Ruas de BH são ‘rebatizadas’ em homenagem aos heróis negros da história brasileira

placas bh
A ação também chamou a atenção para importantes quilombos criados como forma de resistência e sobrevivência de negros à escravidão (Cadu Passos/Frente Antifa)

Em comemoração ao Dia da Consciência Negra, as ruas e avenidas de Belo Horizonte amanheceram repletas de homenagens a personalidades negras e quilombolas neste sábado (20). A ação, idealizada pelo movimento social “Frente Antifa BH”, rebatizou diversos pontos da cidade com nomes de personalidades históricas que lutaram pela liberdade e direitos dos negros no Brasil.

É esse o caso do Dr. Luiz Gama, patrono da abolição da escravidão, que teve seu nome estampado na Avenida Brasil. Já a Avenida dos Bandeirantes – símbolo da colonização, escravidão e genocídio de indígenas e negros – foi “rebatizada” para Avenida da Resistência Negra.

A lista de personalidades também reúne nomes como o de Carolina Maria de Jesus, catadora de papel que se tornou uma das maiores escritoras da literatura brasileira; o arquiteto paulista Tebas e Madalena Gordiano, mulher negra mantida em situação análoga à de escrava durante 38 anos por uma família branca, em Patos de Minas, e resgatada somente no ano passado.

‘Fogo nos racistas’

Além das homenagens à personalidades emblemáticas para a história do Brasil, a intervenção artística também chamou a atenção para importantes quilombos criados como forma de resistência e sobrevivência de negros à escravidão. Por cima das placas de algumas ruas foram colados adesivos com os nomes de quilombos.

A ação ainda fez alusão ao ato realizado neste ano em São Paulo, em que manifestantes queimaram pneus em volta da estátua do bandeirante Borba Gato. Em diversos pontos de BH, foram colados pequenos adesivos com uma ilustração que relembra o ato, ao lado da frase “Fogo nos racistas”.

Já na noite de ontem (19), algumas torcidas organizadas de BH, aliados a coletivos antifacistas da capital, realizaram uma ação simbólica no viaduto Santa Tereza, na região Leste da cidade. “Lutamos nas ruas porque não acreditamos nos moldes de luta por igualdade dentro do sistema vigente que resulta em conciliação e apassivamento da luta”, disseram os militantes, em nota.

Com fogos, bandeiras e cartazes, cruzeirenses e atleticanos celebraram a ‘luta do povo preto’ (Cadu Passos/Frente Antifa)

Homenagens entregam passado de violência

Em Belo Horizonte, as homenagens a figuras históricas que promoveram genocídio e injustiças sociais são raras, mas ainda aparecem em pontos famosos da capital, que já fazem parte do cotidiano dos belo-horizontinos (veja aqui).

Um levantamento feito pelo BHAZ em agosto aponta que, dos 146 monumentos e esculturas catalogados pela Belotur (Empresa Municipal de Turismo), nenhum dos homenageados teve participação direta em movimentos genocidas. Os números, no entanto, não esgotam os problemas históricos.

Segundo o historiador Raul Lanari, no entanto, alguns nomes bastante presentes no cotidiano belo-horizontino devem, sim, ser olhados com um olhar mais crítico. É o caso, por exemplo, da Rodovia Fernão Dias, que homenageia um dos principais personagens do bandeirantismo, movimento que aconteceu durante o período colonial brasileiro e que marcou a busca por ouro e aprisionamento de escravos e povos indígenas.

Outra figura presente nessa lista é Duque de Caxias, que nomeia uma praça do bairro Santa Tereza, na região Leste de BH. O homenageado, apelidado pela história como “O Pacificador”, no entanto, esteve à frente de grandes massacres no período imperial. 

Revisar não significa apagar

O objetivo do olhar crítico aos personagens citados, conforme explicou historiador Raul Lanari ao BHAZ, não é seu apagamento da história brasileira. Para ele, é preciso que se tornem conhecidas as violências que essas pessoas cometeram para que seja possível elaborar formas alternativas de olhar para esses traumas históricos.

“Não sei até que ponto essas avenidas vão desaparecer, mas é importante que ao lado de avenidas Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral, por exemplo, figurem também avenidas, praças e outros equipamentos públicos com nomes significativos para essas outras comunidades que formaram a cultura brasileira. Como, por exemplo, Luis Gama e José do Patrocínio, importantes nomes da resistência negra, ou mesmo Cacique Raoni e vários outros indígenas que marcaram nossa história”, enfatiza o professor.

Edição: Roberth Costa
Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!