Substâncias tóxicas em água da Backer viram ponto de conflito entre cervejaria e investigação

Amanda Dias/BHAZ

A Backer e o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) divergem sobre a presença das substâncias tóxicas dietilenoglicol e monoetilenoglicol na água utilizada na produção das cervejas da marca. Nesta terça-feira (4), a cervejaria divulgou um laudo da Polícia Civil que atesta a ausência do produto no tanque de água da empresa. No entanto, o ministério reafirma que as substâncias foram localizadas no recipiente.

Outra questão apontada pelo laudo é que o contaminante dietilenoglicol foi encontrado no tanque de refrigeração da cervejaria. Desde o início das investigações, a Backer nega que utiliza a substância, alegando que somente o monoetilenoglicol é usado no processo de resfriamento da cerveja. Procurada pelo BHAZ, a assessoria da empresa reafirmou que não usa o dietileno. Apesar disso, não explicou o motivo de a substância ter sido detectada no laudo da Polícia Civil – divulgado pela própria Backer.

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Divergência

Produzido no dia 11 de janeiro pela Polícia Civil, o laudo diz que não foram encontradas as substâncias nos tanques de água. A veracidade do documento foi confirmada pela corporação, que não comentará o que consideram ser um “resultado isolado”.

“Ainda não há previsão para a conclusão da maioria dos laudos. Os que estão prontos já foram disponibilizados para os advogados da empresa, atendendo aos princípios constitucionais e modernos atinentes ao inquérito policial. A PCMG não vai comentar nenhum resultado isoladamente e falará sobre os exames, em momento oportuno, para não atrapalhar os trabalhos”, disse a polícia em nota (confira na íntegra abaixo).

Independente do laudo, o Mapa disse ter localizado o contaminante nas amostras de água um dia antes, na data de 10 de janeiro. O ministério reiterou a informação nesta terça-feira (4). “O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) informa a detecção de traços dos contaminantes dietilenoglicol e monoetilenoglicol nas análises realizadas nas amostras de água residual do trocador de placas e do tanque de água fria. As amostras foram colhidas no dia 10/01/2020 pelo Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal/Mapa”, diz a nota na íntegra.

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A Backer, por sua vez, explicou o laudo e o associou ao estudo encomendado pela empresa e divulgado em janeiro, que também não encontrou a substância nos tanques de água. O assunto foi comentado em nota enviada à imprensa.

“Sobre os laudos da Polícia Civil, os pontos B e C são locais onde realmente fica a sustância monoetilenoglicol no processo de refrigeração. Por isso o laudo da polícia está correto. Já o ponto A diz respeito a água do tanque de refrigeração de brassagem para a preparação do mosto. E conforme o laudo da polícia, nesse item A, não foi identificada substâncias de interesse criminalístico. O laudo do Departamento de Química da UFMG, datado de 17/01/20, ou seja, seis dias após o laudo expedido pela Polícia Civil, confirma a não contaminação da água”, diz a nota.

Divulgação/Backer

O BHAZ tentou contato com o professor Bruno Botelho, responsável pelo estudo encomendado pela Backer. Por telefone, o químico se negou a responder os questionamentos da reportagem, principalmente se o estudo explica ou não a presença das substâncias nas garrafas de cerveja, e disse que apenas a empresa pode responder às perguntas.

Conforme o Mapa já havia explicado, a discussão sobre a substância tóxica é secundária, já que o tanque de refrigeração é externo e, portanto, não deveria ter contato com o mosto – mistura de grãos que tem como produto final a cerveja. Diante disso, ainda não há explicações para como as substâncias tóxicas foram parar dentro da garrafa de cerveja, o que o ministério considera a questão central das investigações.

O laudo divulgado pela Backer faz parte das investigações dos 30 casos suspeitos de intoxicação exógena por dietilenoglicol em Minas. Ele apresenta fotos da investigação, além dos nomes das vítimas. As autoridades mantinham em sigilo, ao longo de toda a investigação, as identidades dos envolvidos a fim de preservar as famílias.

Segundo a SES-MG (Secretaria de Estado de Saúde), dos 30 casos suspeitos de intoxicação seis mortes são investigadas. A intoxicação pela substância já foi confirmada em uma delas. Outros cinco seguem em análise.

O Mapa ordenou que a Backer suspendesse a venda de suas cervejas e recolhesse os rótulos do mercado. Segundo o ministério, os contaminantes etilenoglicol ou dietilenoglicol foram encontrados em 41 lotes de cerveja de dez rótulos da empresa.

Nota da Backer

“Laudos do Instituto de Criminalística da Polícia Civil e do Departamento de Quimica da UFMG atestam que a água utilizada pela Backer na fabricação de seus produtos não está contaminada.

Sobre o laudos da Polícia Civil, os pontos B e C são locais onde realmente fica a sustância monoetilenoglicol no processo de refrigeração. Por isso o laudo da polícia está correto. Já o ponto A diz respeito a água do tanque de refrigeração de brassagem para a preparação do mosto. E conforme o laudo da polícia, nesse item A, não foi identificada substâncias de interesse criminalístico. O laudo do Departamento de Química da UFMG, datado de 17/01/20, ou seja, seis dias após o laudo expedido pela Polícia Civil, confirma a não contaminação da água.

A Backer reforça que o monoetilenoglicol é utilizado somente na parte externa dos tanques de fermentação e maturação da cerveja, etapas que são posteriores ao resfriamento do mosto. O trocador de placas não participa desse processo.

A empresa utiliza um pré-trocador menor de água, na temperatura natural, e depois o trocador normal, que usa apenas água gelada. Com esse sistema, a cervejaria consegue resfriar o mosto sem precisar usar o líquido refrigerante ou um trocador de dois estágios. Em momento algum, a Backer usa monoetilenoglicol  ou qualquer outro líquido refrigerante, que não seja a água pura, para fazer a troca térmica desse sistema.

Outra informação é que o tanque de refrigeração de brassagem contém apenas água gelada, sem contato com nenhum produto químico. Tanque de refrigeração dos tanques: sistema que leva a solução refrigerante que circunda externamente os tanques de fermentação e não tem contato com o produto final (cerveja)”.

Nota da PCMG

Já chegam a 29 dias (diligências preliminares – 05/01 + Instauração de inquérito 08/01), as investigações sobre a síndrome nefroneural provocada por contaminação de cerveja, que acabou culminando na morte de 6 pessoas, até hoje (04/02).

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informa que já ouviu 24 pessoas, entre vítimas e familiares. O objetivo é entender sobre os acontecimentos que antecederam à intoxicação.

Exames de laboratório

As amostras recolhidas tanto na cervejaria, quanto da empresa química que vendia o monoetilenoglicol, continuam sendo analisadas pelas equipes de peritos do Instituto de Criminalística (IC), de forma criteriosa.

Ainda não há previsão para a conclusão da maioria dos laudos. Os que estão prontos já foram disponibilizados para os advogados da empresa, atendendo aos princípios constitucionais e modernos atinentes ao inquérito policial. A PCMG não vai comentar nenhum resultado isoladamente e falará sobre os exames, em momento oportuno, para não atrapalhar os trabalhos.

Necropsia

Os laudos de necropsia também estão em fase de elaboração.

Casos anteriores

A PCMG atua em coordenação com a Secretaria de Estado de Saúde, que relaciona os casos, de acordo com os sintomas detectados pelos médicos, inclui na lista e passa para a PCMG. Atualmente, há 30 casos em investigação por parte da 4ª Delegacia de Polícia Barreiro, sob responsabilidade do Delegado Flávio Grossi. Não há, até o momento, nenhum caso anterior ao mês de outubro de 2019, em investigação.

Prazo para a conclusão

O titular do inquérito avalia a necessidade de pedir dilação de prazo, devido à complexidade do caso. Ainda não há previsão para a conclusão das investigações.

Exumação do corpo

O pedido para exumar o corpo da mulher falecida em 28/12/2019 foi encaminhado à Justiça, que realiza a análise”.

Nota do Mapa

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) informa a detecção de traços dos contaminantes dietilenoglicol e monoetilenoglicol nas análises realizadas nas amostras de água residual do trocador de placas e do tanque de água fria. As amostras foram colhidas no dia 10/01/2020 pelo Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal/Mapa”.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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