A casa da deputada Flordelis dos Santos de Souza (PSD-RJ), que é suspeita da morte do pastor Anderson do Carmo, tinha rituais secretos com uso de sangue, nudez e sexo, segundo uma testemunha que morou no local. As informações são do Extra, que conseguiu o depoimento do homem registrado junto à Polícia Civil. Ele teria morado na residência da família no fim da década de 1990.
A testemunha morou na casa de deputada durante cinco anos e afirmou que participava de uma verdadeira seita. A testemunha ainda disse que chegou a manter relações sexuais com a política. O depoimento foi registrado no dia 2 de setembro de 2019, na Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá.
O homem disse à polícia que conheceu Flordelis no ano de 1995, durante um grupo de orações no Lote Quinze, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Segundo a testemunha, a deputado teria o convidado para participar do grupo de orações na casa dela, na época, era no Rio Comprido, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Em pouco tempo, ele começou a morar no local. Durante aquele período, o pastor Anderson também já fazia parte da família.
‘Ritual de purificação’ e sexo
Ele também contou que, ao chegar na residência da deputada, teve que participar de um “ritual de purificação” em que era obrigado a se isolar em um quarto por sete dias. Durante esse tempo, ele tinha que usar roupas brancas e poderia comer apenas arroz e legumes. O homem relatou que ficava com uma bíblia, rezava e recebia algumas poucas visitas na casa. De acordo com ele, essas pessoas eram um grupo mais seleto, participantes de rituais secretos.
A testemunha relatou em depoimento que, em certo dia, no período de isolamento, Flordelis foi sozinha até o quarto onde ele estava e os dois fizeram sexo. De acordo com o homem, após aquele dia, eles transaram outras vezes. “O declarante se recorda que aquilo lhe causou um efeito como se fosse mágico, pois considerava que havia tido relações praticamente com um ser divino, pois era assim que Flordelis se apresentava”, diz trecho do depoimento.
Contudo, o homem não conseguiu deixar claro se naquele momento já havia um envolvimento amoroso entre Flordelis e Anderson. Ele descreveu o pastor como um guardião da deputada. Em biografia, a política afirma ter começado a namorar o pastor em meados de 1993.
Sangue
O homem que morou na casa da deputada ainda relatou que viu a realização de um ritual no qual a deputada pediu que alguns filhos cortassem a mão com uma pequena faca e escrevem com sangue salmos da Bíblia. Naquele período, ainda de acordo com a testemunha, Flordelis abrigava aproximadamente 30 crianças em casa. Os mais velhos ajudavam a cuidar dos menores e faziam as tarefas domésticas.
Ainda foi revelado pelo homem que um ritual foi feito por um dos filhos da deputada, Alexander Felipe Matos Mendes. O jovem teria colocado a foto do empresário Pedro Werneck em cima de uma maçã com tiras coloridas e jogado mel por cima. O ritual teria como objetivo iluminar o empresário para que ele conseguisse algo para o grupo. Esse mesmo empresário ajudou a família de Flordelis financeiramente até poucos anos.
Anderson nu
Em outro ritual, cuja participação da testemunha era proibida anteriormente, o homem contou que o pastor Anderson chegou a ficar nu quando a família se mudou para Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio. O pastor tirou a roupa no centro de um círculo feito de giz. A deputada então começou uma reza ou mantra, no qual Anderson era a oferenda.
Quando chegou na casa, o homem disse que percebeu que Anderson era a figura central do local. A deputada dizia que todos eram anjos, e que estaria salvando-os. Ele colocou nomes em todos. Anderson do Carmo era Daniel ou Niel, Carlos Ubiraci era Rubem, Wagner Andrade Pimenta passou a ser Misael e Alexander, Luan. Misael, Luan e Carlos são filhos afetivos da deputada, e começaram a conviver com ela ainda na favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio. Os dois primeiros romperam com a mãe logo após a morte do pastor.
O Ministério Público recebeu informações anônimas do que se passava na casa de Flordelis no Jacarezinho. Em duas denúncias, a informação era que ela fazia rituais de magia. Tudo foi encaminhado para a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá.
Relações sexuais com adolescente
Ainda em depoimento, o homem fez acusações ainda mais sérias contra Anderson e Flordelis. Ele disse que uma adolescente havia acabado de chegar na casa da deputada e Anderson pediu para que Flordelis desse autorização para pudesse ter relações sexuais com ela.
“Diz que Flordelis autorizou e de fato ocorreu por vezes. No entanto, a jovem não gostava dessa situação, mas obedecia o que era determinado por Flordelis”, diz trecho do depoimento. A testemunha ainda disse que a deputada convidava pastores estrangeiros para sua casa e uma das filhas era oferecida sexualmente para os religiosos.
No ano de 2000, momento em que já namorava a atual esposa, o homem decidiu sair da casa de Flordelis. Segundo ele, quando a mulher soube do que se passava na casa da deputada, ela fez uma denúncia à Convenção de Ministros das Assembleias de Deus do estado do Rio.
Procurada pelo Extra, Flordelis disse que a testemunha tem que provar as acusações que estava fazendo. “Isso é algo que responderei a ele judicialmente. Ele terá que provar o que ele fala porque são coisas muito graves e sérias que ele fala”.
