Jovem é internado ao misturar produtos para lavar o banheiro de casa; especialista alerta para riscos

Jovem internado e produtos de limpeza
Biomédico sentiu a garganta seca, teve falta de ar, tosse e chiado no peito (Leonardo Parreira/Arquivo pessoal + Foto ilustrativa: Envato Elements)

A mistura entre alguns produtos para limpar o banheiro fez com que um jovem de 22 anos fosse parar no hospital, em São Paulo, nessa terça-feira (2). Acidentes domésticos parecidos são mais comuns do que podem parecer, e em casos raros podem até levar a quadros graves de intoxicação, conforme alerta um médico especialista.

O biomédico Leonardo Palmeira, de 22 anos, estava limpando o piso do banheiro com água sanitária e sabão em pó, como de costume. Sem ler as instruções na embalagem, ele também usou Azulim, produto que limpa azulejos e rejuntes. O jovem ainda havia deixado o box do chuveiro de molho com um produto cremoso de limão.

“Pouco tempo depois, comecei a sentir a garganta seca, tossia bastante e fiquei com dificuldade para respirar. O banheiro estava aberto e ventilado, mas mesmo saindo eu não melhorava. Bebi água, mas só fui ficando mais fraco, e resolveram me levar ao hospital”, conta ele ao BHAZ.

Sintomas e internação

No pronto-socorro do hospital Santa Marcelina, Leonardo foi internado e passou 30 minutos no suporte de oxigênio, além de receber medicamentos na veia. O que havia acontecido era um broncoespasmo, fenômeno caracterizado pela contração da musculatura dos brônquios, dificultando a capacidade de respiração.

Além da tosse e da falta de ar, o chiado no peito foi outro sintoma que a intoxicação provocou. De acordo com o médico Adebal Andrade Filho, coordenador do Ciatox-MG (Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Minas Gerais) do hospital João XXIII, outros sintomas que podem ser comuns nesses casos são dor de cabeça, dor no peito; e em casos menos frequentes, desmaio, náusea, vômito, coloração azul ou arroxeada das extremidades e edema de glote.

Depois de ser liberado do hospital, Leonardo Palmeira ainda levou uma bombinha para casa e deve usar o medicamento durante uma semana, conforme orientação médica. “Às vezes, ainda tenho alguns episódios de falta de ar, mas são raros”, relata.

O biomédico ainda conta que não costuma usar o Azulim para limpar o banheiro, além de ter o hábito de ler as embalagens dos produtos de limpeza antes de usá-los: “desta vez, eu estava com pressa e não vi, mas a ficha de segurança diz para não usar com produtos clorados”.

Casos parecidos

Leonardo compartilhou o ocorrido em um grupo de Facebook, onde acabou recebendo respostas de vários internautas que já tinham passado por situações parecidas. Os usuários compartilharam suas experiências nos comentários da publicação e fizeram alertas para os outros integrantes do grupo.

“Já misturei água sanitária com outro produto e o bagulho começou a ferver e sair um fumacinha branca, joguei fora na mesma hora. Tem que ter um cuidado imenso com essas coisas”, comentou um internauta.

“Eu não misturei com nada mas lavei o banheiro com água sanitária e uns 10 min depois fui tomar banho. Tive uma crise alérgica por conta da ‘inalação’ de água sanitária”, “uma vez usei ácido muriático com bicarbonato pra desencardir banheiro. Fui parar no pronto socorro com falta de ar e garganta fechada”, escreveram outros.

Alerta

O médico Adebal Andrade Filho ainda afirma que não é só a mistura de substâncias químicas que pode trazer perigos a quem limpa a casa. Mesmo isolados, vários produtos podem causar intoxicações graves. Outro fator que contribui para o perigo é o fato de o banheiro ser um local pequeno e com pouca ventilação, facilitando a inalação do produto.

“Normalmente, essas reações liberam um gás, que queima as vias aéreas como se fosse uma queimadura química. Além da tosse, falta de ar e chiado, outras pessoas mais sensíveis podem desenvolver edema agudo pulmonar, quando os pulmões se enchem de líquido liberado pelos próprios vasos sanguíneos”, detalha.

Nesses casos, que são raros, o paciente pode até precisar ser intubado. Mas se a pessoa não tem histórico de bronquite, asma ou outra doença similar, os sintomas devem passar rapidamente e a intoxicação não deve gerar sequelas.

Como evitar

O coordenador do Ciatox-MG ressalta que os produtos de limpeza em si não são o problema, mas que as pessoas devem tomar alguns cuidados ao usá-los. Primeiro, o médico recomenda que usemos apenas os produtos comprados em supermercados ou outros centros comerciais, e não aqueles que são vendidos “de porta em porta”.

“Os produtos das marcas maiores passam por controle de qualidade e costumam ter concentrações menores das substâncias. Nesses outros casos, muitas vezes as misturas são feitas na casa de quem vende, e é mais difícil de verificar a qualidade”, explica.

O especialista ainda recomenda que os produtos não sejam misturados, já que, além da possibilidade de reação negativa, eles podem até anular os efeitos limpantes um do outro. Isso pode acontecer no caso de misturas entre substâncias ácidas e básicas, que se neutralizam. No caso do Azulim e da água sanitária, por exemplo, a mistura não faz sentido, já que os dois têm objetivos parecidos.

“O melhor é usar um produto só de cada vez, e lavar o local com as portas e janelas abertas, permitindo a circulação do ar. Também é bom usar quantidades pequenas do produto”, recomenda Adebal Andrade Filho.

O que fazer?

Caso a intoxicação ocorra, o médico também detalha o que fazer para o quadro não evoluir. Ao perceber uma falta de ar, tosse, dor de cabeça ou sintomas parecidos, a primeira coisa que a pessoa deve fazer é deixar o local e ir para um lugar arejado e aberto.

Depois disso, se a falta de ar continuar intensa e não passar nos primeiros minutos, e se novos sintomas aparecerem, a pessoa já pode procurar um pronto-atendimento. A maioria dos casos é leve e não demanda grandes intervenções médicas.

“Se a dificuldade de respirar parar, mas a pessoa ainda sentir dor de cabeça, náusea, etc, ela pode tomar um remédio, já que esses sintomas são transitórios”, completa o coordenador do Ciatox-MG.

Atendimento em BH

De acordo com balanço divulgado em agosto pelo Ciatox-MG, o hospital João XXIII, que fica no Centro de Belo Horizonte, atende cerca de 2 mil casos de envenenamento por mês.

Segundo o levantamento, os casos de picadas de animais peçonhentos mais comuns são os de escorpião, aranha e cobra. Já as intoxicações normalmente são provocadas por medicamentos, cosméticos, desinfetantes, produtos de limpeza ou produtos químicos em geral.

A unidade de saúde presta atendimento telefônico e presencial às vítimas de acidentes por intoxicação aguda, seja por envenenamento por plantas, animais peçonhentos, produtos químicos e drogas lícitas e ilícitas, em todo o hospital. Isso inclui pronto-socorro, UTI (Unidade de Terapia Intensiva), bloco cirúrgico e enfermarias.

O teleatendimento de Toxicologia do hospital João 23 funciona 24 horas, todos os dias pelos telefones 0800 722 6001, (31) 3224-4000 e (31) 3239-9308.

Edição: Roberth Costa
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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