A deputada federal Célia Xakriabá (PSOL) denuncia ter sido alvo de comentários racistas durante um jantar, na noite de sábado (4), em Ouro Preto, na região Central de Minas. Ela cumpria agenda na cidade com duas assessoras quando ouviu as falas preconceituosas.
“Quando chegamos no restaurante, as pessoas que estavam ali, de maneira alta e em bom tom pra gente escutar, começaram a dizer: ‘olha como os índios estão hoje aí'”, recorda.
Incomodada com a situação, a deputada deixou a mesa e manifestou a vontade de ir embora com as assessoras. A dona do restaurante, porém, acabou se sensibilizando.
“Ela imediatamente prontificou um lugar próximo à cozinha. Chegou ali, nós ficamos lamentando”, conta. O grupo de mulheres decidiu denunciar o ocorrido na intenção de não naturalizar o racismo, segundo a parlamentar.
Confira o relato:
Conforme o boletim policial, um dos suspeitos disse ter feito os comentários com um turista francês que o acompanhava, sobre “a admiração em relação às pessoas indígenas que entraram no estabelecimento”. Disse ainda que Célia revelou, de forma “violenta”, que era deputada federal.
Embora Célia denuncie o ocorrido como crime de racismo, a Polícia Militar registrou a ocorrência como injúria racial. Por meio de nota ao BHAZ, a Polícia Civil informa que apura o caso. No momento da denúncia, a corporação dispensou os envolvidos ainda no local pela falta de testemunhas.
Racismo x injúria racial
Desde o início do ano, a injúria racial se equipara ao crime de racismo no Brasil. Agora, a prática é considerada imprescritível e inafiançável. A pena varia de dois a cinco anos de reclusão.
A lei enquadra uma série de situações como crime de racismo. Por exemplo: recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais. Já a injúria racial é a discriminação que não se dirige ao coletivo, mas a uma pessoa específica.
Trata-se do uso de palavras depreciativas referentes à raça ou cor com a intenção de ofender a honra da vítima. É o caso dos diversos episódios registrados no futebol, por exemplo, quando jogadores negros são chamados de “macacos” e outros termos ofensivos.
Por meio de nota, a Diretoria de Promoção da Igualdade Racial de Ouro Preto repudiou o ocorrido com Célia Xakriabá.
Nota da Polícia Civil na íntegra
“A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informa que, após tomar conhecimento da suposta prática de racismo contra uma deputada federal e suas assessoras, dentro de um restaurante, em Ouro Preto, no sábado (4/3), instaurou inquérito policial para apurar os fatos ocorridos. A PCMG esclarece que, no momento dos acontecimentos, a guarnição militar, responsável pelo atendimento, optou por dispensar os envolvidos ainda no local, sob os argumentos de ausência testemunhas e de divergências entre as versões das vítimas e do autor. A PCMG está realizando diligências com o intuito de elucidar os fatos. Outras informações serão repassadas ao longo das investigações.”
