontrada pelas equipe para estreitar os laços com a coordenação do hospital. De acordo com Nívia, as doulas, que precisavam se desdobrar para dar conta do trabalho e do projeto de forma voluntária, hoje conseguiram um espaço no hospital para concentrar as produções, um carro para buscar as doações e recebem um apoio muito maior da instituição: “A gente recebeu muito apoio da coordenação e começou a ter uma visibilidade muito maior, mas queremos receber mais apoio para continuar”.

No entanto, os desafios ainda são muitos. A equipe do Projeto Flor de Lótus ainda é pequena: apenas nove pares de mãos para dar conta da demanda atual que deve crescer ainda mais. Além disso, apesar de terem conseguido o espaço para produzir, elas ainda sofrem com a precariedade do maquinário, do materials de costura e da matéria-prima, as camisas.

Divulgação/Hospital Regional de Betim

Suporte e mediação

As doulas, que têm o dia nacional comemorado nesta quarta-feira, 18 de dezembro, são profissionais que dão suporte físico e emocional para as gestantes antes, durante e depois do parto. Elas dão orientações sobre os procedimentos hospitalares de forma mais simples, aplicam técnicas não farmacológicas de alívio da dor que auxiliam no trabalho de parto e também fazem a mediação entre a gestante e a equipe médica, facilitando a comunicação.

Em Minas Gerais, a profissão ainda não é regulamentada, mas, para Nívia, o fato de ser voluntária não diminui a satisfação de exercer a profissão. “Eu acho que o retorno é maior para nós do que para eles. O parto é um momento de dor intensa, de nervosismo, de insegurança, então é muito gratificante ver que a gente está conseguindo fazer parte desse momento”.

O Hospital Público Regional de Betim oferece cursos de formação para que mulheres da comunidade se tornem doulas, mas as medidas adotadas para ampliar essa prática ainda não são suficientes. Nívia conta que o acompanhamento é feito até o momento do parto, mas que um período de tempo maior seria o ideal.

“Nós passamos orientações básicas, com palavras mais simples, porque, no meio hospitalar, às vezes elas não conseguem esclarecer essas dúvidas. Por exemplo: antigamente era muito comum uma mulher amamentar o bebê da outra, hoje a gente já orienta que não pode, por causa do risco de transmissão de doenças”, conta Nívia.

Seja enfrentando dificuldades para produzir touquinhas a partir de camisetas, se desdobrando para garantir que mulheres tenham acesso a um parto mais humanizado em um hospital público ou se dedicando, muitas vezes, integralmente, a um trabalho sem remuneração, a lição que fica do trabalho das doulas do Hospital Regional de Betim é de resignação, respeito e ação concreta de transformação da realidade.

Em meio aos desafios e à precarização do serviço público de saúde, são trabalhos como o de Nívia que dão esperança às novas mães e passam uma mensagem necessária de dedicação profissional: “Mesmo sendo voluntário, eu não consigo faltar e não consigo ir embora enquanto não ver o último bebê do meu plantão nascer”.

Aqueles que quiserem contribuir com essa onda do bem podem deixar as doações de camisetas na recepção do Hospital Público Regional de Betim (Avenida Edmeia Mattos Lazzarotti, 3800 – Jardim Brasília) ou, em casos de doações maiores, combinar a entrega com uma das doulas.

Giovanna Fávero[email protected]

Editora no BHAZ desde março de 2023, cargo ocupado também em 2021. Antes, foi repórter também no portal. Foi subeditora no jornal Estado de Minas e participou de reportagens premiadas pela CDL/BH e pelo Sebrae. É formada em Jornalismo pela PUC Minas e pós-graduanda em Comunicação Digital e Redes Sociais pela Una.

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