‘Chego dia 6’: Indigenista mandou áudio antes de desaparecer na Amazônia

bruno indigenista desaparecido
O indigenista Bruno Araújo Pereira está desaparecido (Reprodução/Redes sociais)

O indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, correspondente do jornal The Guardian no Brasil, seguem desaparecidos. Em áudio divulgado pelo podcast “O Assunto”, o brasileiro informou que voltaria nessa segunda-feira (6), mas o retorno não aconteceu. A Polícia Federal apura o desaparecimento dos dois.

“Eu tô entrando no mato amanhã. Daqui a uns 15 dias ou menos até eu tô por Atalaia do Norte. E chego dia 6″, disse o indigenista no trecho 0’59” do episódio do podcast (ouça aqui). O desaparecimento ganhou destaque da mídia internacional. Os dois estavam no Vale do Javari, no Amazonas, e vinham recebendo ameaças, de acordo com a coordenação da União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

A dupla tem muita experiência em transitar na região. Eles foram avistados pela última vez na manhã desse domingo (5) a caminho de Atalaia do Norte (AM), perto da fronteira com o Peru. Durante o percurso, o jornalista queria colher depoimentos de moradores, que eram permanentemente ameaçados por garimpeiros, madeireiros e todo tipo de atividade ilegal.

“Estado omisso”

Em entrevista ao podcast de Renata Lo Prete, o procurador jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Eliesio Marubo, disse que o estado brasileiro tem sido omisso com os povos indígenas. “A própria Funai é um reflexo disso. A Funai [está] desmantelada, sucateada e cada vez mais sofrendo com vários tipos de ações da parte do governo para desmantelar cada vez mais para retirar orçamento, todo tipo de negligência que o governo federal tem feito com a Funai”, disse.

Ainda segundo o representante da Unijava, a região não é protegida como deveria. “Na região de fronteira, a caça e pesca ilegais têm servido para lavar dinheiro do narcotráfico. Já falei [isso] pras autoridades, já tive oportunidade de falar pros procuradores da República, que, aliás, não ficam aqui. Já falei com delegado da Polícia Federal aqui também.”

MP e PF atuam no caso

O MPF (Ministério Público Federal) instaurou, ontem, um procedimento administrativo para apuração do desaparecimento. O órgão também acionou a Polícia Federal (PF), a Polícia Civil, a Força Nacional, a Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari e a Marinha do Brasil.

De acordo com o MPF, a Marinha já confirmou que conduzirá as atividades de busca na região, por meio do Comando de Operações Navais. Já a PF informou que já está acompanhando e trabalhando no caso. “As diligências estão sendo empreendidas e serão divulgadas oportunamente”, diz nota da instituição.

Repercussão

O desaparecimento do jornalista e do indigenista é destaque nos principais jornais do planeta e preocupa trabalhadores das duas áreas. Um porta-voz do Guardian News & Media disse que está acompanhando a situação e em contato com as embaixadas brasileira e britânica.

“O Guardian está muito preocupado e busca urgentemente informações sobre o paradeiro e a condição de Phillips. Estamos em contato com a embaixada britânica no Brasil e com as autoridades locais e nacionais para tentar apurar os fatos o mais rápido possível”, diz comunicado divulgado em reportagem do jornal.

Jonathan Watts, editor do The Guardian, também expressou preocupação com o desaparecimento do colega jornalista e do indigenista. Em publicação nas redes sociais, ele pediu que as autoridades brasileiras comecem as buscas imediatamente.

O ex-presidente Lula (PT) se manifestou sobre o caso e lembrou que Dom Phillips já o entrevistou para uma reportagem, em 2017. “Espero que sejam encontrados logo, que estejam bem e em segurança”, escreveu ele nas redes sociais. O presidente Jair Bolsonaro (PL) não comentou sobre o desaparecimento.

A Human Rights Watch também divulgou nota a respeito do caso. “É extremamente importante que as autoridades brasileiras dediquem todos os recursos disponíveis e necessários para a realização imediata das buscas, a fim de garantir, o quanto antes, a segurança dos dois”, diz o comunicado assinado pela diretora do escritório da organização no Brasil, Maria Laura Canineu.

Com Agência Brasil

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!