Em meio a desastres, chuvas e pandemia, secretário de Cultura e Turismo de Minas detalha perspectivas do setor

Leônidas Oliveira
Leônidas Oliveira ainda comentou sobre o objetivo de descentralizar os recursos do estado (Amanda Dias/BHAZ)

A pandemia de Covid-19 impôs desafios aos setores de cultura e de turismo do mundo inteiro e em Minas Gerais não foi diferente. Já neste ano, com as chuvas e os desastres naturais que atingiram o estado, o turismo e cultura mineiros passam por novas dinâmicas. Em entrevista ao BHAZ, o secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira, detalhou planos e projetos para a recomposição dos setores, além de comentar sobre o objetivo de descentralizar os recursos do estado.

Reconstrução

A tragédia de Capitólio, as mais de 400 cidades em situação de emergência por causa das chuvas e o desabamento de casarões históricos em Ouro Preto são apenas alguns dos estragos registrados em Minas Gerais em pouco menos de dois meses em 2022.

De acordo com o secretário, as tragédias impactaram de forma absurda o turismo nas cidades. Em Capitólio, a Secult (Secretaria de Estado de Cultura e Turismo) desenvolveu um projeto conjunto com prefeituras, entidades militares, organizações de comércio e outras instâncias para reestabelecer a cidade.

A ação “Reviva Capitólio – Viva o Mar de Minas”, de acordo com Leônidas Oliveira, consiste em quatro eixos: o diagnóstico geológico; o ordenamento de um plano de manejo para uso dos cânions; a formação e o reposicionamento.

“Vamos abrir um edital específico para a promoção do Mar de Minas; traremos formação e capacitação em parceria com Sebrae e Fecomércio para reposicionar Capitólio nessa tragédia”, completa o secretário de Cultura e Turismo.

Patrimônio histórico

Segundo Leônidas, ainda há R$ 118 milhões previstos para serem investidos no patrimônio histórico mineiro neste ano. “Em Tiradentes, vamos lançar um edital do ‘Restaura Minas’ para calhas e telhados, e depois para pintura. Restaurar o patrimônio histórico tem que ser uma constante, e com apoio da sociedade civil”, diz.

O projeto “Restaura Minas” faz parte do plano “Recupera Minas“, que destinará recursos estaduais para ações de infraestrutura e suporte a pessoas e cidades afetadas pelos fortes temporais no estado.

“A chuva mostrou muito isso: para consolidar o bem e evitar que ele tenha problemas, temos que proteger calhas e telhados. Se tem encosta, temos que proteger a encosta”, diz Leônidas Oliveira, que ainda reforça que Minas Gerais possui 62% do patrimônio histórico tombado do Brasil.

O secretário ainda adiantou que a pasta vai lançar chamamentos para empresas que queiram investir no patrimônio histórico. “A importância do patrimônio é inquestionável. Ela é tão grande para a nossa cultura que gera emprego e renda em absoluto, porque as pessoas vão às cidades para conhecer, ele movimenta a economia criativa”, defende.

“É impossível amar a pátria Brasil sem amar seu patrimônio. E nosso patrimônio é originário do nosso povo, da mescla dele, das dores, das mazelas e das alegrias. E quando a cultura se transforma em partido político, é o maior dos erros. Porque aí ela para de ter seu entendimento amplo das diferenças, nas quais ela se fundamenta”, completa Oliveira.

Mineiridade e descentralização

“O que nos une é a mineiridade, há uma coisa comum”, argumenta o secretário ao defender que o acesso à cultura seja distribuído pelo estado. Segundo ele, 96% dos recursos estaduais de incentivo à cultura estão centralizados em Belo Horizonte, enquanto a maior parte da população mineira nunca foi ao teatro.

“A cultura tem a função de dar pertencimento, levar conhecimento, levar reflexão. Ela contribui para que pessoas possam entender os meandros da arte e criar mentes mais abertas, no sentido de respeito ao outro, à diversidade, às diferenças”, defende Leônidas Oliveira.

Segundo ele, foi só recentemente que diversos municípios mineiros criaram secretarias municipais de cultura, já que o setor costuma ser mais valorizado na capital e nas cidades do Circuito do Ouro, onde o turismo é mais forte.

Pensando nisso, a Secult propôs à ALMG (Assembleia Legislativa de Minas Gerais), em agosto do ano passado, o plano “Descentra Cultura“, que busca municipalizar e democratizar o acesso aos bens e serviços do setor.

Além de promover a cultura no interior, o secretário ainda aponta outro desejo: que Belo Horizonte se entenda como “a capital da mineiridade”. “Tem bares, restaurantes, cozinhas, bibliotecas, museus, ocupações urbanas: o turismo cultural em BH é uma grande alternativa, e eu desejo isso, que ela se entenda como uma cidade cultural”, diz.

Leônidas Oliveira falou ainda sobre Monte Verde, distrito que figura entre as cidades mais acolhedoras do mundo, e sobre o conceito de paisagem cultural definido pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

“É um elemento que propicia a existência de grupos culturais, cidades, territórios, regiões, povos, que estão num envoltório de uma paisagem modificada. Essa ideia faz com que, por exemplo, estar numa cachoeira em Minas seja muito diferente de estar em São Paulo. Monte Verde é um caso de invenção de paisagem”, começa.

Segundo o secretário, Monte Verde “não é e não quer ser genuinamente mineira”, por estar em um cenário que invoca mais a ideia de Europa do que uma experiência cultural de mineiridade.

“O turismo vê as coisas de forma mais mercadológica do que a cultura. Meu trabalho é entender que isso tudo faz parte da ideia de paisagem cultural, a partir disso conseguimos fazer uma transversalidade mais clara com a cultura, e entender que pessoas vêm a Minas para ter uma experiência de mineiridade”, completa.

Perspectivas

Ao BHAZ, o secretário de Cultura e Turismo também comentou sobre outras perspectivas para os setores neste ano, como o investimento no audiovisual e a criação de uma nova rota turística conectando Minas Gerais a outros estados.

Leônidas Oliveira defende que legados como os circuitos turísticos já estabelecidos, a Estrada Real e o programa de desenvolvimento da gastronomia mineira devem ter continuidade. Por outro lado, ele aponta novos olhares para a cultura e o turismo no estado.

“A Estrada Real, por exemplo, é uma ideia de cidades de um período histórico do Brasil que trouxe, enquanto fenômeno turístico, o patrimônio histórico dessas cidades. A ideia é muito presente no imaginário, você sabe que está fazendo esse percurso entre cidades. Então vamos dar esse selo de ‘cidades reais’ a elas”, explica.

Já o projeto “Via Liberdade”, lançado em outubro do ano passado em cooperação com os governos do Rio de Janeiro, de Goiás e do Distrito Federal, busca criar uma rota turística ao longo da BR-040, interligando as belezas históricas, culturais e artísticas entre os quatro estados.

“É uma trajetória em que se conta a história do Brasil, a história da modernidade, na arquitetura, na música, na poesia e na literatura. Você pode vê-la ao passar pela estrada, e nós estamos no epicentro dela em BH. A Via Liberdade significa conquista desse território”, detalha Leônidas Oliveira.

Outra perspectiva para 2022 é que a cozinha mineira seja reconhecida como patrimônio histórico do estado, e possivelmente do Brasil.

Audiovisual

O secretário de Cultura e Turismo afirma que este ano marca o maior número de municípios contemplados por recursos estaduais para o setor audiovisual e aponta um recorde de participações em projetos, apesar de um orçamento limitado.

“O estado de Minas Gerais não tem condições de financiar produções de R$ 8 milhões, R$ 10 milhões. Mas tem condições de financiar 100 de R$ 60 mil, que é um vídeo da cozinheira fazendo sua cozinha, ou do congado, ou da vida cotidiana. Que é muito o que se usa hoje”, diz Oliveira.

De acordo com ele, em um edital recente que oferecia 60 prêmios ao setor audiovisual, houve quase mil inscritos. “E é a primeira vez que um maior número de municípios recebe recursos do audiovisual, porque há uma desconcentração”.

“E ao desconcentrar os recursos, você desagrada. O que não pode é que grupos briguem com um processo que o próprio plano estadual de cultura estabelece, que é a descentralização. Oxalá o estado não tivesse chegado em recuperação fiscal, não estivesse quebrado, a Ancine não tivesse paralisado suas ações. No entanto, nós conseguimos pagar R$ 40 milhões ao audiovisual para editais que estavam há 4, 3 anos parados. Mas não temos condições de fazer produções de R$ 10 milhões”, finaliza.

Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

Roberth Costa[email protected]

De estagiário a redator, produtor, repórter e, desde 2021, coordenador da equipe de redação do BHAZ. Participou do processo de criação do portal em 2012; são 11 anos de aprendizado contínuo. Formado em Publicidade e Propaganda e aventureiro do ‘DDJ’ (Data Driven Journalism). Junto da equipe acumula 10 premiações por reportagens com o ‘DNA’ do BHAZ.

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