‘Comentário nojento e indigno’: Parlamentares repudiam deboche de Eduardo Bolsonaro à jornalista Miriam Leitão

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A jornalista Miriam Leitão foi torturada enquanto estava grávida, durante o período de repressão (Reprodução/Leonardo Marques/ASCOM/MCTI + Reprodução/@miriamleitao7/Instagram)

Parlamentares repudiam, desde esse domingo (3), uma publicação em que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL) debocha da tortura sofrida pela jornalista Miriam Leitão durante a ditadura militar. Por meio do Twitter, o filho de Jair Bolsonaro (PL) postou uma resposta a um artigo escrito por Miriam, em que ela define o presidente da República como “inimigo confesso da democracia”.

Tudo começou quando a apresentadora publicou em seu perfil um texto intitulado “Única via possível é a democracia”, divulgado em sua coluna no O Globo, no qual comentar sobre os impasses deste ano nas eleições presidenciais que podem reeleger Jair Bolsonaro.

Em gesto alusivo a sessões de tortura que a profissional sofreu – nas quais era deixada com uma jiboia em uma sala escura por horas a fio, quando estava grávida -, Eduardo Bolsonaro publicou: “Ainda com pena da [emoji de cobra]. Nos comentários, o parlamentar foi duramente repreendido.

Comentário ‘nojento e indigno’

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pré-candidato às eleições deste ano, foi um dos que prestaram apoio à jornalista. “Minha solidariedade à jornalista Miriam Leitão, vítima de ataques daqueles que defendem o indefensável: as torturas e os assassinatos praticados pela ditadura. Seres humanos não precisam concordar entre si, mas comemorar o sofrimento alheio é perder de vez a humanidade”, escreveu.

“Difícil saber quem é o pior dos torturadores. O que fere primeiro ou o que reacende a chaga da memória sempre aberta de um torturado. Ao debochar de Miriam Leitão (@miriamleitao), o verme Eduardo Bolsonaro nos provoca esta sombria reflexão”, declarou o também pré-candidato à presidência Ciro Gomes (PDT).

A deputada federal Natália Bonavides (PT) declarou que apresentará uma denúncia ao Conselho de Ética em virtude do desrespeito de Bolsonaro. “A Câmara dos Deputados não pode aceitar que um deputado deboche dos crimes da ditadura. A solidariedade a Miriam Leitão, torturada aos 19 anos e grávida, precisa ser a punição de Eduardo Bolsonaro. Apresentaremos denúncia ao conselho de ética!”, publicou.

Confira os principais tuítes abaixo:

Em resposta aos colegas de profissão e parlamentares que prestaram solidariedade a ela, Miriam agradeceu. “Fui envolvida por uma onda forte, boa e carinhosa desde domingo. Eu agradeço a todas as pessoas que se manifestaram aqui e por outros caminhos. As mensagens me fortalecem e me ajudam a ter esperança no Brasil e no futuro da democracia, que nos custou tão caro”, escreveu em seu perfil.

Ministério da Defesa celebra golpe de 1964

Durante a transmissão do telejornal da Globonews, no dia em que o golpe militar completava 58 anos no Brasil, Miriam refutou fake news divulgadas em nota do Ministério da Defesa. O texto alusivo ao dia 31 de março de 1964 analisa o golpe militar como “um marco histórico” para a evolução da política brasileira, além de celebrar o papel de militares e civis, que supostamente deixaram um “legado de paz, liberdade e democracia”.

“Essa nota tem uma coleção de mentiras. Essa nota será lida em todos os quartéis, é assinada pelos três comandantes das Forças Armadas. Dentro da divisão das Forças Armadas, há uma hierarquia. Tem que se respeitar a palavra do chefe, do comandante. E eles estão mentindo para os milhares de militares brasileiros”, disse a jornalista.

Miriam prosseguiu, destacando que a sociedade não conduziu o Brasil por 21 anos, mas sim os militares e os generais. Além disso, esse grupo “rasgou” a Constituição vigente até então e construiu um novo conjunto de regras, que também foi eliminado. “O AI-5 [Ato Institucional nº 5] elimina qualquer resquício de democracia, suspende todas as garantias. Dentro dos quartéis do Exército da Marinha e da Aeronáutica foram instaladas máquinas de prisão, tortura, morte e ocultação de cadáveres”, disse em outro trecho.

Miriam Leitão já havia comentado sobre as torturas que sofreu na época de repressão militar, que foi sustentada por mais de duas décadas no Brasil. Segundo O Globo, o chefe da equipe de torturadores de Miriam usava uma cobra apelidada com o nome dela durante os interrogatórios, o que apavorava a jornalista.

À época, a ex-militante do PCdoB passava horas com terror da serpente e procurava não se mexer para manter o animal afastado dela. Miriam foi retida no quartel do Exército em Vila Velha, no Espírito Santo, e já precisou ficar nua em frente a 10 soldados e três agentes da repressão.

Nicole Vasques[email protected]

Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escreve para o BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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