Empresário leva ‘mata-leão’ na frente da filha e aponta racismo de PM’s e gerente da Caixa

Reprodução/Facebook

Quase duas semanas depois que um jovem de 19 anos morreu após ser sufocado por um segurança de um supermercado, no Rio de Janeiro, um empresário de 34 anos levou um “mata-leão” em uma agência da Caixa em Salvador, na Bahia. O episódio ocorreu no último dia 19, mas veio a público nessa segunda (25) quando o homem divulgou um vídeo em que aparece sendo imobilizado por policiais militares dentro do local.

Crispim Terral foi à agência localizada na capital daquele Estado para receber o comprovante de pagamento de dois cheques. Pela oitava vez, ele foi ao banco acompanhado pela filha e não imaginava o que estava prestes a ocorrer. Nas imagens é possível ver que o empresário aceita ser levado para uma delegacia junto com o gerente geral da unidade depois que os dois se desentenderam. Mas o funcionário se nega. Ele diz que só aceitaria ir à delegacia se o cliente deixasse o local algemado.

Terral, então, insistiu para que fossem sem algemas, já que foi à agência apenas para resolver o problema. “Eu não negocio com esse tipo de gente”, diz o gerente. Para o empresário, foi aí que o preconceito em relação a ele ficou escancarado. “Eu cheguei por volta das 10h40 e fiquei quase quatro horas para ser atendido. O gerente queria que eu entregasse dois cheques para que ele me entregasse o comprovante, mas os cheques eram a minha prova. Ele me deu as costas e foi atender a outros, enquanto eu estava sentado à mesa dele”, conta o homem, que é dono de uma farmácia.

“Os policiais chegaram e aparentemente eram muito educados, mas o gerente insistiu para que eu saísse de lá algemado. Foi então que os policiais começaram a me segurar. Eu tentei tirar o braço dele porque não conseguia respirar”, explica. A filha do empresário, que tem 15 anos, assistiu toda a abordagem e gravou a cenas divulgadas no Facebook. No vídeo é possível ouvi-la chorando enquanto o pai era sufocado pelo militar.

Crispim é dono de uma farmácia e pai de cinco filhos (Reprodução/Facebook)

“Quando o gerente se referiu a mim como ‘esse tipo de gente’, eu entendi que estava sendo vítima de um ato de preconceito racial. Eu vi repúdio no olhar dele e na expressão logo que cheguei, mas eu ignorei isso para resolver o problema. Isso é muito doloroso, nunca tinha me sentido assim antes”, diz. “A gente vê casos de racismo no jornal e se coloca no lugar do outro, mas nunca tinha acontecido comigo. Isso dói na alma”, continua.

Depois de ser imobilizado, Crispim foi levado para uma delegacia onde foi autuado por desobediência e resistência. Na sequência, procurou uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) por sentir dores no pescoço, na cabeça, maxilar e em um dos ombros. “Me doí pensar também que essas pessoas [policiais militares] são pagas para nos proteger e nos tratam com tamanha agressividade. Foi muito humilhante para mim e para milha filha que viu tudo”, pondera o empresário. Ele denunciou a ação dos PM’s à Corregedoria e agora pretende tomar as medidas cabíveis em relação à Caixa e à PM.

“Minha filha ficou dois dias sem dormir por conta dessa situação. Eu como pai fiquei arrasado por vê-la passar por isso. Em pleno século XXI não podemos aceitar mais isso. As pessoas não podem se calar diante dessas situações”, disse. “Tem muita gente revoltada, principalmente quem me conhece porque sabe que tenho uma tranquilidade imensa”, finaliza.

Respostas

Procurada pelo BHAZ, a Caixa informou por meio de nota que “até o momento não foi identificada, por parte de nenhum dos seus empregados ou colaboradores, qualquer atitude de cunho discriminatório” e que “repudia atitudes racistas ou de discriminação cometidas contra qualquer pessoa”.

A Polícia Militar da Bahia (PM-BA), por sua vez, disse que o empresário “começou a se exaltar” e que “houve a necessidade de empregar a força proporcional para fazer cumprir a ordem legal exarada, mesmo após diversas tentativas de conduzi-lo sem o emprego da força”.

Veja a nota da PM na íntegra abaixo:

“Na tarde da última terça-feira (19), uma guarnição da Polícia Militar do 18º Batalhão foi solicitada por prepostos da agência da Caixa Econômica Federal, localizada no Relógio de São Pedro, em razão de um dos clientes se recusar a deixar a agência mesmo após o término do expediente.

No local, os policiais militares conversaram com o gerente da agência e ele relatou que o homem estava solicitando um comprovante de transação, que não poderia ser fornecido naquele momento, e solicitou a remoção do cidadão do interior do estabelecimento em razão do encerramento do expediente bancário.

Os policiais, então, dirigiram-se ao homem e solicitaram que ele acompanhasse a equipe junto com o representante da agência bancária à delegacia, para formalização da ocorrência em razão do impasse gerado pelo conflito de interesses. Os policiais relataram que o cidadão começou a se exaltar e dizer que não sairia da agência sem ter a sua demanda atendida, contrariando a recomendação das autoridades que intervieram no conflito.

Houve a necessidade de empregar a força proporcional para fazer cumprir a ordem legal exarada, mesmo após diversas tentativas de conduzi-lo sem o emprego da força. Ele não foi algemado. O vídeo divulgado mostra uma condução técnica dos policiais militares na ação e também observa-se uma edição suprimindo parte do ocorrido.

Ao fim, o cidadão foi conduzido à Central de Flagrantes onde foi autuado por desobediência e resistência. Administrativamente uma sindicância será instaurada pelo 18º BPM para apurar todas as circunstâncias da intervenção policial. É importante ressaltar que, apesar de ser um estabelecimento federal, quando a PM é acionada tem o dever de atender a ocorrência.

Atenciosamente”.

Roberth Costa[email protected]

De estagiário a redator, produtor, repórter e, desde 2021, coordenador da equipe de redação do BHAZ. Participou do processo de criação do portal em 2012; são 11 anos de aprendizado contínuo. Formado em Publicidade e Propaganda e aventureiro do ‘DDJ’ (Data Driven Journalism). Junto da equipe acumula 10 premiações por reportagens com o ‘DNA’ do BHAZ.

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