A vereadora Bruna Rodrigues (PCdoB), que foi vítima de ofensas por parte de uma manifestante antivacina na Câmara Municipal de Porto Alegre, registrou um boletim de ocorrência por racismo contra a mulher. “Tu é minha empregada”, disse a mulher em vídeo que viralizou nas redes sociais nessa quarta-feira (20).
A manifestante também chamou a vereadora de “lixo”, em meio a uma briga generalizada na Câmara provocada por pessoas que protestavam contra a exigência do passaporte vacinal na capital gaúcha. Um cartaz com uma suástica chegou a ser erguido na ocasião.
“Nem eu nem ninguém ali somos empregados. Somos representantes eleitos pela população. Mas, na hora em que ela olhou para mim e disse isso, com raiva, me dei conta do que estava acontecendo”, diz Bruna Rodrigues em entrevista ao UOL.
Segundo a vereadora, além de gritar as ofensas, a mulher ainda teria passado o dedo indicador sobre o braço, mostrando a cor da pele branca. “Ela queria dar um recado, foi como se dissesse: ‘Esse lugar, o plenário, a tribuna, não é teu’. A sociedade quer ver as mulheres negras só no lugar de quem serve”, completou.
‘Buscou as parlamentares negras’
Para a vereadora, há evidências que comprovam o racismo na atitude da manifestante. “Essa mulher buscou as parlamentares negras pra xingar”, pontua. Bruna Rodrigues ainda conta que já foi barrada de entrar na Câmara Municipal três vezes, reforçando o problema dentro da própria instituição.
Ela ainda reforçou que já foi empregada doméstica e que não considera a profissão um demérito. “Eu já fui. Minha mãe foi, hoje é gari. E tenho muito orgulho dela. Mas não é esse o único cargo que temos que ocupar”, diz.
Medo
Ainda na quarta-feira, a Câmara Municipal de Porto Alegre emitiu nota repudiando “com veemência qualquer tipo de manifestação política que utilize o expediente da violência”. Mas, para a parlamentar, isso não é suficiente.
“Nenhum parlamentar deveria ter medo de ir para a tribuna. Mas eu tenho medo. Manifestar isso é concretizar a ineficiência da proteção dada a nós”, afirma. Bruna Rodrigues também conta que recebe apoio de parlamentares negros e de movimentos sociais, mas que episódios como esse doem.
“Esse episódio de ontem, essa mulher, isso me marcou. Ela queria dizer o que sentia para mim porque a raiva é de quem eu sou, quem eu luto para ser, é da minha existência. Isso é muito cruel”, afirma. “Mas a única opção é ter força para seguir. Não faço isso só por mim, mas por todas as mulheres negras”, conlcuiu.