Justiça aceita denúncias de racismo e homofobia contra ex-piloto Nelson Piquet

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Frase de Piquet foi tema de discussão sobre racismo (Reprodução/Instagram/@lewishamilton + Reprodução/Redes sociais)

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal aceitou a ação pública contra o ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet, por comentários considerados homofóbicos e racistas contra o campeão britânico Lewis Hamilton. Piquet tem 15 dias para apresentar contestação frente à denúncia.

No final de junho deste ano, um vídeo de 2021 de Piquet chamando Hamilton de “neguinho” veio à tona. Ele também teceu comentário homofóbico durante a entrevista. Quatro associações, incluindo a Aliança Nacional LGBTI e a ABRFH (Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas), pedem indenização de até 10 milhões por danos morais.

O documento assinado pelo juiz Felipe Costa da Fonseca Gomes se refere a quando Piquet comentou o acidente que envolveu o heptacampeão de Fórmula 1 e Max Verstappen, durante o Grande Prêmio de Silverstone. O vídeo, no entanto, só viralizou no meio deste ano.

“O neguinho [Lewis Hamilton] meteu o carro e deixou porque não tinha jeito de passar dois carros naquela curva. Ele fez de sacanagem. A sorte dele é que só o outro [Verstappen] se f*deu”, disse Piquet ao canal Motorsports Talk.  

Em resposta, o inglês disse que “essas mentalidades arcaicas precisam mudar e não têm lugar no nosso esporte”. A FIA, a Fórmula 1 e Mercedes também repudiaram o comentário de Piquet.

Em outro trecho divulgado, Nelson Piquet chega a proferir ofensas homofóbicas contra o ex-piloto inglês. “O neguinho devia estar dando mais o c* naquela época, aí tava meio ruim”, disparou, comentando sobre uma disputa entre Nico Rosberg e Hamilton alguns anos atrás.

Denunciado ao MP

Além das ações públicas protocoladas pelas entidades de defesa aos direitos da população negra e LGBTIQIA+, a bancada do PSOL na Câmara dos Deputados denunciou Nelson Piquet ao MPDFT (Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios), por causa da fala racista dele sobre o britânico Lewis Hamilton.

As deputadas Áurea Carolina (MG), Vivi Reis (PA) e Talíria Petrone (RJ) são responsáveis pela representação contra Piquet, argumentando que o ex-piloto praticou o crime de discriminação ou preconceito. As parlamentares também defendem que o racismo proclamado é inaceitável no âmbito do estado democrático de direito.

Procurado pelo BHAZ, à época, o MPDFT confirmou que o Núcleo de Enfrentamento à Discriminação recebeu a denúncia da bancada do PSOL e que ela está sob análise.

Pedido de desculpas

Um dia depois da repercussão, Piquet chegou a se desculpar publicamente com o britânico. Alegando que sua frase sofreu uma “tradução errada” da palavra “neguinho”, Piquet disse que o termo não é racista no Brasil.

“O que eu disse foi mal pensado, e não defendo isso, mas vou esclarecer que o termo usado é aquele que tem sido amplamente e historicamente usado coloquialmente no português brasileiro como sinônimo de ‘cara’ ou ‘pessoa’ e foi nunca teve a intenção de ofender”, diz trecho da nota.

Na visão do piloto, ele não utilizaria um termo de forma pejorativa e foi mal interpretado. “Eu nunca usaria a palavra da qual fui acusado em algumas traduções. Condeno veementemente qualquer sugestão de que a palavra tenha sido usada por mim com o objetivo de menosprezar um piloto por causa de sua cor de pele”.

Por fim, ele elogiou o piloto britânico e se manifestou contra o racismo. “Peço desculpas de todo o coração a todos que foram afetados, incluindo Lewis, que é um piloto incrível, mas a tradução em algumas mídias que agora circulam nas redes sociais não está correta. A discriminação não tem lugar na F1 ou na sociedade e estou feliz em esclarecer meus pensamentos a esse respeito”, conclui.

Nicole Vasques[email protected]

Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escreve para o BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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