Por que você não deve compartilhar o vídeo do Morgan Freeman sobre racismo: ‘Não contempla a realidade’

Youtube/Reprodução + Instagram/@morganfreeman/Reprodução

No Brasil, 20 de novembro é o dia da Consciência Negra. Mas, um dia antes da data, a internet lembrou que também é o dia nacional do “vídeo do Morgan Freeman”. A famosa entrevista levou o nome do ator para os assuntos mais comentados no Twitter nesta terça-feira (19). Nela, o norte-americano afirma que para resolver o racismo é preciso parar de falar dele. Além disso, diz que datas que celebrem a história negra são desnecessárias.

Mesmo tendo sido publicada há quase 15 anos, a entrevista vez ou outra volta a ser comentada na internet. A maioria dos internautas prevê o uso das falas de Morgan Freeman para sustentar uma crença de que não há desigualdade racial e de que a luta contra o racismo é exagerada.

O discurso de Morgan, de que “para acabar com o racismo, é só não falar sobre ele”, no entanto, desmerece o Dia da Consciência Negra e silencia aqueles que denunciam a desigualdade racial. O advogado e historiador Gilberto Silva conversou com o BHAZ a respeito do vídeo em que o ator aparece e sobre o Dia da Consciência negra. “É um dia especial para comemorar as vitórias que o povo negro alcançou, não num contexto político. Zumbi, Dandara, Marielle. É um dia de festejar e comemorar as conquistas e reafirmar a luta constante contra a discriminação racial, contra o racismo e contra o genocídio da juventude negra, além da violência contra as mulheres negras”, diz.


Para o especialista, o discurso de Morgan não contempla a realidade brasileira. “É um discurso humanista sequer reconhecido pelo movimento negro brasileiro. Não tem a ver com o Brasil. Infelizmente, as pessoas que usam o discurso do Morgan Freeman precisam estudar sobre a abolição, sobre genocídio da juventude negra”, explica, lembrando ainda, que “racismo reverso” não existe. “Na verdade racismo reverso não existe, as leis de promoção de igualdade racial foram estipuladas justamente para acabar com o racismo. Racismo é racismo”, pondera.

Entre críticos do movimento negro existe também a falsa ideia de que o racismo já foi superado no Brasil. Em algumas áreas existem avanços, como na educação, mas ainda é preciso mais. O IBGE publicou recentemente que negros passaram a ser maioria no ensino superior, em 2018. No entanto, o próprio instituto ressalta que entre os negros, o desemprego e o analfabetismo ainda são maiores, enquanto a renda, os cargos gerenciais e a representação política são menores. Outro dado alarmante do IBGE mostra que a taxa de homicídio de pretos e pardos é quase três vezes maior que a de brancos.

“A gente tem que tornar-se negro, saber da história do seu povo e da ancestralidade, saber e aprimorar os conhecimentos no que tange a situação das pessoas negras na atualidade”, explica o historiador. “Não somente pelos dados, mas o racismo é tão forte no Brasil que é necessário ter leis para coibi-lo. Se não fosse verdade não teria isso no código penal e na Constituição Federal”, avalia Gilberto Silva.

Dia 20 de novembro

No Brasil, o mês de novembro é tradicionalmente dedicado à consciência negra. A data de 20 de novembro é uma homenagem ao líder quilombola Zumbi dos Palmares, que morreu nesse dia em 1695. “É um dia de festejar e comemorar as conquistas, de Zumbi e Dandara, até Marielle. Mas, é também para reafirmar a luta constante contra a discriminação racial, contra o genocídio da juventude negra e a violência contra as mulheres negras”, resume Gilberto Silva.

https://twitter.com/SRevoluto/status/1196781797314613248
Guilherme Gurgel[email protected]

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Escreve com foco nas editorias de Cidades e Variedades no BHAZ.

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