Mais de 70% dos brasileiros já presenciaram racismo no transporte público, diz estudo

racismo no transporte
Estudo ressaltou que violência impacta a rotina das pessoas negras não só na locomoção (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Uma pesquisa divulgada hoje (21) pelo Instituto Locomotiva revelou que 72% dos brasileiros dizem já ter presenciado situações de racismo no transporte do dia a dia e 39% já foram vítimas do crime. Isto é, uma em cada três pessoas negras já sofreu preconceito racial enquanto se deslocava. O número de trabalhadores negros que atuam no setor e já enfrentaram alguma situação racista durante o expediente é ainda maior, atingindo 65%.

O Locomotiva entrevistou 1,2 mil pessoas com idades a partir de 18 anos, em todo o país, em janeiro deste ano – com margem de erro equivalente a 2.8 pontos percentuais. Além disso, 1.050 profissionais do setor de transporte público, nas dez principais regiões metropolitanas do Brasil, com margem de erro de 3 pontos percentuais.

Neste Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial – criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) -, a pesquisa foi encomendada pela Amobitec (Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia) com o apoio da Uber, em parceria com o ID_BR (Instituto Identidade Brasil).

Profissionais são principal alvo

Um dos resultados da pesquisa quantitativa, realizada de forma online, mostrou que 24% dos indivíduos negros foram menosprezados, enquanto 17% sofreram agressões verbais e 14% foram alvo de expressões de cunho racista.

De acordo com o estudo, o público que trabalha no setor sofreu três vezes mais ameaças do que o restante dos cidadãos entrevistados. “Entre profissionais negros do transporte que enfrentaram situações de preconceito, embora as agressões verbais (47%) e o menosprezo (46%) tenham sido mais frequentes, eles foram três vezes mais alvo de expressões racistas e sofreram três vezes mais ameaça do que a população negra vítima de preconceito racial em geral”, aponta.

Medo impacta deslocamento

O estudo mostra ainda que 71% das pessoas negras que trabalham na área sentem medo de sofrer racismo no transporte ou preconceito devido à cor da pele. O número cai para 41% entre a população negra em geral, evidenciando que quem fica na rua por mais tempo sente mais medo de sofrer racismo.

Quem mais observa casos de racismo são os motoristas de ônibus e cobradores (75%). Logo depois, estão os motoristas de aplicativo (73%) e os taxistas (65%). E o medo gera consequências práticas nas rotinas dessas pessoas.

De acordo com o levantamento, o número de casos impacta o planejamento de indivíduos negros na hora de se deslocar. Quase 30% deles já mudaram a forma de se locomover pela cidade e, entre as mulheres, o número chega a 31%. Nos deslocamentos, esse é o grupo que mais se sente vulnerável.

Enquanto 72% das mulheres negras entrevistadas temem sofrer algum tipo de assédio sexual, outras 64% são receosas sobre serem agredidas fisicamente e 47% têm medo de sofrer algum tipo de racismo.

A especialista em Diversidade e Inclusão do ID_BR Roberta Calixto observa que adotar ações de combate ao racismo é urgente e necessário, visto que uma em cada quatro pessoas já sofreu “violência física em consequência do racismo” nos transportes públicos.

“Muito embora algumas pessoas possam ter a leitura de que ações como ‘ser menosprezada’ sejam atos imperceptíveis ou menos importantes, as microagressões são frequentes no cotidiano da população negra e afetam psicologicamente quem vive essa relação todos os dias”, defendeu.

Racistas saem impunes

Para a maioria das pessoas entrevistadas – 69% -, o racismo é comum no dia a dia, e 25% consideram que pessoas que cometem o crime não são devidamente punidas. O número de profissionais de transporte que acreditam nessa afirmação é ainda maior, atingindo 38%. Um dado importante é que, dentre os profissionais que foram vítimas de racismo, somente 17% denunciaram, seja para a empresa contratante ou para as autoridades policiais.

Durante a pesquisa, o Locomotiva incluiu duas imagens para comparar a percepção dos profissionais de transporte sobre as diferenças entre um homem negro e outro branco. Dentre dez funcionários, seis acreditam que a pessoa negra tem mais chances de causar medo nos passageiros, em detrimento da pessoa branca.

No embarque, as chances de motoristas não pararem para um passageiro negro entrar são quase nove vezes maiores: 61% contra 7%, no caso de pessoas brancas. Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, pontua que os resultados alcançados mostram que o racismo no transporte prejudica a mobilidade dos brasileiros, por conta da cor de sua pele.

“É como se o direito de ir e vir fosse prejudicado de acordo com a cor da pele do passageiro. E essa limitação faz com que as oportunidades que as pessoas têm, seja no mercado de trabalho, no acesso à educação e no lazer, se tornem reduzidas”, disse Meirelles.

Canais de denúncia

  • Delegacia Especializada em Repressão aos crimes de Racismo, Xenofobia, Homofobia e Intolerâncias Correlatas – DECRIN

Telefone: (31) 3335-0452

Endereço: Avenida Augusto de Lima, 1942 – Barro Preto

Horário de Funcionamento: Segunda à Sexta, de 12h às 19h

  • Ministério Público – Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos, Igualdade Racial, Apoio Comunitário e Fiscalização da Atividade Policial

Telefone: (31) 3295-2009

Endereço: rua dos Timbiras, 2928 5º andar Barro Preto – Belo Horizonte – MG

Horário de Funcionamento: Segunda à Sexta, de 13h às 18h

E-mail: [email protected]

  • Disque 100 – Disque Direitos Humanos

Horário de funcionamento: diariamente, de 8h às 22h

Cidadão brasileiro fora do Brasil pode discar: +55 61 3212-8400.

E-mail para denúncias: [email protected]

  • Disque 190 – Policia Militar

O 190 é destinado ao atendimento da população nas situações de urgências policiais. Atendimento 24 horas por dia, todos os dias da semana.

  • Disque 181 – Denúncia Anônima

Serviço destinado ao recebimento de informações dos cidadãos e cidadãs sobre crimes de que tenham conhecimento e possam auxiliar o trabalho policial.

No Disque Denúncia 181 a identidade do denunciante e denunciado é preservada.

Atendimento 24 horas por dia, todos os dias da semana.

Com Agência Brasil

Edição: Giovanna Fávero
Nicole Vasques[email protected]

Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escreve para o BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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