Político que disparou ataques homofóbicos contra nova secretária de Itabira é indiciado

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Político afirma que está sendo vítima de ‘inquisição identitária’ (Reprodução/Dalton Albuquerque/Facebook)

Dalton Albuquerque, presidente do PSC (Partido Social Cristão) de Itabira foi indiciado por ataques homofóbicos contra a nova secretária de Educação do município. O político da cidade, na região Central de Minas, compartilhou nas redes sociais um vídeo em que ataca a sexualidade da responsável pela pasta e ironiza a população LGBTQIA+. Nesta terça-feira (8), a Polícia Civil concluiu que Dalton promoveu discurso de ódio e incitou a discriminação.

No vídeo, publicado em fevereiro deste ano, o homem afirma que a intenção dele é “questionar e ao mesmo tempo alertar a sociedade de um risco iminente nas escolas itabiranas”. Ele também afirma que caberia ao prefeito municipal “zelar pela integridade da família”. Tal posicionamento, conforme apurado pela Polícia Civil, deve-se unicamente à orientação sexual da secretária, que é lésbica.

Discriminação, hostilidade e violência

Durante interrogatório, o investigado foi questionado sobre o fato de sempre utilizar frases de ordem nas postagens, como “se você AMA seu filho, DEFENDA-O”. Ele afirmou ter se baseado em uma reportagem jornalística para gravar o vídeo, bem como em comentários que leu nas redes sociais. Entretanto, quando confrontado a apontar as informações citadas, o homem alegou que se tratava de uma interpretação pessoal sobre o que foi publicado pela imprensa.

O investigado ainda foi questionado pelos policiais sobre o alerta que fez quanto à necessidade de os pais defenderem os filhos. Ele respondeu que “se trata de uma chamada geral para que os pais atentem-se à má educação que seus filhos podem receber nas escolas”, já que “todo o pai deve proteger o filho”.

Para o delegado responsável pela investigação, Diogo Luna Moureira, a conduta do investigado, além de promover o discurso de ódio, incita a discriminação, a hostilidade e a violência contra pessoas em razão da orientação sexual ou identidade de gênero.

“A incitação da discriminação evidencia-se pelo uso de imagens e vídeos de manifestações sociais, representativas da luta por reconhecimento e por direitos pelas pessoas LGBTQIA+, associadas a frases de ordem e incitadoras de repúdio social; tudo isso sob o som da música I Will Survive, hit que, além de ser usado como marca do empoderamento feminino na luta por igualdade na década de 70, acabou sendo lema de resistência da comunidade LGBTQIA+”, disse o delegado.

“O dissenso acerca do reconhecimento de direitos e do alinhamento de políticas públicas pode existir em uma democracia madura e sadia, desde que ancorado no respeito pela diversidade constitutiva da comunidade política”, concluiu Diogo.

Relembre o caso

O vídeo publicado por Dalton Albuquerque reúne fotos e vídeos da população LGBTQIA+ ao som de “I Will Survive”, de Gloria Gaynor. Também aparecem referências pejorativas, como um sapato grande nas mãos do prefeito Marco Antônio Lage (PSB). A publicação aconteceu depois que a Prefeitura indicou Laura Souza para o comando da secretaria municipal de Educação.

“O prefeito, com apoio da Câmara, preparou uma surpresa de volta às aulas para seus filhos: uma secretária de educação que vai doutriná-los”, diz o texto no vídeo, que mostra uma foto de Laura com uma tarja nos olhos.

“Vida pessoal não interessa a ninguém. Mas o senhor prefeito tem que zelar pela integridade da família itabirana”, finaliza. “Me sinto no dever público de sinalizar aos pais, o que seus filhos, poderão vivenciar em salas de aulas no município”, escreveu Dalton Albuquerque ao publicar o vídeo.

Prefeitura repudia

A prefeitura condenou a publicação e reforçou o convite feito para Laura Souza assumir a pasta. Por meio de vídeo divulgado nas redes sociais, o prefeito Marco Antônio Lage repudiou os ataques à nova secretária e afirmou que a administração municipal está tomando medidas legais para ampará-la.

“Itabira é uma cidade solidária, progressista, moderna, de gente trabalhadora. E para essas pessoas trabalhadoras, para seus filhos, nós vamos trabalhar por uma educação pública de qualidade. Nossa solidariedade à Laura e abaixo à maldade, à política oposicionista, que soltou um vídeo apócrifo absurdamente agressivo”, diz ele.

Dalton mantém publicações

Apesar do indiciamento, o vídeo foi mantido por Dalton Albuquerque em sua página oficial. No perfil, o político ainda faz novas publicações criticando a nomeação de Laura Souza. “O Conselho e a nomeação de militante LGBTQIA+, para a Secretaria de Educação, deixarão as escolas vulneráveis às manifestações, palestras e DOUTRINAÇÃO. Pais e mães vocês querem isso para seus filhos?”, escreveu ele, em uma postagem em que afirma que está sendo vítima de “inquisição identitária”.

O BHAZ tentou contato com o diretório do PSC em Minas, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

Edição: Giovanna Fávero
Guilherme Gurgel[email protected]

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Escreve com foco nas editorias de Cidades e Variedades no BHAZ.

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