Polícia investiga tiktokers que entregaram macaco de pelúcia e banana a crianças negras no RJ

Tiktokers entregam banana e macaco a crianças
Mãe e filha, as influenciadoras têm mais de 13 milhões de seguidores no TikTok (Reprodução/TikTok)

A Polícia Civil do Rio de Janeiro instaurou inquérito para apurar a conduta de duas tiktokers que entregaram um macaco de pelúcia e uma banana para duas crianças negras e divulgaram os vídeos nas redes sociais. A conduta das influenciadoras, que acumulam mais de 13 milhões de seguidores no TikTok, foi denunciada pela advogada Fayda Belo.

Procurada pelo BHAZ, a corporação confirmou que o procedimento foi instaurado pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). “Os vídeos serão analisados e diligências estão em andamento para identificar todos os envolvidos e apurar os fatos”, diz nota da PCERJ.

Racismo recreativo

A advogada criminalista Fayda Belo, especialista em direito antidiscriminatório, usou as redes sociais nessa terça-feira (30) para denunciar os vídeos divulgados pelas duas tiktokers, que são mãe e filha.

Nos registros, a mãe aparece abordando crianças negras na rua e perguntando se elas preferem ganhar dinheiro ou um presente. No primeiro vídeo, um menino escolhe um presente e, ao abrir o embrulho, se depara com uma banana.

“Só isso?”, questiona a criança. A tiktoker pergunta se ele gostou do presente, e o garoto diz que não.

No outro registro, a mulher aborda uma menina, também negra, e questiona ao segurar um pacote grande: “dois reais ou esse presentão aqui?”. A criança escolhe o presente e recebe um macaco de pelúcia.

Depois de exibir o vídeo, Fayda Belo denuncia o caráter racista da atitude: “Vocês conseguem dimensionar o nível de monstruosidade que essas duas desinfluenciadoras tiveram ao dar um macaco e uma banana para duas crianças inocentes, e ainda postar nas redes sociais, para ridicularizar duas crianças negras?”.

“Para incitar essa discriminação perversa que nos tira o status de pessoa e nos animaliza. Como se fosse piada. Mas não é piada. O nome disso é racismo recreativo. Usar da discriminação contra pessoas negras com intuito de diversão, de descontração, de recreação, agora é crime”, completa a advogada.

A especialista ressalta que racismo é crime, além de afirmar que a conduta fere o Estatuto da Criança e do Adolescente: o artigo 17 do ECA dispõe sobre a inviolabilidade da integridade do menor, abrangendo a preservação da imagem dele; enquanto o artigo 18 prevê que é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, “pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor”.

“Não pode sair por aí usando imagem de criança, não. E aí, Ministério Público do Rio de Janeiro, eu te pergunto: essas duas vão responder por esse ato covarde ou não? Conta pra gente”, finaliza a advogada, que ainda convocou os seguidores para um “mutirão” de denúncias ao órgão.

Procurado pelo BHAZ, o MPRJ informou no início da tarde desta quarta-feira (31) que havia recebido, até então, 690 comunicações com denúncias relativas ao caso. “A notícia foi distribuída para a 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada da Capital, para análise do fato e adoção das medidas cabíveis”, esclarece o órgão.

Edição: Giovanna Fávero
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!