Condição análoga à escravidão: Operação resgata 30 trabalhadores em fazenda de café em Minas Gerais

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Trabalhadores atuavam em colheita de café em Lajinha, em Minas (MPT/Divulgação)

O Ministério Público do Trabalho (MPT) resgatou, na última semana, 30 trabalhadores que viviam em situação análoga à escravidão em uma fazenda de Lajinha, no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. O grupo, com 29 homens e uma mulher, era explorado na colheita de café.

O resgate ocorreu na última segunda-feira (3). Segundo o órgão, as vítimas ocupavam seis alojamentos e, dentre os problemas identificados, estavam risco de asfixia e ausência de paredes.

Os filhos do proprietário teriam contratado os trabalhadores por meio de pessoas interpostas, de acordo com o procurador do MPT no Espírito Santo, Marcos Mauro Buzato.

“Os trabalhadores foram aliciados em municípios de Alagoas, Bahia e Minas Gerais e só poderiam retornar às suas cidades após o final da colheita”, disse. Em alguns casos, eles chegavam em vans ou passagens pagas pelo produtor. Já outros custearam a viagem por conta própria.

Exposição ao frio e risco de asfixia

Estiveram à frente da operação um procurador, quatro auditores-fiscais do Trabalho da Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), uma da Defensora Pública Federal (DPU) e dois agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

A equipe de fiscalização apurou que a fazenda em Lajinha é reincidente na prática do aliciamento. O coordenador da operação, o auditor fiscal Claudio Secchin, relatou que as condições de moradia eram precárias.

As autoridades encontraram o risco de asfixia em um dos alojamentos, onde os trabalhadores dormiam na cozinha ao lado de um fogão a lenha.

Fazenda onde ocorreu o resgate (MPT/Divulgação)

Além disso, havia um alojamento sem paredes que expunha os trabalhadores ao frio intenso e ao risco de contato com animais ou pessoas estranhas. “Instalações elétricas improvisadas, expunham os trabalhadores a riscos de choques por contato com a rede energizada”, diz o órgão.

“Em quatro deles [alojamentos] a água disponível para o consumo era retirada diretamente de córregos e transferida para as caixas d’águas com emprego de bombas tipo “sapo”, sem qualquer tipo de tratamento para o consumo humano. Nenhum recurso de purificação de água era fornecido, filtros de barro ou purificador; eles também não tinham papel higiênico, cama, colchão, nem roupa de cama”, destaca Secchin.

Reparação individual e coletiva

Os empregadores não disponibilizavam refeitório ou banheiros na frente de trabalho. Desse modo, as vítimas precisavam se alimentar aos pés das árvores de café e fazer as necessidades no mato.

A fiscalização não encontrou documentação sobre os contratos de trabalho ou avaliações clínicas antes do início das atividades no local.

De acordo com o procurador do MPT, o empregador deve pagar cerca de R$ 170 mil aos 30 trabalhadores a título de verbas trabalhistas; dois salários mínimos a cada um como reparação por dano moral individual – o que totalizou R$ 79 mil –, e o pagamento de R$ 50 mil como reparação por dano moral coletivo, determinado pelo MPT.

A auditoria fiscal emitiu as guias de Seguro-Desemprego do Trabalhador Resgatado, pelas quais cada um dos resgatados tem direito a receber três parcelas de um salário-mínimo cada.

Além disso, o empregador também arcou com o retorno dos trabalhadores de Lajinha às cidades de origem. Cada um recebeu entre R$ 300 e R$ 400.

Condição análoga à escravidão

Dos 2.575 trabalhadores em condições análogas à escravidão resgatados em 2022 em todo o país, 1.070 estavam em Minas Gerais, o que equivale a cerca de 41% do total. Desde 2017, o número de trabalhadores resgatados triplicou, chegando a quase 2 mil pessoas anualmente.

Com ações ainda em andamento ocorridas em 2022, esse quantitativo pode vir a ser retificado ao longo de 2023.

De acordo com levantamento divulgado pelo Ministério do Trabalho e Previdência, 462 fiscalizações foram realizadas no Brasil em 2022, resultando em mais de R$ 8 milhões de reais em direitos trabalhistas.

Segundo a pasta, o maior resgate de trabalhadores ocorreu em Varjão de Minas, no Alto Paranaíba, onde 273 trabalhadores foram resgatados de condições degradantes de trabalho na atividade de corte de cana-de-açúcar.

Edição: Giovanna Fávero
Nicole Vasques[email protected]

Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escreve para o BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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