#MeuRival: Hashtag expõe machismo no futebol e no jornalismo esportivo

Marta
Internautas lembraram que o título de a maior artilheira(o) de Copas do Mundo é de uma mulher – o que é invalidado com frequência (A2M/CBF)

Sexualização, descrédito, interrogatórios. Hoje (8), no Dia das Mulheres, atletas, jornalistas e fãs do mundo do esporte resolveram denunciar algumas das situações que passam diariamente no campo, nas redações e em sua rotina de forma geral. A hashtag #MeuRival, levantada na rede social, contou com relatos de figuras femininas conhecidas no meio esportivo, como jogadores de futebol e comentaristas da televisão.

A mobilização demonstra o novo significado que o Dia das Mulheres está adquirindo com o passar dos anos. Cada vez mais, as mulheres pedem por respeito – e não por flores – na data que se tornou símbolo de luta e reconhecimento. O significado, na realidade, torna-se um resgaste da origem do dia – de acordo com historiadoras, uma união de trabalhadoras pela reivindicação do voto feminino.

Descrédito

As internautas compartilharam na rede uma série de discriminações que sofreram no mundo do esporte. A jornalista do Globo Esporte, Ana Thaís, contou um episódio, frequente na vida das mulheres no mercado de trabalho, em que um homem questionou a posição de comentarista esportiva obtida por ela.

#Meurival questionou como eu ‘virei’ comentarista se ele não me conhecia de nenhum lugar antes, não era ex jogadora e ainda me mandou ‘virou marmita de algum chefe’. Eu tinha pelo menos seis anos como repórter de rádio, mas ele só descobriu o futebol em 2019, na minha 1ª temporada”, escreveu em rede social.

O descrédito acontece, da mesma forma, dentro das próprias redações. “Meu rival sempre que eu conseguia uma exclusiva era porque estava dando para o entrevistado. ‘Claro, é mulher, né?'”, contou Joanna de Assis, repórter do SporTV. A jornalista mineira Carina Pereira, quando anunciou a sua saída da TV Globo, revelou que sofria com assédios e problemas similares dentro do canal de televisão.

Outra jornalista mineira, Isabelly Morais falou sobre as diversas acusações que recebeu, depois de se tornar a primeira mulher a narrar um jogo de futebol em Minas Gerais e a primeira brasileira a narrar uma partida de Copa do Mundo na televisão. “#Meurival (e muitos rivais) disse que não tenho voz pra narrar, que narração não é pra mulher”, começou.

“Que desafiei a tradição da rádio onde narrei pela primeira vez, que eu estragava o jogo narrando, etc etc. E pra cada rival que solta uma dessa, eu narro um gol. Essa é minha resposta”, disse.

‘Além de linda é competente’

As jornalistas também relataram das várias vezes em que receberam comentários sobre a sua aparência – o que não acontece com os profissionais do gênero masculino. “#MeuRival acha que me chamar de linda ou destacar algo da minha aparência é um elogio ao meu trabalho e à minha competência”, disse Clara Albuquerque, correspondente da TNT Sports na Itália.

Mais mulheres lembraram de como essa atitude pode ser invasiva – até mesmo com pedidos de casamento no meio do trabalho. “#MeuRival não me conhece e me manda mensagem invasiva, diz que estamos namorando, que quer casar comigo e elogia meu trabalho dizendo que ‘além de linda é competente’, desabafou Luiza Sá, repórter no Lance!.

Sexualização

Para além da redação, as mulheres também enfrentam a discriminação dentro de campo. A jogadora do Grêmio denunciou uma situação absurda que aconteceu no futebol feminino brasileiro: “Sexualiza jogadoras, pede a confecção de shorts mais curtos para que o futebol feminino seja mais atrativo!”, revelou Kika.

Outra região do país, o mesmo problema. A jogadora do Palmeiras, assim como diversas meninas que tentaram e tentam praticar o esporte, relatou sobre os olhares que recebia em campo. “#MeuRival eram todas as pessoas que me olhavam diferente pelo simples fato de ser a única menina no meio de vários meninos jogando futebol”, desabafou Ary Borges.

Ao longo de sua trajetória, as jogadoras enfrentam, além de todas as barreiras potencializadas pelo machismo, questionamentos sobre a qualidade do seu trabalho. “#MeuRival me diz que não gostar de futebol feminino ‘não é questão de preconceito’, é que ‘é ruim mesmo'”.

‘Mas gosta mesmo?!’

O clássico “o que é impedimento?!” não deixou de aparecer nos relatos. A todo tempo, mulheres são questionadas se gostam – mesmo?! – de futebol. A pergunta vem frequentemente acompanhada de questionamentos – nunca feitos para os meninos. “Qual a escalação do time? Quem fez o gol da vitória da taça de 1900?!”.

Mais do que um dia para se comemorar, hoje se torna uma demonstração do quanto as mulheres ainda são penalizadas pelo machismo – e o caminho longo que ainda precisamos percorrer rumo à igualdade de gênero – inclusive no esporte.

Edição: Thiago Ricci

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