Jornalista da Globo discursa sobre estupro e viraliza: ‘Você conhece uma mulher que já foi estuprada’

Reprodução/Instagram/@jessicasenra

A apresentadora baiana Jéssica Senra, conhecida por expor suas opiniões e atacar injustiças sociais no telejornal da Rede Globo, voltou a se destacar nas redes sociais. Desta vez, o assunto que a jornalista levou à bancada do Bahia Meio Dia foi o estupro. Ela criticou a tipificação incorreta do crime em vários casos e, em um discurso forte, lembrou cada etapa que pode levar vítimas a desistirem de denunciar os agressores.

“Eu tenho certeza que você conhece uma mulher que já foi estuprada. Aliás, com certeza você conhece mais de uma. É bem possível que você não saiba. Sua amiga, sua irmã, sua colega de trabalho foram estupradas. As mulheres que foram abusadas ou estupradas estão em todo lugar”, disse a apresentadora. O comentário foi feito após a exibição de uma reportagem sobre uma jovem que sofreu um estupro e resolveu denunciar.

Entre as questões levantadas por Jéssica, estava a tipificação do crime de estupro, que, muitas vezes, acaba agindo como uma ferramente para silenciar vítimas. “Neste caso [da reportagem] é um estupro de vulnerável, ela estava dormindo. Não é estupro simplesmente, é um estupro de vulnerável, isso não é importunação sexual”.

Ver essa foto no Instagram

Uma mulher que dormia em sua própria casa acordou com um homem em cima dela praticando atos libidinosos – obviamente sem seu consentimento. O delegado tipificou o crime como “importunação sexual” (pena de 1 a 5 anos de prisão) por entender que não houve violência (requisito para tipificação como estupro). No entanto, o Código Penal prevê, para casos como este, o crime de “estupro de vulnerável”, já que por sua condição (dormindo) a vítima não podia oferecer resistência – e por isso não se usa a violência. A pena vai de 8 a 15 anos de prisão. O erro do delegado é apenas uma das inúmeras injustiças que uma vítima de estupro pode sofrer quando resolve denunciar. Mais de 50 mil mulheres registram ocorrência de estupro por ano no Brasil, de acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em 2018, foram 53.726. Segundo o mesmo documento, estima-se que este número represente apenas 7,5% dos casos reais. O que significa que o número pode chegar a cerca de 700 mil mulheres estupradas por ano no Brasil. 700 mil mulheres estupradas por ano. Por que as mulheres silenciam? Por vergonha, por medo do julgamento, por medo de retaliação do agressor, por achar (saber) que não dá em nada… por uma cultura que coloca a mulher que denuncia um estupro em julgamento. A vítima de estupro geralmente é julgada junto com o agressor. E não raras vezes é condenada (socialmente) em seu lugar. É difícil combater um problema quando a maior parte dele está escondida. Quando se finge que ele não existe. Quando se criminaliza a vítima. Portanto, que nós – mulheres e homens – pensemos mais e mudemos nossas atitudes diante de mulheres que denunciam agressões sexuais. Uma vítima de estupro passa por um imenso trauma. Não devemos fazer com que isso seja maior. Acolhamos, pois, as nossas irmãs. #NãoAoEstupro

Uma publicação compartilhada por Jessica Senra (@jessicasenra) em

Ela ainda citou todas as partes do processo de denúncia de um estupro, explicando como cada uma delas pode acabar sendo usada contra a vítima. Desde o início da denúncia na delegacia, onde agentes e delegados fazem perguntas que silenciam as mulheres, até o estigma que fica inevitavelmente associado à mulher, passando por vários possíveis cenários que anulam o depoimento de uma mulher, Jéssica explicou, em rede nacional, como uma vítima é silenciada.

“Se ela teve a reação que a maioria teria, de querer se lavar para se livrar do nojo da violência, ela vai ser desmentida. Se ela teve uma reação possível de ter ficado imóvel durante o estupro por medo de ser agredida ou porque tava dormindo, a falta de marcas de violência vai fazê-la ser desmentida. Se ela estava desacordada porque foi drogada, porque bebeu demais, novamente ela vai ser desmentida. se o estupro foi cometido por alguém com dinheiro, com fama, com relacionamentos poderosos, novamente ela vai ser desmentida. E em qualquer dos casos ela vai ser julgada”, acrescentou a jornalista.

Levando todos estes fatores em consideração, Jéssica ainda terminou o discurso reforçando um dever social: “Quando uma mulher tem a coragem, como essa jovem, de denunciar, todos nós precisamos ampará-la”.

Jéssica já havia se posicionado em diversos casos anteriormente. Entre eles, um crime cometido contra um homem que beijou outro rapaz em um bar e a polêmica da volta do goleiro Bruno aos campos de futebol após o assassinato de Eliza Samúdio.

+ Apresentadora da Globo liga agressão homofóbica a machismo e viraliza

+ Jornalista da Globo critica volta de goleiro Bruno ao futebol: ‘Feminicida na posição de ídolo’

Giovanna Fávero[email protected]

Editora no BHAZ desde março de 2023, cargo ocupado também em 2021. Antes, foi repórter também no portal. Foi subeditora no jornal Estado de Minas e participou de reportagens premiadas pela CDL/BH e pelo Sebrae. É formada em Jornalismo pela PUC Minas e pós-graduanda em Comunicação Digital e Redes Sociais pela Una.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!