Mulher disfarça pedido de socorro ao ligar para a PM para ‘fazer o cabelo’ e companheiro é preso

Polícia
A Polícia Militar foi acionada para atender a ocorrência (Yuran Khan/BHAZ)

Mais uma vez, uma mulher conseguiu fazer uma denúncia à polícia ao disfarçar o assunto de uma ligação telefônica, levando à prisão de um agressor. Desta vez, nessa quinta-feira (9), a vítima pediu socorro à Polícia Militar de Araçatuba, em São Paulo, sinalizando que ia “fazer o cabelo”.

O Copom (Centro de Operações da Polícia Militar) da cidade recebeu a ligação em que a mulher passou o endereço onde ela “faria” o cabelo de uma suposta cliente. O atendente da PM suspeitou que algo errado estaria acontecendo e enviou uma viatura até o local.

Assim que os militares chegaram na residência, no bairro São João, a mulher saiu correndo em direção aos policiais, dizendo que havia sido agredida e ameaçada de morte por seu companheiro. Ela apresentava hematomas no rosto e foi encaminhada ao pronto-socorro.

Já o homem foi abordado e confirmou que agrediu a companheira durante uma briga. Depois de a vítima ser liberada, ela e o agressor foram até delegacia de Polícia Judiciária, onde o homem foi preso. De acordo com a PM, ele já possuía antecedentes por crimes de roubo, furto, homicídio e tráfico de drogas.

A ligação

Na gravação do telefonema da vítima ao 190, é possível ouvir a mulher passar o endereço e dizer: “Que você me mandou para fazer o cabelo”.

O policial que atendeu a ligação pergunta o nome dela, e a vítima responde: “Não, é que você me mandou para passar o endereço para fazer o cabelo. É fundo. Tem um portãozinho”.

Leia a transcrição da ligação na íntegra:

Atendente: Polícia Militar, emergência.
Vítima: Oi, é [censurado].
Atendente: Pois não, senhora.
Vítima: [Censurado].
Atendente: Entendi, senhora. No que posso ajudar a senhora?
Vítima: Não, é o endereço.
Atendente: Ah, entendi. É o endereço da senhora.
Vítima: É que você me mandou para fazer o cabelo.
Atendente: Qual é o nome da senhora?
Vítima: Não, é que você me mandou para passar o endereço para fazer o cabelo. [Censurado]. É fundo. Tem um portãozinho.
Atendente: Que bairro que é, senhora? Qual que é o nome da senhora?
Vítima: [Censurado]
Atendente: Que cidade que é?
Vítima: [Censurado]. É um salão de beleza.
Atendente: A senhora está precisando da Polícia Militar?
Vítima: Tá bom?
Atendente: Tá bom.
Vítima: Pode ser?
Atendente: Pode ser.
Vítima: É que você me mandou o endereço para fazer o cabelo, e eu estou te passando. 
Atendente: Endereço para fazer o cabelo. Tá bom, senhora.
Vítima: É, tá bom? [Censurado]. É um portãozinho, tem até a plaquinha.
Atendente: Tá bom, senhora. Disponha da Polícia Militar. Tenha um bom dia.
Vítima: Tá bom. Obrigada.

O cabo Cleber William Frare Beneguer, que acompanha o cabo que atendeu a ligação, contou ao g1 que orientou o policial a confirmar com a vítima se ela realmente queria falar com a Polícia Militar.

“A mulher estava meio assustada, mas falando audivelmente. A entonação de voz deu a perceber que a mulher estava com medo de uma pessoa que estava por perto. O cabo desconfiou da situação”, disse.

Pizza, açaí e hambúrguer

Ligações parecidas feitas por mulheres vítimas de violência doméstica já foram registradas em outras regiões nos últimos meses. Em maio deste ano, uma mulher de 54 anos ligou para a polícia pedindo uma pizza em Andradina, no interior de São Paulo, e a PM enviou uma viatura ao local.

No local, foi confirmado que a vítima vinha sendo agredida constantemente pelo companheiro, de 57 anos, com ofensas verbais.

Já em junho, em Porto Alegre, uma mulher ligou para a Brigada Militar do Rio Grande do Sul simulando o pedido de um açaí, para denunciar a violência praticada pelo seu companheiro.

Em pouco tempo, o soldado que atendeu a ligação percebeu que se tratava de um pedido de ajuda. Na ocasião, o soldado Danilo Garcia, que atendeu a solicitante, contou ao BHAZ que acredita que a vítima possa ter visto a repercussão do caso anterior e se inspirado para pedir ajuda.

Em outubro, outro caso parecido foi registrado no Distrito Federal, quando uma jovem de 19 anos que ligou para a PM fingindo pedir um hambúrguer em busca de socorro. Na ligação para a Polícia Militar, a vítima insistiu em perguntar se o contato era de uma hamburgueria.

O policial não demorou para perceber que a ligação era, na verdade, um pedido de ajuda, e enviou uma guarnição ao local. Militares foram até o endereço da ocorrência, na cidade de Samambaia, cerca de 25 quilomêtros de Brasília, e prenderam o homem em flagrante.

Edição: Giovanna Fávero
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!